Saúde Pública: quando a insensatez ganha asas
Nos últimos dias, assistimos, em vários países europeus, ao aparecimento de movimentos de protesto contra várias das medidas necessárias para minimizar os efeitos da pandemia. O alastramento deste tipo de movimentos, sem racionalidade explícita e compreensível, tem um grande potencial de tornar tudo mais difícil num futuro muito próximo.
1. A arte mais exigente da Saúde Pública é percorrer o estreito caminho entre proteger a saúde das pessoas (princípio da precaução) e ao, mesmo tempo, evitar excessos na natureza e oportunidade das medidas a adotar, que possam ter, desnecessariamente, consequências negativas no bem-estar económico e social de uma comunidade. A necessidade de aperfeiçoar esta arte difícil tem sido, no decorrer da história da Direção-Geral da Saúde, uma preocupação constante dos seus técnicos e dirigentes como traço marcante da sua cultura institucional.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
1. A arte mais exigente da Saúde Pública é percorrer o estreito caminho entre proteger a saúde das pessoas (princípio da precaução) e ao, mesmo tempo, evitar excessos na natureza e oportunidade das medidas a adotar, que possam ter, desnecessariamente, consequências negativas no bem-estar económico e social de uma comunidade. A necessidade de aperfeiçoar esta arte difícil tem sido, no decorrer da história da Direção-Geral da Saúde, uma preocupação constante dos seus técnicos e dirigentes como traço marcante da sua cultura institucional.
2. No decurso da pandemia covid-19, a busca constante do equilíbrio entre aqueles dois princípios da ação da Saúde Pública, tornou-se uma exigência constante, particularmente complexa e facilmente criticável, tanto por aqueles que querem mais autoridade na resposta ao desafio pandémico, como por aqueles que defendem uma maior autonomia nas práticas sociais e económicas. Com frequência tanto uns como outros não reconhecem que os juízos que buscam aquele equilíbrio dependem do conhecimento científico profundo sobre a natureza da ameaça, as expectativas sobre o comportamento humano face aos riscos em causa, a informação precisa sobre a situação real da epidemia em cada momento e a capacidade em antecipar a evolução dessa situação epidémica. É bom recordá-lo. E este é o momento em que isso parece ser mais necessário.
3. E apesar disso, nos últimos dias, assistimos, em vários países europeus, ao aparecimento de movimentos de protesto contra várias das medidas necessárias para minimizar os efeitos da pandemia – do uso da máscara aos diversos procedimentos de distanciamento social – antes da disponibilidade de uma vacina eficaz e segura. O alastramento deste tipo de movimentos, sem racionalidade explícita e compreensível, tem um grande potencial de tornar tudo mais difícil num futuro muito próximo.
4. Expressão extrema, desse caminho insensato, manifestou-se entre nós no passado fim de semana, através de cronista habitual de semanário de larga circulação, intitulado “A nova PIDE/DGS ao serviço do fascismo”. Estabelecer um qualquer paralelo, mesmo artificial ou simbólico, entre a PIDE de Oliveira Salazar, a DGS de Marcelo Caetano e a DGS de Direção-Geral de Saúde, deixa de ser um ponto de vista admissível, para ser um exercício pejorativo. Exercício pejorativo sublinhamos, quer para o conjunto da Saúde Pública quer, ainda, para portugueses e africanos das antigas Colónias que suportaram diretamente a repressão da polícia de Salazar e de Caetano, mas, também para Portugal que sofreu as suas consequências.
Em tempo normal, tais expressões não mereceriam a perda de tempo de lhes prestar qualquer atenção. Mas estes não são “tempos normais”.
A insensatez pode, facilmente, ganhar asas.
Os autores escrevem segundo o novo acordo ortográfico