Uma enorme dívida com os jovens

A Europa só recuperará totalmente do impacto económico causado pelo coronavírus se usar os seus recursos para investir nos jovens

No seu primeiro discurso, no passado dia 18 de Agosto, após a saída da liderança do Banco Central Europeu, Mário Draghi avisou que a Europa só recuperará totalmente do impacto económico causado pelo  coronavírus se usar os seus recursos para investir nos jovens, na inovação e na investigação. Só assim poderemos falar de “uma boa dívida”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

No seu primeiro discurso, no passado dia 18 de Agosto, após a saída da liderança do Banco Central Europeu, Mário Draghi avisou que a Europa só recuperará totalmente do impacto económico causado pelo  coronavírus se usar os seus recursos para investir nos jovens, na inovação e na investigação. Só assim poderemos falar de “uma boa dívida”.

E sublinhou com um argumento prático com uma dimensão moral. “A dívida criada pela pandemia não tem precedentes e terá de ser paga principalmente por quem é jovem hoje”, disse ele, sublinhando: “É, portanto, nosso dever equipá-los com os meios para poderem pagar essa dívida, e poderem fazê-lo vivendo em sociedades melhoradas.”

Só olhando o futuro, se poderá evitar que os millennials, aqueles que sofrem “algo inédito numa geração”, duas profundas crises económicas, venham ainda a padecer de uma terceira crise, um pouco mais lá para a frente, quando toda a dívida contraída para combater os efeitos da pandemia tiver de ser paga.

Claro que isto é muito mais fácil de dizer do que concretizar, especialmente se o Governo não souber resistir à tentação de investir em políticas que lhe darão ganhos de curto prazo, em vez de abrir espaço para investir na qualificação dos recursos humanos, superando o crónico défice nacional nesta área. Os apelos de socorro que muito em breve ecoarão por todo o lado, seguramente não ajudarão a manter o discernimento.

Existe até uma amarga oportunidade que não deveria ser desperdiçada. Na passada segunda-feira soube-se que o ensino superior registou o maior número de candidatos, 62.675, em mais de duas décadas. As famílias poderão ter reforçado a sua crença “nas vantagens decorrentes da qualificação superior”, como afirmou o ministro Manuel Heitor, mas a economia fala ainda mais alto.

Ocupando normalmente as faixas mais frágeis do mercado de trabalho, os empregos de muitos jovens, nomeadamente no turismo, foram os primeiros a desaparecer e a retracção generalizada da economia já elevou o desemprego jovem para números de há três anos. Entre estar desocupado, à espera de um emprego que muito dificilmente vai surgir, muitas famílias terão optado por manter os jovens no sistema de ensino. Mas para muitas delas quando a crise desabar em toda a sua força não vai ser nada fácil conservá-los lá. O que torna premente não só investir na qualidade das instituições de ensino, mas muito especialmente reforçar os apoios sociais que permitirão manter os jovens a frequentá-las.

Este é um bom exemplo prático do que falava Mário Draghi e que o futuro exige.