Rui Pinto acusa Benfica de interferir no seu processo judicial

Numa entrevista à revista alemã Der Spiegel, publicada, em parte, esta quarta-feira pelo Expresso, o hacker diz que o seu julgamento, que começa na sexta-feira, será “algo do tipo David contra Golias” e garante esperar ser absolvido.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

O pirata informático Rui Pinto acusa o Benfica de ter interferido no seu processo judicial, tentando influenciar as autoridades húngaras para que estas alargassem o âmbito do mandado de detenção europeu. Tal permitiu ao Ministério Público português investigá-lo e acusá-lo de 147 crimes, mais 141 que os seis que inicialmente constavam do mandado de detenção europeu, que limitava a capacidade de investigação das autoridades nacionais. O julgamento do hacker começa esta sexta-feira em Lisboa e Rui Pinto vai responder por 90 crimes, depois dos tribunais terem decidido reduzir a lista de crimes que lhe são imputados.

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O pirata informático Rui Pinto acusa o Benfica de ter interferido no seu processo judicial, tentando influenciar as autoridades húngaras para que estas alargassem o âmbito do mandado de detenção europeu. Tal permitiu ao Ministério Público português investigá-lo e acusá-lo de 147 crimes, mais 141 que os seis que inicialmente constavam do mandado de detenção europeu, que limitava a capacidade de investigação das autoridades nacionais. O julgamento do hacker começa esta sexta-feira em Lisboa e Rui Pinto vai responder por 90 crimes, depois dos tribunais terem decidido reduzir a lista de crimes que lhe são imputados.

Numa entrevista à revista alemã Der Spiegel, cuja segunda parte foi publicada esta quarta-feira pelo Expresso, parceiro do meio de comunicação alemão num consórcio de jornalismo de investigação, Rui Pinto acusa o Benfica de ser “como um polvo de influência”. E revela: “Há um pormenor muito importante sobre o qual quero que o público pense. Ao mesmo tempo que as autoridades portuguesas enviavam um pedido às autoridades húngaras para alargar o meu mandado de detenção europeu, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria recebeu dois bilhetes VIP para jogos do Benfica e teve encontros no estádio do Benfica. Isto é o Benfica...”

O jovem diz não acreditar que tal tenha sido uma coincidência. “O Benfica foi uma das partes mais interessadas no alargamento do mandado de detenção europeu. A Péter Szijjártó [ministro dos Negócios Estrangeiros] faltou o senso comum, e como diz o ditado ‘à mulher de César não basta ser séria, é preciso parecer’. Ficará sempre uma nuvem de suspeição sobre o alargamento do mandado europeu de detenção”, afirma.

Fonte do Benfica admitiu ao PÚBLICO que possam ter sido enviados convites a governantes húngaros para assistirem a jogos na Luz, mas garante que tal não tem nada a ver com Rui Pinto. Assegura que há vários anos que o clube mantém essa prática sempre que há visitas de responsáveis húngaros a Portugal e que a mesma se iniciou após a morte do jogador húngaro Miklós Fehér, em Janeiro de 2004, durante uma partida em que o Benfica enfrentava o Vitória de Guimarães. Outro húngaro com ligações ao clube da Luz é o treinador Béla Guttmann que venceu duas Taças dos Campeões e que, como Feheér, tem direito a uma estátua na entrada principal do estádio, alegou a mesma fonte benfiquista. 

Rui Pinto considera que os denunciantes do futebol correm muito mais perigo do que os de outros negócios, como os dos Panama Papers ou dos LuxLeaks. Na entrevista concedida em final de Agosto, após a sua libertaçãodo jovem hacker diz acreditar que “o Football Leaks foi uma das mais perigosas fugas de informação”. E explica porquê: “As empresas de fachada e os evasores fiscais têm consideravelmente menos adeptos do que os clubes de futebol. O futebol vive do entusiasmo e das emoções dos adeptos. Se descobrirmos alguma falcatrua nesta área, ganhamos logo um monte de inimigos.”

Rui Pinto assume-se como um denunciante e revela que espera ser absolvido porque actuou de boa-fé. “Actuei no interesse público, para mostrar o que estava errado, não apenas no futebol, mas noutras áreas também”, justifica. E defende: “Alguém que procura, recebe e analisa informação relativa a crimes relevantes como corrupção e fraude fiscal e decide partilhá-la com media internacionais ou directamente com as autoridades deve ser considerado um whistleblower. Tomemos os Panama Papers como exemplo. Hoje a maior parte das pessoas já se esqueceu de que foi um ato de hacking (pirataria informática).”

Relativamente ao julgamento, diz: “Será algo do tipo David contra Golias, porque seremos eu e os meus advogados contra os interesses poderosos e obscuros da sociedade portuguesa.” E acrescenta: “Alguns dos advogados do outro lado representam, noutros processos, pessoas suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro, pelo que me vêem naturalmente como uma ameaça.”

O hacker, que está em liberdade desde 9 de Agosto, revela o que fez depois de sair da prisão domiciliária: “A primeira coisa que fiz foi telefonar à minha família e à minha namorada, para lhes dar a notícia de que era um homem livre.”