Administração Trump admite vender caças F-35 aos Emirados, mas tem a oposição de Israel

Os Emirados Árabes Unidos “têm dinheiro e gostariam de encomendar alguns caças F-35”, disse Donald Trump. Mas Israel vê com preocupação essa venda, temendo perder superioridade militar no Médio Oriente.

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Donald Trump disse que possível venda de caças F-35 aos EAU "está em revisão" Reuters/TOM BRENNER

A Administração Trump está a equacionar a venda de caças F-35 as Emirados Árabes Unidos (EAU), quando este país do Golfo normalizou as relações diplomáticas com Israel, num acordo histórico patrocinado por Washington. Mas o Estado hebraico, único país da região com estes caças, já manifestou a sua oposição ao negócio.

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A Administração Trump está a equacionar a venda de caças F-35 as Emirados Árabes Unidos (EAU), quando este país do Golfo normalizou as relações diplomáticas com Israel, num acordo histórico patrocinado por Washington. Mas o Estado hebraico, único país da região com estes caças, já manifestou a sua oposição ao negócio.

Escreve o The New York Times que, nas últimas semanas, responsáveis da Administração Trump se reuniram com militares dos Emirados para fazer um briefing sobre os caças F-35, o que gerou alguma apreensão no Conselho de Segurança Nacional dos EUA, devido à sensibilidade da informação.

As autoridades norte-americanas negaram que um possível negócio faça parte do acordo entre os Emirados e Israel, anunciado na semana passada, que tornou os EAU no terceiro país árabe – a seguir ao Egipto e à Jordânia – a reconhecer Israel. Em troca, Israel disse que vai suspender o seu plano de anexar mais territórios da Cisjordânia ocupada.

A possibilidade do negócio entre Washington e Abu Dhabi foi avançada na terça-feira pelo jornal israelita Yedioth Ahonoth e mereceu a rápida oposição do Governo israelita. “Nas negociações [entre Israel e EAU], Israel não mudou as suas posições consistentes quanto ao à venda de armas e tecnologias de defesa a qualquer país do Médio Oriente que possam mudar o equilíbrio militar”, disse o gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, em comunicado citado pela Reuters.

"Pedido legítimo"

Os Emirados, por seu lado, consideram que a sua intenção de adquirir os caças é “legítima” e que a normalização das relações com Israel deve acabar com “qualquer obstáculo” na venda de armamento. “Fizemos um pedido legítimo. A ideia de uma guerra com Israel já não existe”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Anwar Gargash, citado pela Reuters.

Na quarta-feira, o Presidente norte-americano, numa conferência de imprensa na Casa Branca, admitiu que os Emirados demonstram interesse em comprar alguns caças F-35. Donald Trump disse que o negócio “está em análise”, tendo em conta a conta as relações entre Israel e os EAU, e sublinhou que Abu Dhabi tem os meios financeiros para comprar os caças.

“Eles têm o dinheiro e gostariam de encomendar alguns caças F-35, o melhor caça do mundo. Veremos o que acontece”, disse Trump, citado pela Associated Press.

O negócio de vendas de armas, pretendido pelos Emirados há pelo menos seis anos, está a ser impulsionado por Jared Kushner, o genro de Donald Trump, que durante três anos tentou negociar, sem sucesso, um acordo de paz entre israelitas e palestinianos e assumiu um papel central nas negociações para a normalização das relações diplomáticas entre Israel e os Emirados.

A confirmar-se o negócio, haverá uma grande mudança no equilibro militar no Médio Oriente, uma vez que apenas Israel tem acesso a estes caças furtivos, considerados dos mais avançados e sofisticados do mundo. Desde a Guerra do Yom Kippur, em 1973, que opôs Israel a vários países árabes, a política norte-americana tem passado por garantir que o Estado hebraico tem superioridade militar em relação aos seus países vizinhos.

Contudo, mesmo que a Casa Branca avance para a venda dos F-35, o negócio poderá levar vários anos até se concretizar. Faz notar a Reuters que o último país a fazer uma encomenda destes caças foi a Polónia, e a primeira entrega não deverá chegar a Varsóvia antes de 2024.

Além disso, a venda de material militar tem de ser aprovada pelo Congresso norte-americano e, no caso concreto da política externa com Israel, está definido que os Estados Unidos devem garantir que Israel consiga proteger-se de qualquer “ameaça convencional militar credível” na região.

No limite, caso o Partido Democrata derrote o Partido Republicano nas eleições de Novembro, uma futura administração poderá reverter o negócio. Segundo o New York Times, a candidatura de Joe Biden conta com vários antigos conselheiros da presidência de Barack Obama que são bastante cépticos relativamente à venda de armas a países do Golfo, sobretudo devido à morte de civis causada pela intervenção da coligação internacional liderada pela Arábia Saudita – e de qual os Emirados fazem parte – na guerra do Iémen.

Os EAU estão também envolvidos no conflito na Líbia, que opõe o marechal Khalifa Haftar, apoiado por Abu Dhabi, Egipto, Arábia Saudita, Rússia e, indirectamente, pela França, ao Governo de Trípoli, que tem a seu lado o Qatar e a Turquia, com apoio diplomático da Itália.