Governo britânico mantém Portugal, para já, fora da “lista negra” da covid-19. País de Gales e Escócia impõem quarentena

O ministro dos Transportes britânico, Grant Shapps, revelou que o Reino Unido não retirou nem acrescentou, para já, nenhum país à “lista negra” da covid-19, mas lembrou que a decisão poderá mudar a qualquer momento. País de Gales e Escócia anunciaram esta quinta-feira a decisão de exigir quarentena a viajantes que regressem de Portugal.

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Praia da Quarteira durante a pandemia Rui Gaudêncio

Menos de duas semanas depois de Portugal passar a integrar a lista de corredores aéreos considerados seguros pelo Reino Unido, o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, admitiu que o país pode voltar a entrar na “lista negra”.

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Menos de duas semanas depois de Portugal passar a integrar a lista de corredores aéreos considerados seguros pelo Reino Unido, o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, admitiu que o país pode voltar a entrar na “lista negra”.

“Publicaremos uma decisão amanhã [sexta-feira] depois de olharmos para os dados”, afirmou esta quinta-feira o ministro britânico, citado pela Sky News. “Estamos preparados para tomar decisões de pôr países individuais de volta na lista da quarentena se for necessário, e mantemos isso em avaliação constante. As pessoas só devem viajar se estiverem preparadas para fazer quarentena se o vírus aumentar quando estiverem nesse país”, explicou Matt Hancock.

Momentos mais tarde, o ministro dos Transportes britânico, Grant Shapps, revelou que o Reino Unido não retirou nem acrescentou, para já, nenhum país à lista negra” da covid-19, mas lembrou que a decisão — que obriga quem regressa a solo britânico vindo de Portugal a cumprir uma quarentena obrigatória de duas semanas — poderá mudar a qualquer momento.

Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), Portugal tem uma taxa de infecção de 34,5 casos por cada cem mil habitantes (dados dos últimos 14 dias). Segundo a imprensa britânica, o Reino Unido impõe restrições a viagens internacionais quando os países têm mais do que 20 casos semanais por cem mil habitantes. Na última semana, a média em Portugal foi de 22,7 casos por cada cem mil habitantes (em comparação com 14,2 na semana passada), escreve o Guardian.

A possibilidade de Portugal poder voltar a integrar a lista já tinha sido avançada pela imprensa britânica nos últimos dias tendo em conta o aumento do número de casos no país. Os casos activos em Portugal estão a aumentar há 18 dias e a ministra da Saúde, Marta Temido, admitiu na quarta-feira que “os números estão a subir e situam-se agora nos cerca de 240 novos casos diários”.

As autoridades britânicas têm em conta outros dados relativos à situação epidemiológica, como a tendência da taxa de incidência, a taxa de mortalidade e uma avaliação de confiança aos dados de testagem e do fornecimento de informação. 

Na terça-feira, o director da International Airlines Group (IAG, grupo detentor da British Airways) alertava que, a confirmar-se, esta decisão causará “mais caos e dificuldades para os viajantes”. Num artigo de opinião no jornal The Times, Willie Walsh ​criticou a “lista de requisitos em constante mudança” necessária para abrir os corredores.

Britânicos antecipam saída do Algarve com receio de quarentena

Com a abertura do corredor aéreo em Agosto, as reservas de viagens de britânicos para Portugal tinham disparado. Agora, o representante da Associação da Hotelaria de Portugal (AHT) no Algarve diz que “há clientes britânicos a antecipar” a saída de unidades hoteleiras, devido à incerteza do fecho do corredor aéreo entre o Reino Unido e Portugal.

“A notícia de um possível fecho do corredor aéreo já está a causar bastante preocupação, nomeadamente nos clientes que estão neste momento no Algarve, com alguns a pedir para antecipar o seu regresso a Inglaterra”, disse à agência Lusa o dirigente associativo João Soares.

O dirigente regional da associação que representa mais de 60% dos hoteleiros nacionais adiantou que, além da antecipação de saídas, existem também cancelamentos de reservas: “Neste momento, esse cancelamento tem já um número considerável”.

João Soares afirmou que os hoteleiros estão a olhar para a situação com muita preocupação, considerando que uma decisão britânica de repor a obrigatoriedade de quarentena à chegada a território britânico, proveniente de Portugal, devido à pandemia de covid-19, “não faz grande sentido, porque o Algarve cumpre os rácios de contaminações e é a região menos afectada pelos contágios”.

O dirigente associativo defende que deveria ser dado “um tratamento diferenciado para o Algarve, porque a região não deve ser penalizada pelo rácio de contágio existente noutras zonas do país”.

“Dependemos em grande parte do mercado britânico, que tem um impacto substancialmente grande no mês de Setembro”, sublinhou João Soares, acrescentando que os hoteleiros estão muito preocupados, até porque foi pedido às empresas associadas para que funcionassem durante o mês de Setembro”.

O também director do Hotel Dom José Beach, em Quarteira, reforçou a preocupação dos associados da AHP “dada a iminência de ter de ser dado um passo atrás naquilo que foi conquistado numa região que cumpre com aquilo que é devido quanto ao número de casos” de covid-19.

Por seu turno, o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) disse à agência Lusa que, “por enquanto, ainda não há registo” de turistas britânicos que estejam a regressar ao seu país por força das notícias que apontam para uma possível decisão do Governo do Reino Unido de repor a obrigatoriedade de quarentena à chegada a território britânico.

“O que se pode dizer é que isso não é uma boa notícia e, a verificar-se, trará avultados prejuízos para a região e o país”, afirmou o presidente da AHETA, Elidérico Viegas.

País de Gales e Escócia impõem quarentena

O País de Gales decidiu retirar Portugal da lista de países isentos de quarentena, mas mantém a Madeira e Açores, anunciou esta quinta-feira o Ministério da Saúde do Governo autónomo, que pela primeira vez aplicou regras diferentes do Governo britânico. 

O ministro da Saúde galês, Vaughan Gething, disse ter considerado o relatório do Centro de Biossegurança Comum sobre os países que representam um risco para a saúde pública devido à pandemia de covid-19.

“Decidi retirar Portugal continental (os Açores e a Madeira permanecerão isentos), Gibraltar, Polinésia Francesa e as ilhas gregas de Mykonos, Zakynthos, Lesvos, Paros e Antiparos e Creta da lista de países e territórios isentos”, acrescentou. As medidas entram em vigor às 4h de sexta-feira.

Também o Governo da Escócia anunciou esta quinta-feira a decisão de exigir quarentena aos viajantes que regressem de Portugal, a partir das 4h de sábado. A Polinésia Francesa também foi acrescentada à lista da Escócia. com Lusa