Adamastor Studio: quando o folclore e o sobrenatural encontram a ilustração

Susana Diniz e Pedro Semeano partilham o gosto pelo sobrenatural e transpõem-no para os desenhos que fazem. Estiveram no Fazunchar, em Figueiró dos Vinhos, a pintar um mural (com mitologia à mistura) e foram os responsáveis pela imagem visual da festa.

Foto

São duas cabeças a pensar no mesmo. Em tudo o que fazem, há uma sinergia: “Um complementa o outro”, dizem. Não fossem eles um casal. Susana Diniz e Pedro Semeano são, desde 2016, os Adamastor. Com um estúdio sediado em Lisboa, os designers abraçaram a ilustração e o que criam é uma união das duas áreas — resultando num estilo “quase abstracto e, ao mesmo tempo, figurativo”, apresenta Pedro, 38 anos. 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

São duas cabeças a pensar no mesmo. Em tudo o que fazem, há uma sinergia: “Um complementa o outro”, dizem. Não fossem eles um casal. Susana Diniz e Pedro Semeano são, desde 2016, os Adamastor. Com um estúdio sediado em Lisboa, os designers abraçaram a ilustração e o que criam é uma união das duas áreas — resultando num estilo “quase abstracto e, ao mesmo tempo, figurativo”, apresenta Pedro, 38 anos. 

O particular gosto de ambos pelo sobrenatural e pela mitologia já vai sendo desvendado no nome que adoptaram. A famosa figura de Camões, que atormentava os navegadores que por ela tentavam passar, é metáfora para os “desafios que enfrentam para atingir o que está para lá da imaginação”, descrevem, no Behance. E a queda para o invisível é visível nos seus trabalhos: seja nos retratos do folclore português, seja numa homenagem à Terra Mãe.

Por isso mesmo, estiveram em território confortável em Figueiró dos Vinhos, no festival de arte urbana Fazunchar, onde decidiram pintar um mural a contar a Lenda do Penedo da Trombeta, conhecida na região. “Em todo o festival, as peças têm um cariz de identidade do sítio”, enquadra Susana. E quando conheceram a história de uma moura que aparece a um servo e lhe coloca ouro no cântaro, sentiram “o clique”. Trataram de a passar para uma imagem.

Foto
Susana Diniz e Pedro Semeano

Apesar de já terem feito “pinturas à mão de maior escala”, esta foi a primeira experiência dos artistas com murais. “O que estamos a fazer é a transpor o nosso trabalho habitual de ilustração para um formato maior. Mantivemos as formas entre o geométrico e o orgânico e fomos buscar essa temática que é muito nossa, o lado sobrenatural e invisível da nossa cultura”, explica a ilustradora de 32 anos.

Usaram elementos que já lhes eram familiares, “por exemplo, uma flor que é um olho” que surge no canto superior esquerdo do mural — e que é também “uma dica de que há algo estranho a passar-se na história”. Do outro lado, vemos o olho de um servo que chora, quando, conta a lenda, fica sem leite para dar ao mestre. No centro, o ponto de união entre ambos: o cântaro.

Tudo em cores “vivas e vibrantes”, as que mais gostam — apesar de terem começado num registo “mais dark” — e que se enquadram mais no trabalho que realizam, por serem apelativas. “Muitas vezes, um pré-requisito no trabalho comercial”, afiança Pedro. E são precisamente essas cores que, aliadas à geometria e fluidez dos desenhos, dão origem à identidade dos Adamastor.

Foto

No friso do mural, fizeram uma espécie de resumo da história. Além de elementos presentes na lenda, colocaram “três pepitas de ouro, que também têm um segredo”: são uma homenagem às avós de ambos, as responsáveis pelo gosto pela superstição e pelo folclore. “Como estamos a olhar para o passado de Figueiró, olhámos também para o nosso próprio passado, que influencia o nosso trabalho.”

A presença no Fazunchar não se ficou apenas pela pintura do mural. Tiveram a seu cargo a orientação de um workshop e foram os criadores da imagem visual do festival na edição deste ano, que terminou a 23 de Agosto: a partir do nome da festa, criaram um dialecto visual “que representa vários factores e mais-valias da região, tanto em termos de natureza, como actividades”, onde cada letra da palavra é transformada num símbolo. 

No currículo contam ainda com ilustrações para livros como O Museu do Pensamento, Eu sou Lobo e uma edição de autor sobre (como não podia deixar de ser) “o folclore português e o lado sobrenatural da nossa cultura”. Chama-se Abrenúncio e deverá ser relançado brevemente, em segunda edição. Estão também a cozinhar um novo livro, “dentro do tema da cultura portuguesa”, mas que “provavelmente só sairá para o final do próximo ano”, desvendam. Até lá, podemos encontrar os trabalhos da dupla no Instagram, Behance e ainda na Ó! Galeria, Cru ou Apaixonarte. Para abrir o apetite.