As microfibras das tuas calças de ganga vão parar a regiões remotas do Árctico
Uma das peças de roupa mais utilizadas está a deixar vestígios em algumas das regiões do mundo mais prístinas, escrevem investigadores da Universidade de Toronto. No arquipélago Árctico Canadiano, um conjunto de ilhas a Norte do Canadá, a ganga índigo correspondia a 20% de todas as microfibras encontradas em sedimentos.
Penduradas em quase todos os guarda-roupas, são tantas as vezes em que as calças de ganga são acusadas de problemáticas quanto louvadas pela versatilidade. Agora, uma equipa de investigadores detectou microfibras de ganga azul não só em águas residuais e efluentes, mas em lagos e sedimentos marinhos em regiões remotas do Árctico.
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Penduradas em quase todos os guarda-roupas, são tantas as vezes em que as calças de ganga são acusadas de problemáticas quanto louvadas pela versatilidade. Agora, uma equipa de investigadores detectou microfibras de ganga azul não só em águas residuais e efluentes, mas em lagos e sedimentos marinhos em regiões remotas do Árctico.
O estudo foi publicado na Environmental Science & Technology Letters, uma publicação científica online, revista por pares, que divulga relatórios de investigação nas áreas de ciência e tecnologia ambiental. A investigação, liderada por Miriam Diamond e Samantha Athey, foi financiada pela Universidade de Toronto e por entidades ligadas à protecção dos oceanos e pescas.
Estudos anteriores já mostraram como, durante a lavagem da roupa numa máquina, são libertadas partículas minúsculas e sob a forma de fios para as águas residuais. Nem todas são travadas nas centrais de tratamento, acabando por chegar ao ambiente e poluindo as águas. As microfibras medem menos de cinco milímetros e não estão apenas nos têxteis sintéticos, produzidos à base de plástico, como poliéster, acrílico, nylon ou licra. São uns dos contaminantes mais comuns no planeta e já foram encontrados no gelo do Árctico, em sedimentos no fundo do oceano e no ar que respiramos. Os investigadores queriam perceber, especificamente, se as calças de ganga eram uma fonte significativa das microfibras de celulose presentes em ambientes aquáticos.
Para identificar e contar microfibras de ganga índigo presentes nas amostras de água recolhidas no Canadá, os investigadores usaram uma combinação de microscopia e espectroscopia Raman, que consiste em analisar o espectro de difusão de um feixe laser, cuja luz incide sobre a amostra de tecido, de forma a identificar diversas moléculas ali presentes.
Nas amostras colhidas no Arquipélago Árctico Canadiano, um conjunto de ilhas a Norte do Canadá, a ganga índigo correspondia a 20% de todas as microfibras nos sedimentos. Nos sedimentos dos Grandes Lagos do Canadá, a percentagem subia para 23%. Já nos sedimentos de lagos nas proximidades de Toronto descia para 12%.
Em experiências de lavagens, a equipa descobriu que um par de jeans usados pode libertar cerca de 50 mil microfibras por ciclo de lavagens. Segundo as Nações Unidas, o tingimento têxtil é o segundo maior poluidor de água do mundo e são necessários cerca de 7500 litros de água para fazer um par de calças de ganga.
Não são conhecidas as consequências da presença destas microfibras na vida marinha. No entanto, sugerem os autores do estudo, uma forma de diminuir a poluição que causam é, simplesmente, lavar menos vezes as calças de ganga. Outra sugestão: até contra o que os investigadores pensavam, um outro estudo da Universidade de Newcastle, publicado em 2019, concluiu que os programas para roupa delicada usam mais água — e, por isso, libertam mais microplásticos para o ambiente.