António Guterres: ameaça climática é “muito mais grave” do que a pandemia
Estados “devem agir juntos face à ameaça climática”, que é “muito mais grave do que a pandemia em si”, disse o secretário-geral da ONU à AFP. “Ou estamos unidos ou estamos perdidos.”
O secretário-geral da ONU alertou nesta terça-feira que o mundo estará “perdido” caso não exista uma união de forças entre os Estados para combater as alterações climáticas, afirmando ainda que a actual pandemia ilustra os danos provocados pela desunião.
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O secretário-geral da ONU alertou nesta terça-feira que o mundo estará “perdido” caso não exista uma união de forças entre os Estados para combater as alterações climáticas, afirmando ainda que a actual pandemia ilustra os danos provocados pela desunião.
“Acredito que o fracasso em conter a propagação do vírus [novo coronavírus], porque não houve coordenação internacional suficiente, (...) deve fazer com que os países compreendam que devem mudar de rumo”, disse António Guterres, em declarações à agência France Presse (AFP), a uma semana da abertura da 75.ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 15 de Setembro.
À agência noticiosa francesa, Guterres defendeu que os Estados “devem agir juntos face à ameaça climática”, que é “muito mais grave do que a pandemia em si”. “É uma ameaça existencial para o planeta e para as nossas próprias vidas”, insistiu. “Ou estamos unidos ou estamos perdidos”, avisou o secretário-geral da ONU, apelando, em particular, à adopção de “verdadeiras medidas de transformação nos domínios da energia, transportes, agricultura, indústria, no nosso modo de vida, sem as quais estamos perdidos”, frisou ainda.
Por causa da pandemia do novo coronavírus, várias reuniões internacionais sobre questões ambientais que estavam agendadas para este ano tiveram de ser adiadas, suscitando receios de novos atrasos na luta contra as alterações climáticas. Por exemplo, a 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26), que pretendia relançar o Acordo de Paris (após o anúncio da retirada dos Estados Unidos em 2017), estava prevista para este ano em Glasgow (Escócia, Reino Unido) e foi adiada para Novembro de 2021.
O objectivo principal do Acordo de Paris é limitar o aumento da temperatura média mundial “bem abaixo” dos 2ºC em relação aos níveis pré-industriais e em envidar esforços para limitar o aumento a 1,5ºC. O alcance de tal meta está assente na aplicação de medidas que limitem ou reduzam a emissão global de gases com efeito de estufa.
Apesar do confinamento em massa registado a nível mundial por causa da pandemia da doença covid-19 ter desencadeado uma quebra nas emissões (até 8% a nível mundial, segundo algumas estimativas), os cientistas já salientaram que o desenvolvimento global não irá abrandar sem mudanças sistémicas, particularmente nas áreas da energia e da alimentação. De acordo com os especialistas da área do ambiente da ONU, as emissões de gases com efeito de estufa teriam de diminuir 7,6% por ano durante a próxima década.
Entretanto, os efeitos das alterações climáticas já estão a ser sentidos, com a multiplicação de desastres climáticos extremos ou com o degelo de glaciares, com consequências potencialmente devastadoras por causa da subida do nível da água dos oceanos. Ao nível das temperaturas, o ano de 2019 foi o segundo mais quente desde 1880, altura em que começaram os registos modernos de temperaturas.
Os especialistas antevêem que a temperatura média global supere um novo recorde no próximo período de cinco anos (2020-2024). “Para os próximos cinco anos, esperamos coisas absolutamente terríveis em matéria de tempestades, secas e outros impactos dramáticos nas condições de vida de muitas pessoas em todo o mundo”, alertou António Guterres.
“Este é o momento de acordar”, reforçou o secretário-geral da ONU, sublinhando que muito depende das acções — ou inacções — dos principais emissores: China, Estados Unidos, União Europeia, Rússia, Índia e Japão.