Os erros de Graça Freitas fragilizam a DGS
A forma desabrida como Graça Freitas contestou a sugestão óbvia do Presidente da República sobre o Avante!, ou a insensibilidade que revelou no isolamento das crianças em risco, agravou de forma indelével as suas fragilidades.
No curto espaço de uma semana, a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, recuou, ou foi forçada a recuar, em duas medidas de enorme sensibilidade política e social: no parecer sobre a Festa do Avante! e, nesta sexta-feira, no levantamento da imposição de medidas de isolamento a crianças entregues a casas de acolhimento.
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No curto espaço de uma semana, a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, recuou, ou foi forçada a recuar, em duas medidas de enorme sensibilidade política e social: no parecer sobre a Festa do Avante! e, nesta sexta-feira, no levantamento da imposição de medidas de isolamento a crianças entregues a casas de acolhimento.
É bom sinal que uma personalidade com este grau de responsabilidade reconheça os seus erros e os corrija. É mau sinal que Graça Freitas não tenha sido capaz de os perceber à partida nem de dar conta da sua falha quando tanta gente os denunciava.
Entre a recusa de revelar o parecer com as regras para a Festa do Avante! e a sua divulgação passou um dia. Entre a recusa em rever a imposição de isolamento a crianças em risco e o anúncio de um recuo, pouco mais de uma semana. Ao assumir posições incompreensíveis e inaceitáveis para depois as alterar em tão curto espaço de tempo, Graça Freitas desbaratou boa parte do seu capital de credibilidade. E colocou o organismo que dirige numa posição de fragilidade.
Graça Freitas é uma personalidade à qual temos de agradecer muito. Os seus seis meses à frente da DGS no mais grave desafio da saúde pública em décadas não foram fáceis e provocaram-lhe seguramente um desgaste enorme. Ao longo desse tempo, cometeu erros, mas seria impossível a alguém fazer tudo bem num quadro de tanta ansiedade e pressão. Mas se o contexto em que trabalhou pode até justificar falhas, muitas das suas atitudes são questionáveis desde o início – já em Março um editorial do PÚBLICO dava conta: “Temos um problema com a DGS.”
A falta de respostas a perguntas de jornalistas denunciava já uma certa propensão para o autoritarismo. As demissões na DGS sugeriam dificuldades em gerir equipas. E a forma desabrida como contestou a sugestão óbvia do Presidente da República sobre o Avante!, ou a insensibilidade que revelou no isolamento das crianças em risco, agravou de forma indelével as suas fragilidades.
Com estes novos episódios, ficou claro que a ministra da Saúde e o primeiro-ministro têm um problema em mãos. Não será expectável que demitam Graça Freitas, até porque, como disse António Costa logo no início da pandemia, não se mudam generais no meio dos combates. Resta a esperança de que a directora-geral aprenda com os seus erros.
Uma DGS que se recusa a revelar um parecer sobre uma festa política que preocupa os cidadãos não defende a saúde pública. Uma DGS que impõe o isolamento de crianças em extrema fragilidade emocional, concedendo-lhe o mesmo tratamento burocrático que concede a idosos, não merece a nossa confiança ou simpatia.