Beijinho ou aperto de mão? “É muito bom que estejamos a ser criativos nas alternativas de toque”

Os toques com o punho ou cotovelo não substituem os métodos mais calorosos, mas por enquanto servem. A especialista em psicologia positiva Helena Águeda Marujo destaca a importância do toque na saúde física e psicológica.

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O toque de cotovelo foi um dos métodos encontrados para contornar as limitações impostas pela pandemia ao toque LUSA/ANTONIO BAT

É o “novo normal”. A questão “dá-se um beijinho ou aperto de mão?” foi substituída por “toque com o punho ou com o cotovelo?”. E é “perfeitamente normal” que sintamos a falta desses rituais que envolvam o toque.

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É o “novo normal”. A questão “dá-se um beijinho ou aperto de mão?” foi substituída por “toque com o punho ou com o cotovelo?”. E é “perfeitamente normal” que sintamos a falta desses rituais que envolvam o toque.

“Nós temos o toque como um sentido fundamental por sermos seres intensamente sociais”, explica Helena Águeda Marujo. Para a professora de psicologia positiva no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, “tocar o outro é parte inerente da nossa forma de estar no mundo” e isso percebe-se até antes do nascimento, pois “há estudos sobre os gémeos que mostram que eles fazem por se aproximar dentro do ventre para se tocarem”. Assim, “o toque é o primeiro sentido” que os seres humanos desenvolvem, destaca.

O impacto da ausência desse toque pode ser “muito grande”, avança a investigadora, já que é sabido que “o toque humano estimula as endorfinas ­­ – químicos cerebrais do bem-estar – o que tem efeito na saúde não só psicológica, como física”. A professora vinca que “sim, há uma relação directa entre o bem-estar, a felicidade e o toque físico”, mas relembra a importância do contexto de cada toque.

A questão adensa-se quando afecta os latinos que, de uma maneira geral, “tendem a ter uma necessidade maior de abraços e beijos”, justifica Helena Águeda Marujo.

O toque também é “um meio de comunicação fundamental” e, a sua ausência, pode acarretar “perdas”. A professora sublinha que “o toque fala mais depressa e às vezes diz mais do que as palavras”. “A linguagem verbal pode não chegar para expressar aquilo que estamos a viver ou sentir.”

Embora os toques com o cotovelo não substituam os métodos mais calorosos, “é muito bom que estejamos a ser criativos nas alternativas de toque” analisa a investigadora. A brincadeira envolvida no novo ritual, “com humor e algum riso”, pode ajudar ao “sentimento de proximidade”, o estimula as tais endorfinas e o sentimento de pertença. Ainda assim, é importante “fazer a substituição sempre na esperança que essa seja transitória e que iremos voltar ao nosso toque habitual”. Isto porque “as pessoas querem voltar a abraçar-se” e regressar à normalidade do toque pré-covid, considera.

Esta é uma das questões que não é substituível pela comunicação digital. “A tecnologia é parca na substituição destas necessidades humanas”, refere Helena Águeda Marujo. A “energia emocional” associada ao contacto presencial que passa em grande parte pelo olhar ou pelo toque físico, defende, não é satisfeita pelas videochamadas ou contacto por redes sociais. “Não nos sentimos recompensados da mesma maneira quando não temos esse contacto presencial”, aponta a professora.

Então, como se contorna a ausência do toque? As soluções, tendo em conta a “preocupação de manter as relações humanas e as endorfinas”, podem passar por “fazer rir ou cantar em conjunto”. Ou seja, são formas de “estimular o processo relacional e da conexão que nos fazem sentir parte de algo”.

O olhar também pode ter uma importância acrescida por esta altura já que “olhar os olhos das pessoas tende a fazer ricochete emocional entre os evolvidos”. As máscaras tornam difícil desvendar as expressões, mas a investigadora lembra que “o sorriso genuíno não é aquele que envolve só a boca, mas também os olhos”. “Se calhar agora percebemos melhor quais são os sorrisos verdadeiros”.