Férias em família com adolescentes… uma dor de cabeça!

Os nossos adolescentes continuam a sentir a mesma necessidade que nós sentíamos “no nosso tempo”. Mesmo que agora sempre mediados pelo telemóvel, continuam a precisar do contacto pessoal. E isso é muito positivo.

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maria joao gala

Se tem um filho ou uma filha a atravessar a adolescência, este artigo é para si.

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Se tem um filho ou uma filha a atravessar a adolescência, este artigo é para si.

Depois de meses confinados em casa e com tantas restrições de movimentos, sempre ensombrados pelo medo do contágio, muitos de nós sentem hoje um desejo inflamado de passear e espairecer. Conviver com os familiares e amigos que vivem longe, descobrir novos recantos no país maravilhoso que temos e, quando podemos retirar a máscara, inspirar o ar puro e sentir a brisa do vento ou a frescura da água no rosto. Penso que a maior parte de nós se identifica com estas necessidades.

Mas o que dizer dos filhos adolescentes? Será que também eles querem acompanhar os pais nestas férias merecidas e tão desejadas? Serão as férias em família uma bênção ou um sacrifício para eles, especialmente este ano, depois de tanto tempo fisicamente longe dos amigos? Olho à minha volta e atrevo-me a dizer que, para os adolescentes, as necessidades são outras.

A adolescência é, por excelência, uma fase da vida em que as normas instituídas são questionadas. A autoridade parental é desafiada e, rumo a uma identidade ainda em construção, os adolescentes valorizam acima de tudo a interacção com os seus pares e a descoberta, através da experiência. Ao mesmo tempo, vivem absortos (ou deverei dizer reclusos?) nas redes sociais e na comunicação à distância de um clique. O que faz um adolescente que se preze assim que chega a um novo local? Isso mesmo, pedir a senha do wi-fi. Ficar sem Internet é o maior dos seus pesadelos, na medida em que significa, literalmente, um corte na relação com os amigos. Precisam postar e ver o que postam os outros, conversar nos 300 mil grupos de WattsApp onde estão, tirar fotos que logo editam e enviam para alguém ou algum lado.

É esta a sua realidade desde que nasceram. E por mais que nos apeteça dizer que “no nosso tempo não era assim”, de que adianta isso? Por um lado, apenas os irrita, reforçando a ideia que os pais são uns velhos que não percebem nada de nada. Por outro lado, se é bem verdade que no nosso tempo o modo como interagíamos com os amigos era diferente na forma, será que o era no conteúdo? Não eram também os amigos e namorados ou namoradas o mais importante para nós? Não olhávamos para os nossos pais como uns chatos moralistas que apenas nos coartavam as hipóteses de seremos realmente felizes? Não fazíamos de tudo para nos escapulir e estar com quem realmente tínhamos vontade de estar?

Estamos ainda em tempo de férias. Antes destas, tivemos o estudo em casa com os adolescentes e dizerem que sentiam falta, mais do que tudo, do convívio com os amigos. Pois é, do convívio presencial, pois online sempre eles o tiveram. As aulas irão decorrer… sabe-se lá como. E, novamente, ouço os adolescentes dizerem que querem voltar à escola pela oportunidade de estarem com os amigos. Ao vivo e a cores.

Parece, então, que os nossos adolescentes continuam a sentir a mesma necessidade que nós sentíamos “no nosso tempo”. Mesmo que agora sempre mediados pelo telemóvel, continuam a precisar do contacto pessoal. E isso é muito positivo.

Por isso, pais, precisam-se doses extra de paciência para as férias em família. Os adolescentes resmungam porque está calor ou porque está frio, porque a Net não tem bom sinal, porque os irmãos mais novos os chateiam na praia ou na piscina e mal respondem (ou respondem torto) às perguntas que lhes fazem. Acordam e deitam-se com os olhos postos no écrã do telemóvel, vivem com os phones enfiados nas orelhas e perguntam sistematicamente quando podem ir dormir a casa da amiga x, jantar com o amigo y ou jogar um jogo qualquer com os restantes amigos do abecedário.

Pensar nestes comportamentos, que tantas e tantas vezes exasperam os pais, como uma fase transitória é a melhor opção. Vai passar. Faz parte. E nós também já lá estivemos, ainda que tenhamos problemas de memória e não nos consigamos lembrar de forma muito nítida.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico