Acção contra alegada poluição da Siderurgia Nacional começa a ser julgada

O objectivo é averiguar o impacto da Siderurgia Nacional na poluição atmosférica na Aldeia de Paio Pires, no Seixal.

Foto
NFS - Nuno Ferreira Santos

O Tribunal de Almada vai começar nesta sexta-feira a julgar a acção popular cível contra a Siderurgia Nacional, no Seixal, no distrito de Setúbal, devido à alegada poluição causada pela indústria.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O Tribunal de Almada vai começar nesta sexta-feira a julgar a acção popular cível contra a Siderurgia Nacional, no Seixal, no distrito de Setúbal, devido à alegada poluição causada pela indústria.

Segundo o advogado Miguel Santos Pereira, da sociedade SPASS, que fundou a Associação da Terra da Morte Lenta e que interpôs a acção popular, em Fevereiro de 2019, este será um “processo longo”, com mais de 50 testemunhas.

O objectivo é averiguar o impacto da Siderurgia Nacional na poluição atmosférica na Aldeia de Paio Pires, no Seixal, onde os moradores se queixam há seis anos da existência de um pó preto, que se acumula nas ruas, varandas e veículos.

De acordo com o advogado, já há sessões marcadas até 16 de Dezembro, duas por semana, e a primeira testemunha será João Carlos Pereira, anterior presidente da Junta de Freguesia da Aldeia de Paio Pires e fundador do grupo Os Contaminados, que se tem pronunciado contra a poluição e também interpôs uma acção em tribunal contra o Estado, para “fazer respeitar as normas ambientais”.

Em 18 de Detembro, pelas 10h00, será ouvido o presidente do Sport Lisboa e Benfica, Luís Filipe Vieira, uma vez que o centro de formação e treino do clube desportivo, localizado no Seixal, também poderá ser afectado pela poluição.

A acção popular em causa foi interposta para pedir a “suspensão imediata da actividade” da Siderurgia Nacional até serem resolvidas as “questões básicas administrativas em causa” e também o valor de 500 mil euros.

Em Fevereiro do ano passado, a advogada Fabiana Pereira tinha explicado que o montante em causa tem em conta o número de habitantes da freguesia e destina-se a um fundo que será explorado por várias entidades, como a Câmara do Seixal, o Instituto Ricardo Jorge ou a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT), com o objectivo de “melhorar a qualidade do ar”.

Segundo a responsável, a acção cita “mais de 50 entidades que estão ao redor da Siderurgia e que podem ser prejudicadas pela sua actividade”, e solicita que sejam consideradas todas as provas em investigação.

Em 31 de Julho, a Câmara do Seixal revelou um estudo epidemiológico elaborado pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa que concluiu que a poluição proveniente das indústrias de Paio Pires não tem causado “qualquer impacto relevante na saúde” dos habitantes da localidade.

Já em Maio de 2019, tinha sido apresentado outro estudo feito pelo Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares do Instituto Superior Técnico, que observou que o pó depositado nas varandas e automóveis de Paio Pires não constitui risco para a saúde, apesar de não terem sido analisadas as partículas mais pequenas e potencialmente perigosas.

Por sua vez, em Fevereiro do ano passado, a Siderurgia Nacional afirmou que não ocorreu nada de “anormal” no processo produtivo da empresa que justifique as poeiras negras existentes em Paio Pires.