Elas querem mais mulheres no skate. Porque não é uma “brincadeira de rapazes”

Ainda é encarado por muitos por um desporto de rapazes e são raras as raparigas que se encontram na rua ou nos skateparks. Mas elas existem e querem deixar a sua marca. Agora, há um grupo no Porto a lutar por isso: o Herwheels.

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Paulo Pimenta

É uma imagem imponente aquela que se vê na Casa de Música, no Porto, numa tarde de sol: habitualmente ocupada por skaters masculinos, são oito as mulheres que hoje fazem truques nas suas pranchas. Não são as primeiras (e certamente não serão as últimas), mas estão empenhadas em revolucionar um desporto que ainda é visto como “brincadeira de rapazes”. 

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É uma imagem imponente aquela que se vê na Casa de Música, no Porto, numa tarde de sol: habitualmente ocupada por skaters masculinos, são oito as mulheres que hoje fazem truques nas suas pranchas. Não são as primeiras (e certamente não serão as últimas), mas estão empenhadas em revolucionar um desporto que ainda é visto como “brincadeira de rapazes”. 

A sua missão é “incentivar, motivar e unir as mulheres através do skate”, conta Laís Reis, a criadora do movimento Herwheels que uniu estas oito skaters. Praticante de skate há 18 anos, a jovem chegou a Portugal há dez e surpreendeu-se com a falta de mulheres a praticar o desporto, especialmente porque no Brasil já vira esta luta vencida. “Parecia que tinha de começar tudo de novo”, desabafa ao P3. 

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Laís começou por organizar alguns eventos, mas a ideia de unir as mulheres através do skate ganhou terreno há um ano, com o primeiro evento oficial do Herwheels a contar com 25 skaters. No último, no dia 24 de Junho de 2019, marcaram presença 40. Nestes eventos, promove-se a discussão sobre o skate feminino e a importância da união das mulheres, segundo explicita Laís, numa lógica de mostrar “que existem outras meninas que andam de skate”. 

Apesar desta evolução, ainda há muita vergonha, diz Laís: “As meninas só se sentem confortáveis quando vêem que há outras raparigas com interesse.” A pensar nisso, partilham fotografias e vídeo de skaters femininas de Portugal na conta de Instagram do Herwheels, de forma a incentivar a prática do desporto.

Até agora, já foram algumas as skaters que venceram o medo graças ao grupo. É o caso de Ticha, de 13 anos, que começou a praticar há dois. “No início, tinha vergonha, o Herwheels foi um apoio”, explica. “Levava o skate para a escola e quase mo destruíam.”

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Ticha. Paulo Pimenta

Com o boné na cabeça e os cabelos loiros ao vento, a skater prossegue com convicção: “A minha mãe costuma dizer: ‘ser gira é difícil’. Eu gostava de jogar futebol, de fazer skate e passava um bocadinho de vergonha...”. A jovem faz então uma pausa para depois esclarecer: “Mas, com o crescimento e a maturidade, isso passa-nos ao lado.”

Ticha está segura de querer continuar a fazer skate, mas denuncia a falta de espaços na cidade do Porto, visão que é subscrita por Raquel, de 25 anos, que há já oito faz do skate o seu passatempo, Rita e Beatriz, de 12 e 11 anos, que começaram este Verão, Tayna, de 19, que já anda nisto há dez, e Lenyta Camargo, a segunda dinamizadora do Herwheels, que pertence ao movimento equivalente no Brasil, o Gurias Skateboard

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E depois há Kali Ananda e a sua filha, Luana, de 5 anos. Kali skata com a t-shirt: “Lute como uma mãe”. Natural do Brasil, chegou ao Porto em Novembro, onde a realidade do skate é muito diferente daquela a que estava habituada. No Brasil, Kali “competia muito”: “temos um grupo, as LegendGirls, conta a skater, que já pratica há 21 anos. A filha Luana certamente não lhe ficará atrás. Até porque o pai já foi skater profissional e a família junta-se muitas vezes para praticar o desporto.

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Aos dois anos, Luana “ganhou um troféu” e ainda se lembra do feito. “Eu ganhei um troféu, você ganhou uma medalha”, comenta Luana, apontando para a mãe. Kali ri-se. De facto, desabafa, em Portugal há poucas meninas a praticar e há uma grande falta de skateparks. “Era preciso um espaço coberto”, expõe, uma realidade muito comum no Brasil. 

Apesar de já ter ganho competições, Kali, professora de ioga, sempre praticou a modalidade para “fortalecer a categoria feminina, lutar pelos direitos das mulheres”. Afinal, essa é a grande luta de Laís, que até à covid-19 vivia puramente do skate através da organização de eventos e de trabalhos em escolas de skate.

Porém, a luta não tem sido fácil: “É preciso estar muito segura do meu trabalho. Estou sempre preparada para aceitar críticas.” O que, no seu entender, se aplica a qualquer “profissão que seja dominada por homens”.

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Os olhos de Ticha iluminam-se quando se fala na possibilidade de, um dia, poder vir a ser skater profissional. O mesmo se pode dizer de Raquel, apesar de, para já, o cenário lhe parecer impossível. Já Tayna considera o skate apenas o seu desporto, mas confessa que às vezes se sente sozinha na Casa da Música.

Texto editado por Amanda Ribeiro