Primeira circum-navegação do planeta será capa de revista científica

A primeira circum-navegação da Terra é representada através das interacções entre proteínas.

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Como é que se pode juntar a história e a bioquímica na mesma imagem? Cientistas em Portugal fizeram-no através da representação da primeira circum-navegação do planeta. Para representar essa viagem, usaram as interacções entre proteínas. A imagem será a capa de uma edição da revista científica Journal of Proteomics, especializada das áreas da bioquímica e da proteómica, que será publicada nos próximos meses.

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Como é que se pode juntar a história e a bioquímica na mesma imagem? Cientistas em Portugal fizeram-no através da representação da primeira circum-navegação do planeta. Para representar essa viagem, usaram as interacções entre proteínas. A imagem será a capa de uma edição da revista científica Journal of Proteomics, especializada das áreas da bioquímica e da proteómica, que será publicada nos próximos meses.

A edição da revista em que consta a representação da primeira circum-navegação da Terra é dedicada à Conferência Internacional em Proteómica Analítica da Caparica (ICAP), que decorreu na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa em 2019. Neste número da revista há artigos de equipas de cientistas de França, Suíça, Portugal, Luxemburgo, Brasil, Estados Unidos, China, Chile, Emirados Árabes Unidos e da África do Sul. Há, sobretudo, trabalho em bioquímica médica, nomeadamente sobre a quantificação de milhares de proteínas para o seguimento de doenças na medicina personalizada.

E tem uma capa dedicada à primeira circum-navegação do planeta. Esta viagem foi imaginada por Fernão de Magalhães, navegador que foi ganhando conhecimentos a trabalhar para a coroa portuguesa, acabou por ser concluída pelo basco Juan Sebastián Elcano, e foi financiada pelo rei espanhol Carlos I. Esta primeira circum-navegação aconteceu há 500 anos.

A capa da Journal of Proteomics comemora precisamente essa data. “A capa está feita como são representadas as interacções entre proteínas e os caminhos bioquímicos e representa a rota seguida pela expedição com os principais pontos onde parou”, esclarece Hugo Santos, investigador da Faculdade de Ciências e Tecnologia, que desenvolveu esta imagem juntamente com José Capelo e Carlos Lodeiro (ambos da Faculdade de Ciências e Tecnologia). O químico e desenhador científico Miguel Spuch fez algumas melhorias.

Na representação, os pontos a amarelo-escuro simbolizam proteínas. Já as linhas brancas fazem a ligação entre essas proteínas. Por exemplo, se olharmos para duas proteínas, vemos que a linha liga essas proteínas porque participam num determinado processo biológico. No fundo, essas linhas simbolizam a forma como as proteínas interagem para ter uma certa função numa doença ou processo biológico. Por fim, as linhas vermelhas mostram a trajectória que os navegadores fizeram. “Acaba por ser o percurso através das proteínas que nos leva a perceber os mecanismos envolvidos numa determinada doença. É caminho para o conhecimento”, compara Hugo Santos. No entanto, no mapa enviado inicialmente pelos cientistas, a passagem do Atlântico para o Pacífico surge erradamente representada no cabo Horn quando, na realidade, Fernão de Magalhães fê-la pelo estreito que veio a receber o seu nome. 

“Da mesma forma que os exploradores percorreram milhares de quilómetros nesta viagem, nós, os bioquímicos, percorremos milhares de proteínas e as suas interacções de modo a perceber como é que estas podem ser úteis para perceber como os tumores aparecem e evoluem, como podem ser tratados e antecipar se um paciente vai responder melhor ou pior a determinado tratamento”, relata ainda o cientista. “Além disso, a visão global das proteínas permite-nos ainda identificar alvos terapêuticos.”

Esta imagem vem acompanhada por um editorial sobre a história da expedição escrito por Hugo Santos. “A capa deste número especial dedicado à 6.ª edição da ICAP comemora um acontecimento único que ocorreu há 500 anos, a primeira circum-navegação ao planeta, feita por uma expedição portuguesa e espanhola liderada pelo português Fernão de Magalhães”, lê-se no editorial. Os cientistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia esperam agora que o texto seja lido por centenas de colegas em todo o mundo.

Esta não é a primeira vez que estes investigadores publicam imagens sobre símbolos de Portugal em revistas científicas. Em Janeiro de 2018, a bandeira de Portugal foi a capa da revista internacional de química de acesso aberto ChemistryOpen. Em Novembro de 2017, quando Marcelo Rebelo de Sousa visitou a sua faculdade a propósito dos 40 anos da instituição, os cientistas ofereceram-lhe mesmo essa bandeira. Já em Janeiro de 2019 conseguiram que um galo de Barcelos vermelho, verde e amarelo a representar proteínas e interacções entre elas fosse também a capa da Journal of Proteomics.

Artigo actualizado com o mapa corrigido