Doentes angolanos em Portugal queixam-se de passar fome devido a atrasos nos apoios
Doentes que estão alojados em duas pensões em Lisboa protestaram em frente à embaixada de Angola. “Temos fome”, “a fome continua, podemos morrer”, diziam. Recebiam até há pouco mais de um mês uma refeição diária, para muitos a única que faziam. Acumular da dívida levou proprietário a cortar esta refeição.
Três dezenas de doentes angolanos em tratamento em Portugal queixaram-se esta segunda-feira de passar fome por causa dos atrasos nos apoios, que levou o proprietário das pensões onde moram a cortar a única refeição que recebiam. Os doentes exigem explicações da embaixada.
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Três dezenas de doentes angolanos em tratamento em Portugal queixaram-se esta segunda-feira de passar fome por causa dos atrasos nos apoios, que levou o proprietário das pensões onde moram a cortar a única refeição que recebiam. Os doentes exigem explicações da embaixada.
“Temos fome”, “a fome continua, podemos morrer” e “queremos o nosso dinheiro” são frases que se podiam ler nas placas de cartão com que os manifestantes se apresentaram hoje frente às instalações da Embaixada da República de Angola, em Lisboa.
Vieram para Portugal para realizar tratamentos que não estão disponíveis em Angola, cabendo ao Estado angolano o pagamento das suas despesas, mas queixam-se de pagamentos irregulares e, mais recentemente, de atrasos de um ano.
Os cerca de 150 doentes que estão alojados em duas pensões em Lisboa — Pensão Luanda e Pensão Alvalade —, do mesmo proprietário, recebiam até há pouco mais de um mês uma refeição diária que, para muitos, era a única que faziam.
Contudo, conforme vários manifestantes contaram à Lusa, o acumular da dívida levou o proprietário a cortar esta refeição, agudizando ainda mais a precariedade destes doentes que, tendo em conta as suas patologias, precisam de uma alimentação de qualidade e regular.
Estes angolanos não se queixam do proprietário das pensões, muito pelo contrário, pois compreendem que as dívidas são muitas e que este também tem despesas. Num dos cartazes empunhados pelos manifestantes podia mesmo ler-se “obrigado dono da pensão pelo amor ao próximo”.
Receiam agora que o próximo passo seja ficarem sem água nem electricidade, caso o Estado angolano não assuma os seus compromissos.
Vitorino Leonardo, secretário-geral da Associação de Doentes Angolanos em Portugal (ADAP), há 12 anos que está neste país a fazer tratamento de hemodiálise devido a uma doença renal. Desde que se recorda que os pagamentos são irregulares, mas agora estão a falhar há um ano.
Há 44 dias, contou, devido à dívida de três anos que o Estado angolano tem com o senhorio das duas pensões, este “fartou-se e o senhor já foi muito benevolente em aguentar estes anos todos e a dar de comer” a estes cidadãos.
Solidariedade e apoio
Na Pensão Luanda vivem cerca de 80 doentes angolanos e na Pensão Alvalade perto de 70. Aqui usufruíam da única refeição completa do dia, o que deixou de acontecer há 44 dias.
Segundo Vitorino Leonardo, muitos dos cerca de 600 doentes angolanos em Portugal estão a viver da solidariedade e de apoios de organizações, da Santa Casa da Misericórdia ou da igreja.
“São doentes com patologias muito críticas”, disse, recordando que muitos fazem quimioterapia, hemodiálise, ou têm doenças como diabetes, para quem uma alimentação regular e de qualidade é fundamental.
Contudo, acabam por ter de partilhar “um pão seco”, pois quem ajuda nem sempre tem para ajudar.
Aos 66 anos, o senhor Álvaro está em Portugal há 11 meses e queixa-se de pelo menos desde Fevereiro não receber qualquer apoio. “Há 44 dias que se cortou a alimentação, já ninguém consegue fazer a medicação, porque a alimentação não existe”, disse à Lusa, acrescentando que apenas consegue sobreviver porque frequenta uma igreja que o ajuda.
Frente à Embaixada de Angola em Lisboa, lamentou que nenhum responsável se mostre disponível para ajudar estas pessoas.
“Temos uma bandeira, um hino, uma identidade. Se o embaixador está aqui é porque jurou a bandeira em Angola. Ele está aqui por causa da comunidade angolana, deve resolver o problema dos angolanos aqui”, disse.
A agência Lusa tentou, sem sucesso, obter uma posição sobre este assunto da Embaixada da República de Angola em Lisboa, por via telefónica.