O rococó inscrito nas igrejas de Vila Verde vai deambular pelo concelho

Adiada devido à covid-19, a exposição itinerante sobre o estilo artístico do século XVIII, mapeada, no concelho de Vila Verde, pelo historiador de arte Eduardo Pires de Oliveira, vai ser inaugurada nesta sexta-feira, à noite.

Fotogaleria

À semelhança de outros desígnios a que Eduardo Pires de Oliveira se tem proposto, na arqueologia, na defesa do património ou na história da arte, André Soares, arquitecto bracarense do barroco e do rococó, nascido há 300 anos, foi o ponto de partida para uma exposição que vai ser inaugurada nesta sexta-feira, às 21h30, na Biblioteca Municipal Professor Machado Vilela e percorrer, depois, outros pontos do concelho de Vila Verde.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

À semelhança de outros desígnios a que Eduardo Pires de Oliveira se tem proposto, na arqueologia, na defesa do património ou na história da arte, André Soares, arquitecto bracarense do barroco e do rococó, nascido há 300 anos, foi o ponto de partida para uma exposição que vai ser inaugurada nesta sexta-feira, às 21h30, na Biblioteca Municipal Professor Machado Vilela e percorrer, depois, outros pontos do concelho de Vila Verde.

Autor da tese de doutoramento André Soares e o Rococó no Minho, defendida em 2012, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Pires de Oliveira já sabia que Vila Verde albergava dois testemunhos do renomado autor setecentista: os retábulos da igreja de São Paio de Pico de Regalados e da capela dos Barbosas. “A partir daí, analisámos o rococó que existia nas freguesias e vimos que havia material interessante para se fazer uma exposição”, esclarece ao PÚBLICO o curador da exposição.

Vila Verde faz parte de um Minho em que o rococó é “essencialmente religioso”, pelo que Eduardo Pires de Oliveira percorreu as igrejas do concelho entre Setembro de 2019 e Março de 2020, com o apoio da autarquia – investiu cerca de 3000 euros na iniciativa – e a companhia de Adelino Pinheiro da Silva, um engenheiro municipal dedicado à fotografia. Dos mais de 50 templos que visitou, encontrou rococó em 33, gravado em retábulos (muitos), mas também em pias baptismais, em sacrários e numa ou noutra fachada – na da igreja do Divino Salvador de Cervães, vêem-se os típicos ornatos em forma de concha, esculpidos em granito.

Entre os locais que visitou, o historiador de arte destaca as igrejas de Soutelo e de São Miguel de Prado, pela quantidade e pela homogeneidade de rococó que exibem, a igreja de Parada de Gatim, pela talha, a de Santa Maria de Covas, pela invulgaridade do desenho de um dos retábulos, e de Sande, pelo ornato que se assemelha a uma flor; esse pormenor está, aliás, na capa do catálogo de 92 páginas, escrito no âmbito da exposição. “É uma peça extraordinária. Se a pudesse destacar, colocá-la-ia em qualquer museu”, reitera Eduardo Pires de Oliveira.

A viagem pelos templos de Vila Verde também aclara a história de um estilo artístico que chegou a Portugal na década de 1740, foi introduzido em Braga pelo arcebispo D. José de Bragança, irmão do rei D. João V, e espalhou-se depois pela região. “Nessa altura, tal como hoje, toda a gente queria estar ao lado dos poderosos. Assim, as pessoas queriam imitar o rococó. Nada mais natural que isso acontecesse nas aldeias”, salienta o curador.

Adiada devido à pandemia de covid-19 – a inauguração estava programada para 14 de Março -, a exposição com o rococó do concelho está quase no terreno. A vereadora com o pelouro da Cultura, Júlia Fernandes, afirma ao PÚBLICO que a exposição vai estar patente na biblioteca municipal até 22 de Setembro e percorrer, depois, escolas, a biblioteca da vila de Prado e espaços das paróquias que a queiram receber. “Esta exposição pode estender-se durante o próximo ano. Até é conveniente que assim seja, para que as pessoas possam usufruir dela e ter orgulho no nosso património”, antevê.

Conhecer e cuidar

Vereadora municipal desde 2009, Júlia Fernandes realça que as várias comunidades paroquiais do município já têm sensibilidade para os problemas das suas igrejas, mobilizando-se quando estas “precisam de uma pintura ou de um soalho”, mas a exposição, acredita, vai-lhes dar mais conhecimento sobre o património com o qual convivem. “Se virem este trabalho ao vivo, os vilaverdenses podem ficar mais despertos para todos os elementos que ilustram esta época”, afirma.

Alguns dos templos apresentam, contudo, “retábulos com cores excessivas, com as quais Eduardo Pires de Oliveira não concorda. O especialista considera assim importante sensibilizar os párocos e as respectivas comunidades para um “trabalho contínuo de preservação e manutenção do património”.

A exposição sobre o rococó de Vila Verde contempla ainda os templos que já tiveram rococó e deixaram de o ter. “Como tínhamos informação de obras que foram feitas e que hoje não existem, quisemos deixar esse pormenor de cripto-história da arte”, explica.