Covid-19: Trump admite autorizar vacina experimental, Fauci diz que nem pensar
Imunologista norte-americano diz que o uso de uma vacina só pode acontecer quando se demonstrar a sua eficácia e segurança, caso contrário pode prejudicar outros ensaios clínicos em todo o mundo.
O principal especialista norte-americano em doenças infecciosas, o imunologista Anthony Fauci, disse que o eventual lançamento prematuro de uma vacina contra a covid-19, antes de se demonstrar a sua segurança e eficácia, pode sabotar os resultados de outras investigações em todo o mundo e adiar uma solução para a pandemia.
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O principal especialista norte-americano em doenças infecciosas, o imunologista Anthony Fauci, disse que o eventual lançamento prematuro de uma vacina contra a covid-19, antes de se demonstrar a sua segurança e eficácia, pode sabotar os resultados de outras investigações em todo o mundo e adiar uma solução para a pandemia.
Entrevistado pela agência Reuters esta terça-feira, no mesmo dia em que o jornal Financial Times noticia que o Presidente norte-americano admite autorizar a distribuição de uma vacina experimental antes das eleições de 3 de Novembro, Fauci alerta para o perigo de uma decisão desse tipo, sem nunca se referir a Donald Trump.
“O que não se deve mesmo fazer é autorizar o uso de emergência para uma vacina antes de termos um sinal da sua eficácia”, disse o cientista. “Um dos perigos de se disponibilizar uma vacina de forma prematura é que isso vai dificultar, ou mesmo impossibilitar, que outras vacinas tenham pessoas suficientes a inscreverem-se para os ensaios.”
De acordo com o Financial Times, o processo seria o mesmo que levou à autorização de emergência da cloroquina e da hidroxicloroquina, em Março, e do uso de plasma de doentes recuperados, anunciado no domingo.
A autorização concedida ao uso de cloroquina e hidroxicloroquina – medicamentos cuja suposta utilidade no combate à covid-19 foi muito promovida por Trump e pelo Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro – foi revogada pela autoridade do medicamento norte-americano no dia 15 de Junho.
Num comunicado, a FDA (Food and Drug Administration) disse que a revogação da autorização de emergência foi decidida na sequência de novos ensaios clínicos, “que levaram a concluir que o medicamento pode não ser eficaz no tratamento da covid-19 e que os seus potenciais benefícios não superam os seus potenciais riscos”.
“Eu ficaria muito preocupado se o mecanismo da autorização de emergência fosse usado para uma vacina. É muito diferente do uso de plasma como tratamento”, disse Peter Hotez, um especialista em doenças infecciosas e investigador de vacinas na Universidade de Medicina de Baylor, no Texas, ouvido pela Reuters.
Sem se referir à notícia do Financial Times, nem às acusações de Trump de que a FDA está a pôr entraves ao anúncio de uma vacina por razões políticas, Anthony Fauci disse esperar que “nada interfira com uma demonstração total de que uma vacina é segura e eficaz”.
O jornal britânico diz que a intenção da Casa Branca de conceder uma autorização de emergência a uma vacina experimental foi transmitida a líderes do Partido Democrata numa reunião a 30 de Julho.
O chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, e o secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, terão dito que a autorização poderá ser emitida em Setembro. Na altura, a principal candidata era uma vacina da AstraZeneca e da Universidade de Oxford.
A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, do Partido Democrata terá afirmado que “não pode haver atalhos” no processo de aprovação de uma vacina.