Investigadores procuram espécies marinhas não-nativas no Algarve e qualquer um pode ajudar

Projecto NEMA está interessado em três tipos de espécies: invasoras, subtropicais e outras “estranhas” ou pouco comuns. É o caso do caranguejo-azul ou do verme-de-fogo.

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Sean Gardner / Reuters

Lançado no início de 2019 pelo Ecoreach (o grupo de investigação do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve), o projecto NEMA (Novas Espécies Marinhas do Algarve) surgiu mediante “a necessidade de aumentar o conhecimento científico sobre algumas espécies não-nativas existentes nas zonas costeiras e estuarinas do Algarve”, tal como informa o site.

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Lançado no início de 2019 pelo Ecoreach (o grupo de investigação do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve), o projecto NEMA (Novas Espécies Marinhas do Algarve) surgiu mediante “a necessidade de aumentar o conhecimento científico sobre algumas espécies não-nativas existentes nas zonas costeiras e estuarinas do Algarve”, tal como informa o site.

Ao P3, João Encarnação, coordenador do projecto, explica que este surgiu no âmbito da sua tese de doutoramento e que “já lhe deu bastante informação sobre variadíssimas espécies”, como o caranguejo-azul (Callinectes sapidus), que, apesar de ter sido registado pela primeira vez em 2016 fora do Algarve, foi encontrado mais tarde com “de Faro até Sagres”. “Foi interessante contar com esse tipo de informação”, declara João ao P3, isto não só porque lhe permite “centralizar e organizar registos dispersos de espécies pouco estudadas”, como lhe dá a possibilidade de “informar o público em geral sobre a biologia, distribuição e possíveis cuidados a ter” com algumas delas.

O NEMA está interessado em três tipos de espécies: invasoras, subtropicais e outras “estranhas” ou pouco comuns. As espécies invasoras são aqueles que se estabelecem em “locais fora da área da sua distribuição nativa” e que “causam efeitos negativos nas espécies nativas” — por exemplo, o caranguejo-azul e a corvinata-real (Cynoscion regalis), ambos originários da América do Norte,

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Já as espécies subtropicais são “tradicionalmente mais comuns nas zonas tropicais e subtropicais, a Sul do Algarve”. Uma vez que o Algarve se situa numa zona de fronteira entre o clima temperado e a zona subtropical, é possível encontrar algumas espécies “mais características dessas águas”. Para além disso, o aumento da temperaturas média dos oceanos tem contribuído para a expansão destas espécies para Norte. É o caso do verme-de-fogo (Hermodice carunculata) e do peixe-verde (Thalassoma pavo), nativos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores.

Assente em três pilares, o NEMA promove o estudo e monitorização destas espécies não-nativas, a integração de informação submetida por voluntários e a avaliação dos impactos destas espécies, a nível ambiental, no comércio e na economia. A iniciativa baseia-se no conceito de “ciência cidadã”, segundo o qual o público em geral colabora na actividade científica. “O projecto foi criado para fomentar este tipo de colaboração”, explicita o coordenador. 

Na plataforma de ciência cidadã BioDiversity4All, estão disponíveis todos os registos já recebidos pelo NEMA. A maioria dos registos tem sido recolhida pelas redes sociais, segunda conta João Encarnação. Para colaborar, basta enviar, através deste formulário, uma fotografia da espécie com a data, o local de encontro, a forma como foi capturada ou observada e, se possível, incluir um objecto na fotografia para uma estimativa aproximada do seu tamanho. Neste momento, o projecto conta com mais de 100 observadores, mais de 200 observações e pelo menos 30 espécies diferentes já registadas.

Texto editado por Amanda Ribeiro