Mais de 50 anos depois, Ridley Scott voltou à televisão (e aos andróides): eis Raised by Wolves
Produtor executivo de inúmeras séries, o cineasta não realizava em nome próprio para o pequeno ecrã desde a sua experiência com a BBC nos anos 60. Agora tem uma nova série, pós-apocalíptica, na HBO.
Desde os anos 1990 que Ridley Scott se vem desdobrando como produtor executivo de inúmeras séries de televisão, de The Good Wife a Taboo, passando pela primeira temporada de The Terror. Só que há mais de 50 anos que não realizava, ele próprio, um episódio de televisão. E nunca o tinha feito na América. Até agora. Raised by Wolves, a nova série de ficção científica do serviço americano HBO Max, é uma criação de Aaron Guzikowski que contou com o cineasta britânico como realizador dos primeiros dois episódios e também como arquitecto visual.
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Desde os anos 1990 que Ridley Scott se vem desdobrando como produtor executivo de inúmeras séries de televisão, de The Good Wife a Taboo, passando pela primeira temporada de The Terror. Só que há mais de 50 anos que não realizava, ele próprio, um episódio de televisão. E nunca o tinha feito na América. Até agora. Raised by Wolves, a nova série de ficção científica do serviço americano HBO Max, é uma criação de Aaron Guzikowski que contou com o cineasta britânico como realizador dos primeiros dois episódios e também como arquitecto visual.
A série, cujos três primeiros episódios chegam esta sexta-feira à HBO Portugal, passa-se no desértico planeta Kepler-22b, após uma guerra entre ateus e seguidores do mitraísmo (religião dos tempos do Império Romano) que dizimou quase toda a humanidade e destruiu a própria Terra. Dois andróides, Mother e Father, foram programados pelos ateus e têm agora a tarefa de educar, sem fé, embriões humanos que vão salvar a espécie. Passados dez anos, só sobra uma criança e chega ao planeta um grupo de seguidores do mitraísmo. Há vários flashbacks ao tempo da guerra e ao passado das personagens.
É fácil perceber a atracção de Scott pela narrativa de Raised by Wolves: religião, fé, mitologia, andróides que podem ou não ter sentimentos, inteligência artificial, ficção científica e espaço são temas que passou uma boa parte da sua carreira a explorar em filmes como Alien - O Oitavo Passageiro ou Blade Runner – Perigo Iminente. Além disso, e como se constatou quando teve de refazer Todo o Dinheiro do Mundo (após Kevin Spacey ter sido acusado de abusos sexuais, o realizador voltou a filmar todas as cenas do actor, substituindo-o por Christopher Plummer), é alguém que trabalha muito rapidamente, o que dá imenso jeito nestas lides televisivas.
Da BBC à HBO
Numa série de mesas redondas virtuais no Zoom que juntaram jornalistas internacionais e parte do elenco e da equipa da série no final de Agosto, o PÚBLICO perguntou ao realizador o que é que o fez, finalmente, realizar televisão americana moderna propriamente dita. “Está tudo no material. Li-o e inspirou-me, achei que não podia deixar que isto me escapasse. Foi assim tão simples”, retorquiu.
Ridley Scott viu qualquer coisa na ideia original de Guizokowski, que então já escrevera Prisioneiros, de Denis Villeneuve – o realizador que fez a sequela de Blade Runner –, e criara a série The Red Road. O argumentista inspirou-se na relação entre os seus próprios filhos e o telemóvel e começou a pensar na interacção entre o ser humano e a tecnologia e nas questões da fé na tecnologia e no divino. Scott quis fazer algo de diferente com estes temas, mesmo que já os tivesse abordado muitas vezes antes: um universo novo, fora do ambiente de Alien que já foi por ele explorado até à exaustão.
Esta nova experiência do realizador atrás das câmaras de televisão é muito diferente do seu último crédito de realização televisiva, um episódio da série The Troubleshooters datado de 1968. “É preciso lembrar que eu fazia televisão na BBC, dramas de uma ou duas horas ao vivo. Foi aí que aprendi a usar seis câmaras. No Television Centre da BBC desses dias, quando se filmava uma peça ao vivo estavam 13 milhões pessoas a assistir mal se gritava ‘acção’, com seis câmaras a mexerem-se a toda a hora. Nunca esqueci isso, acho que foi o que me fez começar a trabalhar tão rapidamente em cinema”, comentou aos jornalistas.
O elenco de Raised by Wolves tem como âncora a dinamarquesa Amanda Collin, no papel de Mother, com o britânico Abubakar Salim como Father; o australiano Travis Fimmel e a irlandesa Niamh Algar encarnam um casal de colonizadores e o também australiano Winta McGrath interpreta a criança que sobreviveu. É um elenco bastante internacional, com sotaques diferentes. “Eu tento fazer um sotaque americano, mas sou uma treta nisso”, contou Fimmel, também actor da série-blockbuster Vikings. “Toda a gente é bastante livre com os sotaques porque é um mundo futurista e há muitas viagens”, acrescentou, a brincar. “É um elenco bastante internacional, acho que não há um único americano no elenco”, rematou Niamh Algar.