Está a ser criado um biossensor para detectar marcadores da insuficiência cardíaca em lágrimas

Foram seleccionados três projectos científicos portugueses pelo programa CaixaImpulse da Fundação “la Caixa”.

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Ao todo, foram escolhidos 23 projectos pelo CaixaImpulse Maria João Gala

A equipa de Inês Mendes Pinto quer criar um biossensor portátil para detectar biomarcadores da insuficiência cardíaca em lágrimas e outros fluidos. O objectivo do grupo de Diana Machado é desenvolver uma terapia genética para lesões da medula espinal humana. Já o de Lorena Diéguez é testar a biopsia líquida em vários doentes com cancro. Estes foram os três projectos portugueses seleccionados pelo programa CaixaImpulse da Fundação “la Caixa”. Os dois primeiros receberão um apoio que pode ir até aos 100 mil euros e o último até aos 300 mil euros.

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A equipa de Inês Mendes Pinto quer criar um biossensor portátil para detectar biomarcadores da insuficiência cardíaca em lágrimas e outros fluidos. O objectivo do grupo de Diana Machado é desenvolver uma terapia genética para lesões da medula espinal humana. Já o de Lorena Diéguez é testar a biopsia líquida em vários doentes com cancro. Estes foram os três projectos portugueses seleccionados pelo programa CaixaImpulse da Fundação “la Caixa”. Os dois primeiros receberão um apoio que pode ir até aos 100 mil euros e o último até aos 300 mil euros.

Na edição deste ano do CaixaImpulse foram seleccionados 23 projectos de investigação e inovação biomédica, sendo três deles portugueses. Estes projectos estão divididos em duas linhas. Por um lado, há a CaixaImpulse Validate, que pretende apoiar projectos no seu processo de transferência de tecnologia. Os projectos escolhidos para esta linha já têm 50 mil euros garantidos e, numa segunda avaliação, o apoio pode ir até aos 100 mil euros.

Por outro lado, existe a CaixaImpulse Consolidate, que tem como objectivo dar acompanhamento aos projectos em estados posteriores de desenvolvimento, contribuindo assim para atrair financiamento de investidores e, no final, chegar ao mercado. Aqui, os projectos podem ser apoiados até 300 mil euros.

Um biossensor portátil para a insuficiência cardíaca

O projecto coordenado por Inês Mendes Pinto, do Laboratório Internacional de Nanotecnologia (em Braga), está relacionado com a insuficiência cardíaca, que afecta pelo menos 26 milhões de pessoas no mundo. Como essas pessoas terão de se dirigir com frequência a um hospital para colheitas de uma amostra de sangue para o controlo da doença, a detecção de biomarcadores noutros fluidos e secreções pode facilitar um diagnóstico mais precoce e um maior controlo desta doença.

Por isso, Inês Mendes Pinto está a desenvolver um biossensor portátil – designado “Heart Failure-Chip” – para se identificarem biomarcadores da insuficiência cardíaca em lágrimas, bem como nos noutros fluidos e secreções corporais. Neste momento, estão a ser finalizados testes em laboratório e vai começar-se uma análise a um conjunto de cerca de 100 doentes do Hospital de São João, no Porto. O projecto está a ser desenvolvido também com a Unidade de Investigação Cardiovascular da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto em colaboração com o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto.

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Inês Mendes Pinto DR

Inês Mendes Pinto assinala que, actualmente, o diagnóstico e a monitorização obrigam a que as pessoas tenham de ir ao hospital. Para essas avaliações, são necessárias análises imagiológicas ao coração, aos sintomas e aos níveis elevados de um biomarcador molecular. O novo biossensor pretende então descentralizar os testes e fazer com que passem a ser realizados em centros de saúde ou farmácias comunitárias. Numa fase bem mais avançada os doentes poderão também conseguir fazer eles próprios essa monitorização.

