Facebook não vai permitir que Alain Cocq mostre a sua morte em directo
Diz estar “em fase final” de vida há 34 anos dos seus 57 anos, devido a uma doença degenerativa incapacitante. Queria morrer em directo, para contestar a lei que não lhe permite ter uma morte assistida. A rede social diz que não autoriza imagens de “tentativas de suicídio”.
O francês Alain Cocq, de 57 anos e que sofre de uma doença incurável, decidiu abandonar seu tratamento, parar de se alimentar e de se hidratar e deixar-se morrer em directo no Facebook, para denunciar as falhas na lei da eutanásia e defender o direito a “uma morte digna. Porém, a rede social não vai permitir.
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O francês Alain Cocq, de 57 anos e que sofre de uma doença incurável, decidiu abandonar seu tratamento, parar de se alimentar e de se hidratar e deixar-se morrer em directo no Facebook, para denunciar as falhas na lei da eutanásia e defender o direito a “uma morte digna. Porém, a rede social não vai permitir.
“Apesar de respeitarmos a decisão de querer chamar a atenção para esta questão complexa, seguimos as indicações de especialistas e adoptámos medidas para impedir o directo da conta de Alain”, disse neste sábado um porta-voz da empresa à AFP.
“As nossas regras não nos permitem mostrar tentativas de suicídio”, acrescentou.
Cocq queria receber uma sedação e em Agosto escreveu ao Presidente Emmanuel Macron para este autorizar um médico a prescrever medicação que lhe permitisse “partir em paz”.
Macron não autorizou: “Porque não estou acima da lei, não posso atender ao seu pedido”, respondeu, por carta, Macron. “Não posso pedir a alguém que ignore a quadro jurídico em vigor”. “O seu desejo é pedir uma ajuda activa para morrer, que actualmente não é autorizada no nosso país”, acrescentou o Presidente na carta enviada quinta-feira e onde manifesta o seu “apoio pessoal” e “profundo respeito” a Alain Cocq.
Numa entrevista à AFP, Cocq explicou como vive. “Os meus intestinos esvaziam para uma bolsa. A minha bexiga esvazia para uma bolsa. Não me posso alimentar, alimentam-me como se faz a um ganso, com um tubo até ao estômago. Não tenho uma vida decente e decidi dizer chega”.
“Sinto-me cheio e com um nó no estômago. Se é para ficar a olhar para o tecto como um idiota à espera que aconteça, então não”, disse.
A lei Claeys-Léonetti, adoptada em França em 2016, autoriza a sedação profunda, mas apenas em pessoas cujo prognóstico vital esteja em risco “a curto prazo”. Alain Cocq, que diz estar “em fase final há 34 anos” devido a uma doença degenerativa incapacitante, não pode demonstrar que a sua vida vai terminar em breve.
Defensor da “morte com dignidade”, Cocq já fez várias viagens pela Europa em cadeira de rodas para divulgar a adopção de leis adequadas para a morte assistida. “Beneficiar de um último cuidado, que nos livre do sofrimento, não é um suicídio, não é acabar com uma vida mas sim aliviar um paciente. Infelizmente, o efeito disso pode ser a morte, mas o objectivo não é a morte, é aliviar uma dor intolerável”, disse ao jornal espanhol El País.
Decidiu “deixar-se morrer”. A partir deste sábado, apenas tomará analgésicos, à noite, para dormir. “Pouco a pouco, todos os órgãos vitais serão afectados”, explicou à AFP, acrescentando que está a tomar o máximo de morfina possível para combater dores constantes.
Alain Cocq sofre de uma doença degenerativa raríssima que faz com que as paredes das artérias se colem, originando uma isquemia (suspensão da circulação do sangue num tecido ou órgão). Para “mostrar aos franceses o que é a agonia a que a lei Leonetti obriga”, queria transmitir o seu fim de vida, que calcula ocorra dentro de “quatro a cinco dias”, a partir deste sábado de manhã, em directo na sua página no Facebook.
O objectivo, explicou, era “provocar uma tomada de consciência”, fazer com que “as coisas se movam”. Fazer compreender que a lei Leonetti “é uma mesa de três pernas, que não é estável” por estar incompleta.
Antes da decisão do facebook de bloquear os directos da sua conta, explicara ao El País que o a sua morte no Facebook não ir ser “nenhum lixo”, nenhum espectáculo.
“Isto não é para mirones. A câmara vai estar sobre a minha cabeça e talvez ao nível do meu peito, mais nada. Quando tenham que tratar de mim, a câmara será virada. E as imagens só serão transmitidas desde que acordo e até ao entardecer. Serão imagens duras, mas adequadas ao meu pudor pessoal”, disse. “A única coisa que se vai ver é como me apago”.
Reagindo a decisão, Cocq disse ter sido avisado que as suas emissões estavam bloqueadas até 8 de Setembro. E pediu aos apoiantes para pressionarem a rede social a mudar a decisão. “Agora está nas vossas mãos”.