Covid-19: Madrid vai ter arranque faseado das aulas e menos alunos por turma

Máscaras a partir dos seis anos e testes periódicos a alunos e professores considerados como população de risco fazem parte dos planos da Comunidade de Madrid, num regresso às aulas com obras e recurso a módulos pré-fabricados.

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A presidente da Comunidade de Madrid na apresentação do plano Fernando Alvarado/EPA

Os sindicatos tinham anunciado greves e feito uma lista de exigências: menos alunos por turma, mais professores e auxiliares, mais limpeza e recursos digitais. O governo da Comunidade de Madrid criticara a ameaça e prometera para breve apresentar o seu plano: fê-lo terça-feira e incluiu praticamente tudo o que preocupava professores e pais, que agora se queixam da falta de tempo até ao arranque do ano escolar (dez dias em muitos casos) e da pouca clareza de algumas medidas.

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Os sindicatos tinham anunciado greves e feito uma lista de exigências: menos alunos por turma, mais professores e auxiliares, mais limpeza e recursos digitais. O governo da Comunidade de Madrid criticara a ameaça e prometera para breve apresentar o seu plano: fê-lo terça-feira e incluiu praticamente tudo o que preocupava professores e pais, que agora se queixam da falta de tempo até ao arranque do ano escolar (dez dias em muitos casos) e da pouca clareza de algumas medidas.

O primeiro ano escolar completo no mundo da covid-19 não vai começar na mesma data para todos os alunos – são 1,2 milhões nos níveis de ensino pré-universitário os que gere esta comunidade, que com mais de 15 mil mortos e 100 mil contágios é a mais afectada pelo novo coronavírus em Espanha (país com mais casos na União Europeia) – e será misto, com aulas presenciais e à distância a partir do 9º ano. À chegada, a temperatura será medida a todos e o uso de máscara vai ser obrigatório a partir dos seis anos (se a situação epidemiológica melhorar, passará para os 11).

Apesar do faseamento do arranque das aulas, representantes dos professores e dos directores argumentam que tudo terá de estar pronto na mesma a 9 de Setembro, altura em que voltam à escola os alunos do nono, décimo, décimo primeiro e segundo anos (243 mil).

Antes ainda vai arrancar a educação infantil – na sexta-feira, dia 4 de Setembro, até aos três anos (quase 93 mil alunos); no dia 8 de Setembro entre os três e os seis, mesma data para as crianças inscritas nos três primeiros anos da escola primária (407 mil alunos ao todo). A partir dos três anos só poderá haver 20 alunos por sala/aula, menos cinco do que até agora.

Para os restantes, as aulas começam mais tarde, a 17 de Setembro para o quarto, quinto e sexto anos (20 alunos no máximo por sala); no dia seguinte para o sétimo e oitavo (23 alunos por aula em vez dos habituais 30). Os últimos a voltar à escola vão ser os 105 mil alunos da Formação Profissional – a 18 ou a 28 de Setembro, de acordo com o grau de ensino.

A partir dos 14 anos (9ª ano) os alunos terão entre um terço e metade da carga horária semanal em aulas presenciais, com o resto do tempo de escola feito em casa. Assegurar as aulas online vai implicar que a Comunidade adquira 6000 câmaras e 70 mil computadores.

Flexibilização de horários?

Isto é o que está previsto se tudo correr bem. Mas mesmo sem considerar os piores cenários, admitem-se excepções como eventuais “medidas de flexibilização” nos horários se as escolas o solicitarem. Carmen Morillas, presidente de uma associação de pais ouvida pelo diário El País, fala num “plano cheio de lacunas” e questiona: “Como é que os pais que matricularam os filhos numa escola em parte por causa do horário se vão conseguir organizar?”. “Há alguma prova científica que tenha revelado que o coronavírus não ataca num horário contínuo mas ataca num horário intercalado?”, pergunta ainda.

Os pais criticam ainda os erros no plano, que dizem ter trocado as idades dos níveis de ensino, enquanto há representantes dos docentes a notar erros nas contas para calcular o número de alunos por turma – isto tendo em conta os 40 metros quadrados das salas standard.

