Califórnia. De paraíso a inferno
Em plena crise corona continuamos na nossa vida quotidiana a não considerar o determinante problema do clima com a urgência que merece.
Em 1970 os The Mamas & The Papas anunciavam o paraíso da Califórnia. Paraíso garantido por clima ameno e referências culturais “mediterrânicas” residuais da antiga colonização espanhola, características largamente apreciadas pelas classes abastadas, estrelas de cinema e também os hippies de São Francisco.
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Em 1970 os The Mamas & The Papas anunciavam o paraíso da Califórnia. Paraíso garantido por clima ameno e referências culturais “mediterrânicas” residuais da antiga colonização espanhola, características largamente apreciadas pelas classes abastadas, estrelas de cinema e também os hippies de São Francisco.
Na tarde de domingo/16 de Agosto de 2020 o famoso Vale da Morte na Califórnia registou a temperatura de 130 F, ou seja 55 graus C, talvez a mais alta temperatura jamais registada no Planeta. Ora, este local é um dos mais inóspitos do planeta, constituído por uma paisagem de ficção cientifica.
Precisamente, nos filmes desastres/ficção científica a ruptura do sistema através das alterações climáticas é sempre imaginada em mega eco-cataclismos, facilmente reconhecíveis pela Humanidade. No entanto, em plena crise corona onde podemos experimentar um “cheirinho “de distopia, na qual todas as nossas assumidas seguranças desaparecem instantaneamente, continuamos na nossa vida quotidiana, apesar dos sinais progressivamente visíveis e dos avisos permanentes da classe científica, a não considerar o determinante problema do clima com a urgência que merece.
Na Califórnia, o Verão, devido à conjugação de altas temperaturas, seca e tempestades tropicais transformadas em trovoadas “secas”, fontes de ignição de milhares de focos de incêndio em áreas mais e menos remotas, transformou-a num verdadeiro inferno. Portanto, aqui temos um exemplo concreto e nitidamente visível, digno de um “filme-desastre” anunciador de cataclismo/distópico/global, de que a Califórnia se está a transformar num imenso “Vale da Morte”.
Façamos uma comparação em números do fenómeno: No mesmo período do ano passado a Califórnia registou 4,292 wildfires nos quais arderam 56.000 hectares. Este ano o número subiu para 7002 ‘wildfires’ nos quais arderam 1 milhão e 400 mil hectares com a destruição de 12.000 estruturas. Ora num discurso “normal” de predicados e atractivos turísticos, é comum comparar Portugal à Califórnia. A 13 de Outubro de 2018, aqui no PÚBLICO eu afirmava “que segundo as estimativas de alterações do clima, a Península Ibérica vai transformar-se num imenso deserto inabitável.”
Muitos poderão considerar esta imagem alarmista, mas basta, por exemplo, consultar a “estratégia” esboçada por Costa e Silva para a Floresta Nacional, para ficarmos informados sobre o rigor, a “visão” e a efectividade da qualidade planeadora do mesmo.
Num outro artigo aqui no PÚBLICO intitulado retoricamente “Coronavírus, o dia seguinte” eu, referindo-me à pausa distópica provocada pelo vírus, perguntava: “Vamos, finalmente, aprender alguma coisa, parar para reflectir, durante esta pausa a que fomos obrigados por este ‘factor externo’, microscópica mensagem emitida pelo macro organismo onde estamos inseridos?”.
A resposta a esta pergunta fundamental, vamos obtê-la muito brevemente no determinante resultado das eleições americanas. Determinante para todo o mundo, quando o actual Presidente dos EUA, simplesmente, nega categoricamente que o problema do clima existe. Segundo ele trata-se de mais uma teoria da conspiração.