Doente terminal pede a Macron que o deixe morrer com dignidade
Alain Cocq, de 57 anos, apela ao Presidente francês a alteração da lei. Caso contrário, prepara-se para recusar os tratamentos.
Dentro de duas semanas, Alain Cocq vai começar a recusar a alimentação assistida e os tratamentos médicos constantes que o mantêm vivo. Aos 57 anos, o francês sofre de uma doença degenerativa incurável que o prende à cama há dois anos.
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Dentro de duas semanas, Alain Cocq vai começar a recusar a alimentação assistida e os tratamentos médicos constantes que o mantêm vivo. Aos 57 anos, o francês sofre de uma doença degenerativa incurável que o prende à cama há dois anos.
Antes de começar o processo, que segundo o próprio será lento e agonizante, Alain Cocq quer persuadir Emmanuel Macron, Presidente francês a mudar a lei do país para que os profissionais de saúde possam tornar a sua morte mais rápida e menos dolorosa. A intenção foi divulgada no final de Julho através de uma carta enviada ao líder gaulês e publicada no Facebook.
Nela, o doente afirma que luta há 34 anos para viver uma vida com dignidade, tendo combatido pelos direitos das pessoas com deficiência, mas que agora já não consegue continuar a viver. “Quero referir que me encontro numa situação de saúde mental estável, confinado a um corpo disfuncional com um sofrimento incapacitante”, ressalva. “Algumas pessoas querem continuar até ao fim”, disse o francês citado pela Reuters, “mas há outras como eu que querem terminar a sua vida com dignidade”.
Nos países vizinhos, Suíça, Bélgica e Holanda, a legislação permite a morte medicamente assistida em determinados casos. Porém, o mesmo não acontece em França, o que Alain Cocq atribui à pressão da “ideologia judaico-cristã” que considera que a vida apenas deve terminar de forma natural.
Natural de Dijon, a cerca de 300 quilómetros de Paris, Cocq é alimentado através de um tubo e tem o sistema digestivo ligado a um saco. A doença já lhe causou aneurismas e, caso não tome a medicação, provoca-lhe convulsões. A dor, segundo o próprio, é excruciante. “Cheguei a um ponto em que já não é tolerável”, admite à Reuters e, por isso, diz que está na altura de “dizer stop”.
A partir de 4 de Setembro, Alain Cocq vai exercitar o seu direito de acordo com as leis francesas de se recusar a ser alimentado e assistido medicamente. Porém, vai demorar entre três e sete dias até morrer, afirma. As suas opções são resistir à dor ou serem administrados sedativos. Ainda assim, Cocq diz querer estar consciente no final do processo, o que seria possível no caso da morte medicamente assistida, mas ilegal em França.
O francês vai ter uma reunião via videoconferência com dois representantes de Macron a 25 de Agosto para apresentar o seu caso com vista a alterar a legislação. “Terei de seguir um caminho muito doloroso caso o presidente Macron não me autorize a morrer em paz”, conclui.