A igreja de Paço de Arcos já tem a peça que lhe faltava: um órgão
No seu 50º aniversário, a paróquia decidiu comprar um órgão que percorreu meia Europa para aqui chegar. Esta segunda-feira à noite há concerto inaugural.
O último domingo de Agosto é sempre dia de festa em Paço de Arcos. A comunidade católica celebra o Senhor Jesus dos Navegantes e a população junta-se para assistir à procissão que começa em terra e se prolonga por barco no Tejo. Este ano, já se sabe, até as mais arreigadas tradições fugiram à normalidade e na vila oeirense o andor de Cristo não foi ao rio e o cortejo fez-se de carro.
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O último domingo de Agosto é sempre dia de festa em Paço de Arcos. A comunidade católica celebra o Senhor Jesus dos Navegantes e a população junta-se para assistir à procissão que começa em terra e se prolonga por barco no Tejo. Este ano, já se sabe, até as mais arreigadas tradições fugiram à normalidade e na vila oeirense o andor de Cristo não foi ao rio e o cortejo fez-se de carro.
Ainda assim, celebrou-se como nunca antes. Cinquenta anos depois de a igreja ter sido construída, os paroquianos entenderam que era tempo de lhe pôr a peça que estava prevista desde o princípio: um órgão de tubos. A sua música ouviu-se pela primeira vez este domingo durante a missa solene presidida pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.
Esta segunda-feira, às 21h30, há concerto inaugural com peças de Heinrich Scheidemann, Georg Böhm, Johann Gottfried Walther e, pontos altos do programa, o Prelúdio e Fuga em ré menor, de Bach, e a Sonata nº 5, de Felix Mendelssohn. O programa tem repetição no sábado, 5 de Setembro. Na quarta-feira, 2 de Setembro, e no domingo, dia 6, há mais dois concertos com programa diferente. A entrada é gratuita, mas limitada a 200 lugares.
A colocação do órgão serviu para “fechar o ciclo iniciado com a construção da igreja”, explica o pároco José Luís Costa, enquanto atrás de si o organista António Duarte (titular da Sé de Lisboa) ensaia o programa para mais logo. Projectada por João de Almeida, arquitecto fundador do Movimento de Renovação da Arte Religiosa, a igreja foi construída nos anos 1960 e já tinha o espaço para a colocação deste instrumento. “Como parte da sua formação em arquitectura foi feita na Suíça, João de Almeida habituou-se a ver igrejas com órgãos criados de raiz”, diz o padre.
A falta de dinheiro daquela época ditou que a compra fosse adiada. Por outro lado, “com a crise da Igreja depois do Concílio Vaticano II [1962-1965]”, acrescenta José Luís Costa, “a cultura de as paróquias terem o seu órgão também se foi perdendo”. Só quando se começou a preparar o 50º aniversário da paróquia, em 2018, é que se tomou a decisão de finalmente montar um órgão.
Talvez pareça estranho que em 2020 se adquira um instrumento tão inevitavelmente associado aos séculos XVII e XVIII, mas o pároco de Paço de Arcos argumenta que o órgão traz uma qualidade à liturgia católica que mais nenhum instrumento consegue. “Há uma lógica comunitária. A emanação das ondas sonoras envolve a comunidade.”
De Haia para Oeiras
Inicialmente a intenção da paróquia era mandar construir um órgão novo, mas esta opção era muito cara e muito demorada. Recorrendo a um dos poucos organeiros portugueses ainda em actividade seriam precisos três a quatro anos para ter a peça acabada. E em termos monetários “seria um projecto para 10 ou 20 anos, o que faria com que a paróquia não se pudesse dedicar a mais nada”, diz José Luís Costa.
Com a ajuda de António Duarte e da Oficina e Escola de Organaria, dos mestres organeiros Pedro Guimarães e Beate von Rohden, a comissão paroquial criada para o 50º aniversário procurou no estrangeiro por órgãos já construídos. A escolha recaiu sobre um instrumento que esteve numa igreja calvinista de Haia, na Holanda, até ao encerramento desta em 2013. Nesse ano a empresa organeira Flentrop, que o construíra, comprou o órgão e manteve-o até agora.
O instrumento chegou a Paço de Arcos num camião TIR e esteve semanas a ser montado. Tem dois teclados, como é tradição na Europa central e do Norte (mas não em Portugal e Espanha), e aproximadamente 1660 tubos. “Não sendo um órgão ibérico, aproxima-se pelo estilo de música”, garante o padre José Luís. “A sua sonoridade é mediterrânica, tem um som mais brilhante e luminoso do que os órgãos do Norte.”
Com este novo instrumento, cuja compra foi financiada em 100 mil euros pela Câmara de Oeiras, o concelho passa a dispor de dois órgãos modernos. O outro está desde 2006 na igreja paroquial de Linda-a-Velha, onde funciona a Escola de Música de Nossa Senhora do Cabo, que recentemente abriu um pólo em Paço de Arcos.