A beleza, ó sim, a beleza

A minha beleza reside nesse suor metafórico que produzo durante o meu trabalho. Suar é a minha beleza e é onde quero investir para ficar ainda mais bonita.

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Decidi que quero ser ainda mais bonita. Acho que quase todos queremos. Pelo menos, nunca ouvi alguém dizer: “Epá, gostava mesmo de ser ainda mais feio/a.” Primeiro pensei numa cena drástica, tipo cirurgia plástica, mas não. Tenho demasiado medo de que corra mal e que fique ainda mais feiota e com a conta bancária depenada. Não arrisco. Depois pensei numa mudança de penteado. Ajuda sempre, há mais de mil artigos sobre o assunto, eu própria já fiz a experiência e gostei bastante — fui loura platinada, ruiva, rapei o cabelo, sei lá, já experimentei quase tudo. Esgotei essa possibilidade.

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Decidi que quero ser ainda mais bonita. Acho que quase todos queremos. Pelo menos, nunca ouvi alguém dizer: “Epá, gostava mesmo de ser ainda mais feio/a.” Primeiro pensei numa cena drástica, tipo cirurgia plástica, mas não. Tenho demasiado medo de que corra mal e que fique ainda mais feiota e com a conta bancária depenada. Não arrisco. Depois pensei numa mudança de penteado. Ajuda sempre, há mais de mil artigos sobre o assunto, eu própria já fiz a experiência e gostei bastante — fui loura platinada, ruiva, rapei o cabelo, sei lá, já experimentei quase tudo. Esgotei essa possibilidade.

Pensei também numa alimentação saudável, em vez de continuar a insistir nas merdas inenarráveis com que me alimento, mas não, por mais que leia sobre o assunto e reconheça a eficácia que possa ter, não troco o meu hambúrguer por uma salada cheia de alpista. Não sou um periquito; não tenho nada contra, mas não dá para mim. Não me parece que vá ficar mais bonita a enfardar alpista até me sentir saciada. Também pensei naquela treta da “natureza vem de dentro e blá, blá, blá.” E não tenho a menor pachorra para a música desse violino desafinado.

Por fim, pensei que não há solução. Que o que me faz sentir bela é o meu trabalho, sim, o meu trabalho. Criar coisas que me façam sentir bela por tê-las criado. Mas para lá chegar — só acontece quando nem sequer contemplo essa possibilidade — é preciso suar as estopinhas. Por isso, e se calhar, no meu caso a beleza é suor, metaforicamente falando, claro. E acreditem que detesto metáforas. Mas é isso, suor. A minha beleza reside no suor. Desde que não tenha odor. Por acaso, nesse aspecto fui abençoada pela natureza. Tenho um suor inodoro, inócuo, na realidade, quase nunca transpiro, literalmente falando.

Então concluo – e é uma conclusão tão estúpida como quase todas as conclusões, porque temos tão poucas coisas conclusivas na vida – que a minha beleza reside nesse suor metafórico que produzo durante o meu trabalho. Suar, metaforicamente falando, é a minha beleza e é onde quero investir para ficar ainda mais bonita. A beleza, ó sim, a beleza. Vou suar ainda mais, para me ser ainda mais bonita. Mesmo, e sobretudo, se a beleza surgir de formas horríveis, aos meus e aos vossos olhos. Quanto mais terrível, mais bonita.