E como é que as escolas se vão organizar para garantir a distância mínima de 1,5 metros entre secretárias? O governo liderado por Isabel Díaz Ayuso (do Partido Popular, direita) garante que se farão obras de adaptação nos edifícios e poderão ser usados módulos pré-fabricados para ganhar o espaço necessário.

Por outro lado, os refeitórios podem ampliar os turnos, as salas poderão ser usadas para refeições e está previsto que os alunos possam levar a comida para casa (diminuindo assim a permanência nas escolas). Os autocarros escolares também serão reforçados.

O presidente da câmara da capital espanhola, José Luis Martínez-Almeida (também do PP, na oposição em Espanha), fez saber entretanto que ofereceu ao Governo regional espaços municipais, como bibliotecas, polidesportivos e parques, para receberem aulas.

“Não há outro remédio, é preciso iniciar o regresso às aulas na fase dois” da pandemia, disse Ayuso na conferência de imprensa em que apresentou as linhas gerais do plano. A dirigente sublinhou que as várias etapas do arranque das escolas foram decididas com base na evolução da doença e serão ajustáveis por cada município e escola segundo a sua progressão.

Também por isso, a “contratação de novos professores vai ser temporária, até que as circunstâncias o exijam”. Em causa estão 10.610 professores (e um investimento de 370 milhões de euros), mas o El País faz as contas e conclui que são na verdade 6231, depois de subtraída a contratação já prevista de 1717 (uma parte desde 2018, outra incluída no plano de reforço de Julho) e os 2.662 que se destinam a escolas privadas apoiadas pelo governo.

Coordenador covid-19

Para gerir todas as medidas a tomar num cenário de contágio “o coordenador de covid em cada escola será uma figura fundamental”, detalhou o responsável da Saúde, Enrique Ruiz-Escudero, ao lado de Ayuso. “A ideia é que mesmo que se detecte um caso a vida de uma escola seja afectada o menos possível.”

Do esforço para evitar que isso chegue a acontecer fazem parte testes periódicos aos professores e alunos considerados como população de risco, mais de 100 mil testes ao pessoal docente e não docente a realizar nas próximas semanas e um estudo serológico com mais de 42 mil testes a alunos e professores Setembro a ser feito em Setembro, Dezembro e Março para perceber como é que as regras afectam a incidência da doença.

Apesar de aplaudirem muito do que foi anunciado, afirmando que o governo da comunidade só os ouviu graças à pressão da convocatória de greves, os líderes das principais centrais sindicais de professores não acreditam nas palavras de Ayuso e esperam por “factos e por um documento assinado” para ponderar suspender os pré-avisos de paralisações. A presidente da comunidade pede-lhes que o façam “pelo bem das famílias”.

As organizações de docentes mantêm a defesa de aulas presenciais em todos os níveis de ensino e queixam-se de não terem sido ouvidas nas discussões. Acima de tudo, contestam o pouco tempo disponível para acertar e pôr em prática estas medidas – teria sido preciso um mês, dizem.

Evitar o medo

Para além da adaptação a estas regras vai ser preciso ainda encaixar no novo ano lectivo tempo e espaço necessários às aulas de apoio previstas para compensar os problemas resultantes dos primeiros meses de aulas a partir de casa. Um pouco por todo o mundo houve crianças que perderam completamente o acesso à escola.

Numa altura em que outras comunidades apresentam os seus planos de luta contra a covid-19 nas escolas, a ministra da Educação do Governo central, Isabel Celáa, anunciou numa entrevista à rádio Cadena SER que estão a estudar-se “autorizações pagas ou baixas” para os pais quando um menor tiver de ficar em casa por suspeitas ou casos positivos na sua escola. “A abertura das escolas não é negociável”, sublinhou.

Os dados do Ministério da Saúde para as últimas 24 horas dão conta de 2.415 casos no país e mais 52 mortos, com Madrid a manter-se à frente no número de contágios, somando 768 no último dia. “A evolução da curva da pandemia é preocupante”, admitiu no fim do primeiro Conselho de Ministros a seguir às férias, terça-feira, o primeiro-ministro, Pedro Sánchez. O presidente do Governo de coligação dos socialistas com o Podemos pediu tranquilidade: “Não deve produzir-se um medo que nos paralise”.