Uma vida

Um dos melhores livros publicados em Portugal em 2020.

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Ernaux rejeita que se confunda a sua obra com um qualquer programa autoficcional Editions Gallimard

Não deixa de ser subtilmente perturbador e desafiante reencontrar (finalmente) Annie Ernaux (n. 1940) publicada em português na colecção de ficção “Dois Mundos” (Hemingway, Faulkner, Steinbeck, Camus, Kafka, etc.). Desde O Lugar (1983) — primeiro livro da autora publicado em Portugal, em 1987, pela editora Fragmentos — que Ernaux rejeita que se confunda a sua obra com um qualquer programa ficcional, ou sequer autoficcional (de reconhecida fortuna em França). No repertório da histórica colecção da Livros do Brasil encontramos igualmente Proust, um assumido ascendente da autora de Os Anos (2008). Porém, em Ernaux, a obsidiante e fragmentada recordação do tempo vivido não desagua numa proustiana transfiguração literária da memória. Como “todas as imagens irão desaparecer” (p. 9), a autora quer apenas “salvar qualquer coisa do tempo onde não voltaremos a estar” (p. 196). Não sabemos se o desejo de Ernaux é mais ou menos ambicioso do que o de Proust, mas sabemos que Os Anos (título acidentalmente woolfiano) é um dos melhores livros publicados em Portugal em 2020.

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Não deixa de ser subtilmente perturbador e desafiante reencontrar (finalmente) Annie Ernaux (n. 1940) publicada em português na colecção de ficção “Dois Mundos” (Hemingway, Faulkner, Steinbeck, Camus, Kafka, etc.). Desde O Lugar (1983) — primeiro livro da autora publicado em Portugal, em 1987, pela editora Fragmentos — que Ernaux rejeita que se confunda a sua obra com um qualquer programa ficcional, ou sequer autoficcional (de reconhecida fortuna em França). No repertório da histórica colecção da Livros do Brasil encontramos igualmente Proust, um assumido ascendente da autora de Os Anos (2008). Porém, em Ernaux, a obsidiante e fragmentada recordação do tempo vivido não desagua numa proustiana transfiguração literária da memória. Como “todas as imagens irão desaparecer” (p. 9), a autora quer apenas “salvar qualquer coisa do tempo onde não voltaremos a estar” (p. 196). Não sabemos se o desejo de Ernaux é mais ou menos ambicioso do que o de Proust, mas sabemos que Os Anos (título acidentalmente woolfiano) é um dos melhores livros publicados em Portugal em 2020.