Covid-19: Países Baixos e Bélgica anunciam casos de reinfecção

Os dois casos surgem um dia depois de investigadores de Hong Kong terem divulgado o primeiro caso deste tipo a nível mundial. Organização Mundial da Saúde diz que reinfecções são muito raras.

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Um dos casos é o de um cidadão holandês com um sistema imunológico “deteriorado” EPA/SANDER KONING

Especialistas holandeses e belgas confirmaram esta terça-feira a identificação de pelo menos um caso de reinfecção pelo novo coronavírus nos respectivos países, um dia depois de investigadores de Hong Kong terem divulgado o primeiro caso deste tipo a nível mundial.

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Especialistas holandeses e belgas confirmaram esta terça-feira a identificação de pelo menos um caso de reinfecção pelo novo coronavírus nos respectivos países, um dia depois de investigadores de Hong Kong terem divulgado o primeiro caso deste tipo a nível mundial.

Nos Países Baixos, a virologista Marion Koopmans, assessora da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Governo holandês, confirmou que o caso identificado naquele país se trata de um cidadão holandês, um idoso com um sistema imunitário “deteriorado”, que contraiu pela segunda vez o novo coronavírus desde o início da crise pandémica, em Março.

“Todas as infecções por SARS-CoV-2 [o novo coronavírus responsável pela doença covid-19] têm uma impressão digital diferente, um código genético. As pessoas podem possuir vestígios do vírus durante muito tempo após o contágio e ocasionalmente expelir algum material genético [ácido ribonucleico - RNA] do vírus”, afirmou Marion Koopmans, em declarações à televisão holandesa NOS.

A virologista recusou-se, por precaução, a dar pormenores sobre os sintomas do doente reinfectado, uma vez que é necessário apurar se existem mais casos deste tipo e os contornos a eles associados. Marion Koopmans reconheceu, porém, que o surgimento de doentes reinfectados com o SARS-CoV-2 é uma situação que “está em linha com as expectativas científicas”, apenas “não existiam provas disso”.

“As infecções respiratórias podem ocorrer duas vezes ou até com mais frequência. Sabemos que uma pessoa não está protegida para toda a vida se tiver sido infectada uma vez e é isso que esperamos da covid-19”, concluiu Koopmans.

Já o caso identificado na Bélgica é de uma mulher que conseguiu superar o novo coronavírus, mas que teve uma recaída três meses depois da primeira infecção, segundo confirmou o virologista e assessor para a área da saúde pública do Governo belga, Marc van Ranst. Após a realização de testes à paciente reinfectada, os investigadores concluíram que se trata de uma estirpe diferente do SARS-CoV-2, indicou Marc Van Ranst, em declarações à televisão belga VTM News.

“Trata-se de uma mulher que sofreu uma recaída três meses após a primeira infecção. Conseguimos examinar geneticamente o vírus, associado às duas situações de contágio, e temos dados suficientes para determinar que é uma outra estirpe”, disse o virologista belga.

O estado de saúde da paciente belga tem evoluído de forma favorável nos últimos dias, apresentando apenas sintomas ligeiros, sem precisar de ser hospitalizada. Para Van Ranst, a confirmação de casos de reinfecção “não é uma boa notícia”, uma vez que a sua equipa de investigação, e com base na própria evolução do vírus, “estimava que o tempo entre (potenciais) novas infecções fosse mais amplo”.

O anúncio destes dois novos casos de reinfecção pelo novo coronavírus surge um dia depois de investigadores da Universidade de Hong Kong terem divulgado o caso de um homem de 33 anos, natural daquela região administrativa especial chinesa, que também voltou a estar infectado.

O doente em questão teve alta após ter sido declarado curado da doença covid-19 em Abril, mas no início deste mês o homem voltou a testar positivo depois de ter regressado de uma viagem a Espanha. Inicialmente foi equacionado que este homem poderia ser um “portador persistente” do SARS-CoV-2 e, como tal, mantinha o agente infeccioso no seu organismo desde a altura em que foi infectado.

No entanto, os investigadores da Universidade de Hong Kong afirmaram que as sequências genéticas das estirpes do vírus contraídas pelo homem em Abril e em Agosto são “claramente diferentes”. Esta descoberta poderá representar um revés para quem defende uma estratégia contra a actual pandemia sustentada na aquisição de uma presumível imunidade de grupo após a doença ser superada.

Reinfecções pelo novo coronavírus são muito raras, diz OMS

A Organização Mundial da Saúde disse esta terça-feira que os relatórios que recebeu sobre pessoas que foram reinfectadas com o novo coronavírus são muito raros, após ter conhecimento do caso de um homem de Hong Kong que foi infectado duas vezes.

De vez em quando, recebemos relatos de pessoas que fizeram o teste com resultado negativo e depois positivo, mas não é claro se isso é um problema com o teste em si ou se houve pessoas que foram, de facto, infectadas pela segunda vez”, disse a porta-voz da OMS, Margaret Harris.

Contudo, as possíveis reinfecções mencionadas “representam um número muito, muito baixo”. “Estamos perante um caso documentado entre mais de 23 milhões de casos confirmados”, lembrou a porta-voz numa referência ao caso do homem de Hong Kong que contraiu o vírus duas vezes. De acordo com Harris, outros podem surgir, mas isso “não parece ser uma ocorrência comum”.

A OMS recebe diariamente os resultados das milhares de investigações que estão a ser realizadas no mundo sobre diferentes aspectos da pandemia de covid-19, entre elas a relacionada à imunidade que um doente gera após ter superado a doença. “Precisamos de entender o que isso significa em termos de imunidade e por isso há muitos grupos que estão a seguir as pessoas, analisando os anticorpos e a tentar perceber quanto tempo dura a protecção natural”, explicou a porta-voz.

Essa imunidade, adiantou, é diferente da produzida pelas vacinas, que provocam um estímulo imunitário muito preciso, “mais potente e que dezenas de empresas farmacêuticas e de biotecnologia estão a tentar recriar para encontrar uma vacina contra o novo coronavírus”. A duração da imunidade gerada pela vacina só pode ser estabelecida após vários anos de monitorização das pessoas imunizadas.