Somos mais humanos quando respeitamos todas as vidas

O que aconteceu em Santo Tirso é só uma amostra de um problema muito mais vasto no nosso país que, infelizmente, não será caso isolado.

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PAULO PIMENTA

Não é novidade que no passado dia 18 de Julho um incêndio consumiu o abrigo ilegal Cantinho das Quatro Patas, em Santo Tirso, tendo ceifado dezenas de vidas. O cansaço dos voluntários, o desespero dos animais e a inacção das entidades competentes ecoam ainda na Serra da Agrela, e servem para garantir que as vidas e o sofrimento destes animais se transformem numa luta diária, hoje e sempre.

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Não é novidade que no passado dia 18 de Julho um incêndio consumiu o abrigo ilegal Cantinho das Quatro Patas, em Santo Tirso, tendo ceifado dezenas de vidas. O cansaço dos voluntários, o desespero dos animais e a inacção das entidades competentes ecoam ainda na Serra da Agrela, e servem para garantir que as vidas e o sofrimento destes animais se transformem numa luta diária, hoje e sempre.

Recentemente, o presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso foi ouvido, em audição no Parlamento, onde foi questionado sobre a inacção da câmara face aos acontecimentos. Entre muito do que foi dito, assumiu-se que caso o incêndio não tivesse atingido a área do canil ilegal e caso nunca tivesse sido aberto um inquérito sobre o mesmo, a Câmara Municipal não teria agido, de forma rápida, para socorrer estes animais, que estavam subnutridos, sem condições mínimas de habitação e sem vida social, fundamental para o seu bem-estar.

Esta quarta-feira, 18 de Julho, os organizadores da vigília Justiça Pelos Animais foram recebidos, como estava previamente agendado, pelo executivo municipal, numa reunião onde o presidente Alberto Costa e a sua equipa apresentaram resposta às nossas exigências enquanto movimento. Insistimos na necessidade de justiça e na certificação do bem-estar de todos os animais afectados pelo incêndio, não esquecendo o que se passou e assegurando continuar atentos a futuros desenvolvimentos. A reunião contou com a presença do novo veterinário municipal, que respondeu às questões relativas ao bem-estar dos animais e às medidas que foram tomadas após o incêndio e que, no final, nos acompanhou numa visita guiada ao canil municipal. A autarquia está agora a fazer aquilo que já deveria ter sido feito anteriormente, cooperando com as associações de abrigo animal e auxiliando as mesmas nas suas respectivas legalizações, fornecendo-lhes apoio e efectuando uma fiscalização dos vários abrigos no concelho. Este tipo de acções deveria ser comportamento obrigatório de todas as autarquias do país, de forma a antecipar estas adversidades.

O que aconteceu em Santo Tirso é só uma amostra de um problema muito mais vasto no nosso país que, infelizmente, não será caso isolado. Isto só reforça a nossa posição em relação a uma acção conjunta a nível de todas as autarquias, juntas de freguesia e Governo, para que haja um levantamento de todos os abrigos de animais em todos os concelhos, para garantir que canis ilegais, que não respeitem os direitos dos animais, não permaneçam abertos. É também essencial, por parte das câmaras municipais, garantir que os abrigos têm todas as condições reunidas para o combate a incêndios de modo a proteger estas vidas. Porém, mais importante que o combate é a prevenção e isso deve, desde já, ser uma prioridade. É necessário, acima de tudo, não colocar a propriedade privada acima da vida animal, garantindo que forças como a GNR, os bombeiros e respectivas entidades competentes respondam prontamente, e em segurança, às necessidades daqueles que correm perigo.

Somos mais humanos quando respeitamos todas as vidas. É impensável, em pleno século XXI, continuarmos a actuar — individual e colectivamente — como espécie que tudo pode e manda. Não é uma contradição histórica a nossa progressiva preocupação com o bem-estar animal. Este caso é um caso que não deve encaminhar repetições e, para isso, continuaremos a exigir justiça e protecção, não só pelos animais em Santo Tirso, mas também por todos aqueles que se encontram em situações semelhantes e que não se podem fazer ouvir.