O amor e o estado de graça: 26 anos de Grace
“O Grace é um dos discos da minha vida, mas já não o consigo ouvir.” Na altura, não percebi o que quis dizer. Contudo, com algumas primaveras em cima, compreendo-o perfeitamente: há beleza que tem de ser moderada, há abismos que apenas mormente têm de ser encarados, por forma a que aconteça magia.
Esta relação comemora, este ano, 15 anos. A minha e a do Jeff Buckley, digo. Lembro-me de estar em plena Alta Coimbrã, algures por essa altura e aspirante a jornalista, a esfolhear as páginas da revista Blitz, num especial que revisitava os bastidores de um dos discos mais marcantes da história da música: Grace. Recordo-me, perfeitamente, do nome que assinava a peça, André Gomes, e recordo-me, igualmente, de sentir uma espécie de bichinho de inveja por quem escrevia com tanta harmonia sobre algo que me era, e é, tão querido.
Nunca imaginei que, anos depois, o meu caminho cruzar-se-ia com o desse escriba, porque se há algo que este álbum desperta em que o ouve é, precisamente, a inspiração — no meu caso, o de perseguir, por algum tempo, a vontade de trabalhar na área musical. Uns anos mais tarde, haveria de ter a oportunidade de ver ao vivo um dos arquitectos de Grace, o guitarrista Gary Lucas, na Galeria Zé dos Bois (ZDB), em Lisboa. Além da desilusão e de umas lágrimas de emoção, retiro desse concerto umas falas que Sérgio Hydalgo, programador da ZDB, partilharia comigo nessa altura, palavra menos palavra, que a memória já me falha: “O Grace é um dos discos da minha vida, mas já não o consigo ouvir”.
Na altura, não percebi o que quis dizer. Contudo, com algumas primaveras em cima, compreendo-o perfeitamente: há beleza que tem de ser moderada, há abismos que apenas mormente têm de ser encarados, por forma a que aconteça magia. E, sem dúvida, Grace é uma chamada até à luz, com o qual sentimos um estado de solidão que é capaz de iluminar uma noite inteira.
Por uma casualidade, levado cedo de mais, Jeff Buckley pintou retratos imaginários do que é o amor (mas, e sobretudo, o desamor), unificou a beleza da morte e da vida num só disco e fez-nos perceber que perecer pode, também, ser algo momentâneo, que se acende a cada novo olhar. Neste caso, a cada nova audição.
E é exactamente aí que se inscreve o toque pueril de Grace. Como acontece na vida, as coisas admiráveis têm de ser degustadas com grande moderação, sob o risco de anular o seu efeito nos nossos sentidos. Por isso, e apenas para escrever este texto, fui ouvir o álbum de 1994. Voltei a experienciar aquele coração partido que tinha no início do milénio; voltei a ser menina-mulher a sublinhar letras no papel. Obrigada por isso, Grace, e feliz 26.º aniversário.
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Esta relação comemora, este ano, 15 anos. A minha e a do Jeff Buckley, digo. Lembro-me de estar em plena Alta Coimbrã, algures por essa altura e aspirante a jornalista, a esfolhear as páginas da revista Blitz, num especial que revisitava os bastidores de um dos discos mais marcantes da história da música: Grace. Recordo-me, perfeitamente, do nome que assinava a peça, André Gomes, e recordo-me, igualmente, de sentir uma espécie de bichinho de inveja por quem escrevia com tanta harmonia sobre algo que me era, e é, tão querido.
Nunca imaginei que, anos depois, o meu caminho cruzar-se-ia com o desse escriba, porque se há algo que este álbum desperta em que o ouve é, precisamente, a inspiração — no meu caso, o de perseguir, por algum tempo, a vontade de trabalhar na área musical. Uns anos mais tarde, haveria de ter a oportunidade de ver ao vivo um dos arquitectos de Grace, o guitarrista Gary Lucas, na Galeria Zé dos Bois (ZDB), em Lisboa. Além da desilusão e de umas lágrimas de emoção, retiro desse concerto umas falas que Sérgio Hydalgo, programador da ZDB, partilharia comigo nessa altura, palavra menos palavra, que a memória já me falha: “O Grace é um dos discos da minha vida, mas já não o consigo ouvir”.
Na altura, não percebi o que quis dizer. Contudo, com algumas primaveras em cima, compreendo-o perfeitamente: há beleza que tem de ser moderada, há abismos que apenas mormente têm de ser encarados, por forma a que aconteça magia. E, sem dúvida, Grace é uma chamada até à luz, com o qual sentimos um estado de solidão que é capaz de iluminar uma noite inteira.
Por uma casualidade, levado cedo de mais, Jeff Buckley pintou retratos imaginários do que é o amor (mas, e sobretudo, o desamor), unificou a beleza da morte e da vida num só disco e fez-nos perceber que perecer pode, também, ser algo momentâneo, que se acende a cada novo olhar. Neste caso, a cada nova audição.
E é exactamente aí que se inscreve o toque pueril de Grace. Como acontece na vida, as coisas admiráveis têm de ser degustadas com grande moderação, sob o risco de anular o seu efeito nos nossos sentidos. Por isso, e apenas para escrever este texto, fui ouvir o álbum de 1994. Voltei a experienciar aquele coração partido que tinha no início do milénio; voltei a ser menina-mulher a sublinhar letras no papel. Obrigada por isso, Grace, e feliz 26.º aniversário.