Navegar na história a bordo de um veleiro

Passaram 500 anos desde que a Expedição Magalhães-Elcano partiu de Sevilha, em Agosto de 1519, para aquela que seria a primeira volta ao mundo. A efeméride serve de pretexto para a realização, a bordo do veleiro ÍBERO III, de um conjunto de visitas de divulgação histórica, apoiadas pela Fundação “la Caixa”, em colaboração com o BPI. Estão preparados para a viagem?

Foto
D.R.

Sevilha, Agosto de 1519. Cinco navios, 240 tripulantes e um único objectivo: chegar às Molucas, ilhas onde abundam as especiarias, que - na época - se vendiam a preço de ouro. Aquela que ficou conhecida como Expedição Magalhães-Elcano, partiu sem saber que viria a representar um marco na história, ao descobrir o Estreito de Magalhães, atravessar o Oceano Pacífico e realizar a primeira volta ao mundo. 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Sevilha, Agosto de 1519. Cinco navios, 240 tripulantes e um único objectivo: chegar às Molucas, ilhas onde abundam as especiarias, que - na época - se vendiam a preço de ouro. Aquela que ficou conhecida como Expedição Magalhães-Elcano, partiu sem saber que viria a representar um marco na história, ao descobrir o Estreito de Magalhães, atravessar o Oceano Pacífico e realizar a primeira volta ao mundo. 

Agora, o veleiro ÍBERO III atraca em Lisboa para contar como foi a primeira volta ao mundo. No âmbito do V Centenário da Expedição Magalhães-Elcano, a Fundação “la Caixa”, através do programa EduCaixa e em colaboração com o BPI, promove sessões de divulgação histórica a bordo daquele veleiro, numa perspectiva pedagógica e enfatizando os valores da vida no mar. 

“Esta iniciativa enquadra-se na linha de acção de Disseminação da Cultura e da Ciência da Fundação “la Caixa”. Uma das vertentes passa por apoiarmos projectos que nos são apresentados e se encaixam na prioridade de levar a cultura e a ciência próximo das populações. Elegemos todos os anos aqueles que nos parecem ter encaixe pela temática, pela relevância. Decidimos apoiar este projecto pelas características que tem e pela importância da vertente educativa. Esta temática de duas potências rivais que se juntam para fazer uma exposição que, ao fim ao cabo, ligou o mundo, e que simboliza uma grande aventura e descoberta, alia-se à temática da vida a bordo, aos valores necessários para que uma tripulação se junte e faça um périplo desta natureza”, comentou Maria João Cabral, directora de Gestão Territorial da Fundação “la Caixa” em Portugal, na apresentação da iniciativa à imprensa.

Das técnicas náuticas aos valores da navegação

As acções de divulgação itinerantes, organizadas pelo historiador e jornalista Ramón Jiménez Fraile, têm por objetivo dar a conhecer a expedição ao público escolar de duas maneiras: por um lado, mostrar as técnicas náuticas do século XVI e examinar mais aprofundadamente a aventura de explorar o mundo, e, por outro, enfatizar os valores da navegação, aplicáveis a qualquer âmbito: liderança, trabalho em equipa, cooperação e responsabilidade, respeito pelos companheiros e predisposição para ajudar em qualquer circunstância.​

Prevê-se a participação de mais de 3000 alunos nas actividades realizadas nas cinco escalas (Sanlúcar de Barrameda, Sevilha, Lisboa, Valência, Barcelona). Os monitores utilizarão material educativo para explicar o contexto histórico da expedição, a sua rota e os factores que a motivaram. Esta “constitui uma oportunidade única para examinar o significado histórico de uma das aventuras mais emocionantes da Humanidade”, salienta Xavier Bertolín, director da Área de Acção Comercial e Educativa da Fundação “la Caixa”.

Da península ibérica para o mundo

Abrir uma nova rota para chegar às “Ilhas das Especiarias”, este era o grande objectivo da expedição liderada pelo português Fernão de Magalhães, que contemplava além de 139 espanhóis, 31 portugueses, 26 italianos, 19 franceses, 9 gregos, 5 flamengos, 4 alemães, 2 irlandeses e 1 inglês. Uma viagem que deveria seguir para Ocidente, mas sempre respeitando o Tratado de Tordesilhas, o acordo assinado entre Portugal e Espanha que dividiu o mundo em dois hemisférios. Foi nesta viagem que Fernão de Magalhães perdeu a vida, após realizar a primeira travessia do Oceano Pacífico, num combate com nativos nas Filipinas. No entanto, o basco Juan Sebastián Elcano assumiu o comando do navio depois de chegar ao Arquipélago das Molucas, regressando a Sanlúcar de Barrameda três anos após a partida, tendo realizado assim a primeira volta ao mundo.

Conforme explica o organizador da acção de divulgação, Ramón Jiménez Fraile: “As técnicas da época não permitiram demonstrar de forma inequívoca que as Molucas se encontravam no hemisfério espanhol (de facto, não se encontravam), mas o imperador Carlos V reivindicou o feito como espanhol. A venda das especiarias que Elcano trouxe das Molucas permitiu suportar os custos da expedição, que contou com o importante financiamento de Cristóbal de Haro, comerciante de Burgos”.​

Com um papel preponderante de Portugal e Espanha, esta expedição insere-se num “relato ibérico e europeu” e é um exemplo de “trabalho em equipa e capacidade de adaptação às circunstâncias”, salienta o comissário Ramón Jiménez Fraile. O que o público irá retirar da experiência “dependerá da capacidade de assombro e curiosidade de cada pessoa”, mas deverá passar pelo “conhecimento, espírito de aventura e capacidade de mudar as coisas”.