Tudo isto fará com a monitorização seja mais contínua, a medicação mais personalizada e se reduzam os custos relativamente ao que já existe. “Este chip melhorará o diagnóstico e o controlo da progressão da doença, o que permitirá intervenções terapêuticas atempadas e personalizadas”, refere-se num comunicado da Fundação “la Caixa” sobre este projecto que se insere no CaixaImpulse Validate.

Uma terapia para lesões na medula espinal

Diana Machado, do i3S, é a investigadora responsável por um trabalho que tem como objectivo desenvolver uma terapia genética para as lesões na medula espinal. Todos os anos, entre 250.000 e 500.000 pessoas sofrem uma lesão na medula espinal, indica-se no comunicado. Essas pessoas podem ter uma variedade de sintomas incapacitantes que vão da perda da função motora, passando pela perda de controlo dos esfíncteres até à incapacidade de regular a pressão sanguínea. “Até à data, não existem tratamentos eficazes, porque os nervos espinhais não se conseguem regenerar”, nota-se.

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Diana Machado DR

Como agora foi identificada uma proteína que potencia a regeneração neuronal depois de uma lesão no nervo ciático e na medula espinal, a equipa de Diana Machado quer aproveitar esse conhecimento para criar uma terapia genética. Por isso, foi seleccionado também no âmbito do CaixaImpulse Validate. Concretamente, este trabalho centra-se no uso de uma versão modificada da proteína profilina-1 para induzir regeneração axonal após lesões medulares. A profilina-1 encontra-se presente nas células e regula processos de dinâmica do citoesqueleto e despertou grande interesse quando se verificou que era capaz de promover o crescimento axonal em modelos animais.

Neste momento, a equipa está a analisar os efeitos da administração da forma mutada da proteína em animais com lesões medulares num período agudo e crónico pós-lesão. E como é esta terapia? A administração da forma mutante da proteína é feita ao introduzir o seu gene num vector viral (um vírus adeno-associado) de forma intravenosa, o que permite que os neurónios passem a exprimir uma maior quantidade da profilina-1.

“Caso se verifique que, após uma lesão medular, a profilina-1 induz um aumento da regeneração nervosa e, dependendo do grau de recuperação, esta terapia tem um enorme potencial clínico”, assinala Diana Machado. “Não só poderá ter aplicações e situações de lesão do sistema nervoso, como é o caso das lesões medulares, mas também em várias doenças neurodegenerativas ou ainda após cirurgias de remoção de tumores, em que danos nervosos são bastante comuns.”

Testar a biopsia líquida

Por fim, no projecto da equipa de Lorena Diéguez, também do Laboratório Internacional de Nanotecnologia, pretende-se validar uma tecnologia já desenvolvida relacionada com células tumorais circulantes. Estas células libertam-se do tumor primário no sangue periférico e são responsáveis pela propagação do cancro a outras partes do corpo – as metástases. Porém, através de uma análise ao sangue, a análise de biópsia líquida permite fazer um seguimento contínuo e não invasivo do cancro.

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Lorena Diéguez DR

Portanto, quer testar-se esta tecnologia em 70 doentes com cancro e analisar assim o prognóstico da caracterização de células, nomeadamente das células tumorais circulantes. “O projecto consiste em validar a nossa tecnologia anteriormente desenvolvida para isolar células tumorais circulantes numa grande coorte de doentes com cancro da mama metastático”, conta a cientista. “Para isso, iremos primeiro desenvolver um protótipo para processamento e análise automático das amostras que optimizará os resultados, no máximo, em três horas.”

Inserido no CaixaImpulse Consolidate, este projecto quer assim proporcionar aos oncologistas uma ferramenta que ofereça informações personalizadas para o tratamento dos doentes. “Já demonstrámos num pequeno estudo de validação de conceito que a nossa tecnologia pode prever a recorrência do cancro até um ano antes das tecnologias convencionais”, adianta Lorena Diéguez. Desta forma, a investigadora considera que se se conseguir automatizar o processamento e análise e se demonstrar o desempenho desta tecnologia num estudo maior, poder-se-á mostrar que ela é sensível e acessível para monitorização da doença.