Espanha é o país da Europa com mais novos casos por 100 mil habitantes. “As coisas não vão bem”, avisam autoridades
Numa altura em que os casos sobem para números que não eram registados há várias semanas, as autoridades dizem que “a epidemia não está descontrolada a nível nacional”, mas mostram-se preocupadas em relação a “alguns pontos específicos” do território espanhol e avisam que o número de internados está a aumentar.
A meio de Junho, a Espanha, um dos países do continente europeu mais afectados pela covid-19, atingia o número mais baixo de infecções diárias de sempre: foram 109 casos em 24 horas. Agora, é o país da Europa com mais novas infecções por cada 100 mil habitantes, segundo os dados divulgados esta sexta-feira pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa) – são 138,7 casos por cada 100 mil habitantes, valor que diz respeito aos últimos 14 dias.
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A meio de Junho, a Espanha, um dos países do continente europeu mais afectados pela covid-19, atingia o número mais baixo de infecções diárias de sempre: foram 109 casos em 24 horas. Agora, é o país da Europa com mais novas infecções por cada 100 mil habitantes, segundo os dados divulgados esta sexta-feira pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa) – são 138,7 casos por cada 100 mil habitantes, valor que diz respeito aos últimos 14 dias.
Em números absolutos, a Espanha tem, desde o início da pandemia, 377.906 casos e 28.813 mortes, mas em termos proporcionais é dos países onde a taxa de novos casos mais tem crescido, principalmente desde o desconfinamento. A tendência de crescimento de novos casos, mas também do número de vítimas mortais nas últimas três semanas, está a preocupar as autoridades de saúde e já levou Fernando Simón, director do Centro de Coordenação de Emergências Sanitárias do Ministério da Saúde espanhol, a avisar: “Não se enganem, as coisas não vão bem”.
Espanha registou 7039 esta quarta e quinta-feira, 3349 nas últimas 24 horas. Estes números integram os registos ocorridos nos últimos dias, cuja comunicação pelas administrações de saúde é feita em dias não coincidentes. Os dados revelam ainda que, nos últimos sete dias, 122 pessoas morreram com covid-19, 16 delas nas últimas 24 horas.
A taxa de incidência, um indicador utilizado por vários governos para a tomada de decisões, nomeadamente no que diz respeito à imposição de restrições nas viagens entre os países de acordo com o risco de contágio da covid-19, está a subir há várias semanas. No início de Julho, por exemplo, e segundo os dados do ECDC, este indicador situava-se nos 9,9 casos, mas um mês depois estava já nos 60,2 casos por cada 100 mil habitantes. A taxa de incidência de 138,7, registada nos últimos 14 dias, coloca a Espanha no topo da tabela do países da Europa, seguida de Malta (107), Luxemburgo (91,1), Roménia (87,9), Bélgica (55,5) e Países Baixos (46,8). Portugal surge em 14º lugar na lista do ECDC, com 27,8 casos por cada 100 mil residentes.
As autoridades de saúde já admitiram que “a epidemia não está descontrolada a nível nacional”, mas mostraram-se preocupadas em relação a “alguns pontos específicos” do território espanhol. “Se continuarmos a deixar os casos subirem, mesmo os casos leves, vamos acabar a ter muitas hospitalizações, muitos internados em unidades de cuidados intensivos e muitas mortes”, disse Simón, citado pelo El País, durante uma conferência de imprensa na tarde desta quinta-feira.
Madrid continua a ser a região responsável por um terço dos novos casos: foram 2344 nas últimas 24 horas e a região está agora perto dos 100 mil infectados. A Catalunha registou 1095 novos casos (num total de mais de 97 mil), a Andaluzia 599 (22 mil no total), o País Basco 544 (23 mil), Castela e Leão 388 (24 mil) e Aragão 350 (23 mil). Esta última região é, de acordo com os dados do ministério, a que tem uma maior taxa de incidência: existem mais de 509 casos por cada 100 mil habitantes.
Mas ainda que tenha sido mais expressivo nas últimas semanas, o aumento de infecções em Espanha está a acontecer desde o início de Julho, depois de dois meses de números em patamares “mínimos”. De acordo com os dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde, Espanha registou a 11 de Agosto um número diário de infecções que já não era atingido desde 1 de Abril, no pico da pandemia no país: foram 6015 casos em 24 horas.
Também o índice de transmissão (Rt) da doença, segundo os dados disponibilizados pela tutela, está acima de 1 desde 20 de Junho e situava-se no domingo (os últimos dados disponíveis) em 1,04. Na prática, se este valor for igual a 1 quer dizer que uma pessoa infectada vai dar origem a outro caso de infecção. Caso esteja acima de 1, o número de casos irá aumentar; se for inferior a 1, haverá uma diminuição das infecções.
Número de mortes a aumentar
O alerta do coordenador do Centro de Coordenação de Emergências Sanitárias surge na mesma semana em que foi registado um aumento significativo de mortes: nos últimos sete dias, desde dia 14 de Agosto, o país contabilizou mais 208 mortes por covid-19 quando em todo o mês de Julho morreram 90 pessoas. Além disso, 1400 pessoas com covid-19 foram hospitalizadas esta semana, um aumento em relação aos últimos registos.
Os dados do Instituto de Saúde Carlos III (actualizados a 13 de Agosto) mostram ainda que 5,3% dos casos detectados desde 10 de Maio (cerca de 97 mil) foram hospitalizados — cerca de 0,4% do total de infectados acabam por ser internados em unidades de cuidados intensivos e a mesma percentagem acaba por morrer.
Dos alertas deixados durante a conferência de imprensa desta quarta-feira, Simón não deixou de fora os jovens e o recente aumento de casos em espaços nocturnos, surtos que levaram o governo a decretar o fecho de todos os bares e discotecas na semana passada.
“Há maneiras de nos divertirmos sem colocar ninguém em risco. Os profissionais deste sector têm que fazer com que as pessoas se divirtam sem colocar ninguém em perigo. E os que estão à volta não são só as pessoas presentes naquele momento, mas também os que vão estar com esses contactos. Não vale a pena dizer que como sou jovem e não vou sofrer nada acontece, porque sabemos que cada jovem vai acabar por produzir casos na família e em pessoas idosas e vulneráveis”, repetiu Simón, pedindo ainda aos influenciadores das redes sociais para “ajudar a conter a epidemia” através da grande visibilidade e impacto que têm entre os mais jovens.
Casos mais jovens (e menos graves)
Há, no entanto, boas notícias: a pandemia tem características diferentes das que tinha em Março e os casos diagnosticados são agora em pessoas mais jovens e são menos graves, uma evolução muito semelhante, nesse aspecto, à de Portugal. A idade média dos casos detectados é agora de 39 anos nas mulheres e de 37 anos nos homens. Estes valores chegaram a ser, no pico da epidemia, de 62 e 63 anos.
Diz Simón que isto se deve principalmente ao elevado número de testes que estão a ser realizados, cerca de 60 mil por dia. Os testes à covid-19 estão a ser feitos em áreas onde existe transmissão activa, o que permite que sejam “muito direccionados”. Muitos dos casos assintomáticos ou com sintomas leves são detectados rapidamente, o que tem feito “baixar as taxas de internamento”.
Espanha esteve em estado de emergência durante mais de três meses — entre 14 de Março e 21 de Junho. Nos “piores dias” da pandemia, especialmente entre o fim de Março e o início de Abril, mais de 10 mil casos e 900 mortes foram registadas devido ao novo coronavírus.