Regresso às aulas: exige-se agora uma normalidade prudente
Tudo é novo, tudo é diferente, como nunca o foi, sobretudo pelas decisões a tomar, de modo a evitar que o ambiente escolar seja um dos possíveis fatores de difusão da pandemia
No início de mais um ano escolar e resolvido, há já alguns anos, o crónico problema da colocação de professores nos ensinos básico e secundário, sempre tardia e incompleta, deixando muitos horários por preencher, exige-se agora uma normalidade prudente.
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No início de mais um ano escolar e resolvido, há já alguns anos, o crónico problema da colocação de professores nos ensinos básico e secundário, sempre tardia e incompleta, deixando muitos horários por preencher, exige-se agora uma normalidade prudente.
Sem respostas definitivas para os complexos problemas que atualmente se vivem a nível mundial, estando dependentes da evolução da pandemia e, por sua vez, da correlação de inúmeros fatores, as escolas regressam à possível normalidade, se bem que preenchida de muitas novas situações.
A palavra “novo” sobressai desse emaranhado de problemas que todos gostariam que não estivessem a acontecer. Tudo é novo, tudo é diferente, como nunca o foi, sobretudo pelas decisões a tomar, de modo a evitar que o ambiente escolar seja um dos possíveis fatores de difusão da pandemia, apesar da recente “boa notícia” da Organização Mundial da Saúde.
Dessa normalidade prudente, há a realçar três aspetos fundamentais, neste início de ano escolar, apesar de todos estarem numa situação de aprendizagem social, em que as variáveis que estão em jogo podem ser alteradas de forma radical no espaço de alguns dias.
A normalidade sanitária. A escola é, por excelência, um espaço de convivência, de uma enorme proximidade entre as pessoas. Manter as regras de distanciamento e observar tudo o que seja norma a seguir tornar-se-á extremamente difícil. O que for escrito facilmente será alterado pela necessidade de adaptação às novas situações.
Há comportamentos e atitudes que já estão suficientemente assimilados pela comunidade educativa, facilitando o controlo da pandemia nas fronteiras da escola. Porém, nem tudo depende de modos de agir totalmente novos, porque a reprodução de hábitos nos espaços escolares é algo fácil de acontecer.
Uma normalidade sanitária prudente nas escolas requer que a situação de excecionalidade seja interiorizada e respeitada por todos, sem a necessidade de mais um regulamento pormenorizado e inundado de palavras. E dentro desse todo organizacional que é a escola, os casos de exceção, tanto de alunos como de professores e assistentes operacionais, têm de ser tratados através de medidas excecionais.
A normalidade curricular. Nos estudos que têm sido publicados aos níveis internacional e nacional, tem sido salientada a evidência de que a interrupção presencial das atividades letivas originou uma redução efetiva das aprendizagens. Ou seja, os alunos aprenderam menos e ficaram aquém do que seria normal terem aprendido, faltando um estudo sobre o domínio real das competências definidas, pelo Perfil dos Alunos, nas diversas áreas curriculares.
A prudência curricular desta excecional normalidade exige uma nova regra, já definida com antecedência: o ano letivo começa com um período introdutório de consolidação das aprendizagens, facto que contribuirá para que a transição curricular entre anos e ciclos se faça sem a existência de lacunas significativas ao nível da aprendizagem. Além disso, e para apoiar essa consolidação, estão previstos mais recursos para o apoio tutorial específico, para as equipas de educação inclusiva e para os técnicos de intervenção pessoal, social e comunitária das escolas, sendo de referir ainda o reforço de verbas para a contratação de docentes, de modo a responder às novas necessidades exigidas pelo apoio pedagógico.
A normalidade pedagógica. O regresso a uma outra escola, em tempos de pandemia, traz consigo a prudência no que diz respeito ao ensino presencial e ao ensino à distância, certamente uma das questões mais debatidas ao nível da educação nos últimos meses. Prudência para que o ensino presencial seja, de facto, a “normalidade” da escola, mas também para a aceitação do desafio pedagógico proporcionado pelo uso das tecnologias digitais.
Não restam dúvidas de que o currículo do futuro já está a ser definido e reconstruído pelas tecnologias digitais e que a sua utilização faz parte cada vez mais do quotidiano das escolas.
Há ainda a prudência para manter de pé as medidas pedagógicas avançadas, nos últimos meses, incluindo o #EstudoEmCasa, pelo menos até que a luz ao fundo do túnel para a resolução da pandemia seja suficientemente visível. Daí que o ano escolar seja iniciado com um otimismo reservado, refletindo a necessária prudência para que os alunos vivam a escola dentro da normalidade possível, compreendendo-se que encarregados de educação, alunos, professores e assistentes operacionais estejam numa fase de transição turbulenta.
E será prudentemente normal reforçar as medidas de promoção da equidade e do combate ao insucesso e abandono escolares, já que as mesmas adquirem uma significativa relevância face aos riscos desta pandemia, com tendência para o agravamento das desigualdades.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.