Um “pedaço português de céu”: turismo aumenta na albufeira de Castelo de Bode

Um mar doce com 60km de extensão e a natureza em redor. Há quem lhe chame “um paraíso”, e neste Verão de fugas à covid-19 é cada vez mais procurado.

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O turismo aumentou este ano na albufeira de Castelo de Bode, no centro do país, entre 30% e 50% em busca deste “pedaço português de céu”, um mar de água doce com 60 quilómetros de extensão embrulhado na natureza. 

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O turismo aumentou este ano na albufeira de Castelo de Bode, no centro do país, entre 30% e 50% em busca deste “pedaço português de céu”, um mar de água doce com 60 quilómetros de extensão embrulhado na natureza. 

A pandemia de covid-19 levou este ano muitos portugueses a “fugir” do vírus e a fazer férias em locais mais isolados e aquela barragem foi um dos locais eleitos.

“Este ano temos tido uma procura muito grande que resulta do interesse por destinos menos massificados e estimamos um aumento global da procura na região na ordem dos 30% a 50%, para uma capacidade de alojamento que andará na ordem dos 85% a 90%, embora alguns tenham lotação esgotada”, disse à Lusa o presidente da Associação dos Empresários de Turismo do Castelo de Bode (AETCB).

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Para Jorge Rodrigues, a albufeira de Castelo de Bode continua a ser “um dos locais mais preservados e, ao mesmo tempo, mais surpreendentes” do centro do país, com “60 quilómetros de plano de água em linha recta e uma albufeira plena de cantos e recantos para desfrutar e descobrir”.

Criada em 2017, a AEACB representa 28 empresas do sector turístico e pretende “manter e aumentar a qualidade da oferta num ambiente de pura natureza”.

“Potenciar sinergias para um trabalho em rede para criar um produto global muito mais atractivo” ao nível das várias ofertas existentes no território, desde a animação às actividades náuticas, aos restaurantes e alojamentos, praias fluviais, guias turísticos e outros, é outro dos objectivos, precisou o responsável.

“Este é um plano de água muito apetecível e, com o enquadramento único de Castelo de Bode, é possível manter a qualidade ambiental e, ao mesmo tempo, criar riqueza na região e potenciar o território através do que tem de mais genuíno, como as aldeias tradicionais, a gastronomia e os vinhos, a história, o património, enfim, a qualidade de vida que aqui se respira”, destacou Jorge Rodrigues.

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Um dos próximos passos a dar pelas empresas que desenvolvem actividades turísticas na albufeira da barragem “passa pela certificação de Castelo de Bode como destino sustentável”, um selo da Biosphere Portugal que certifica a qualidade da gestão das unidades ao nível ambiental, cultural e económico.

A fazer férias há dez anos na Aabufeira de Castelo de Bode, Gonçalo Veiga acredita que este ano “faz ainda mais sentido” regressar àquele local.

O lisboeta alugou uma casa de alojamento rural encravada numa encosta com vista sobre a albufeira, com acesso directo ao cais privado e direito à utilização das embarcações de recreio, para “dez dias de férias neste pedaço português de céu com a família e mais dois casais amigos” e filhos.

“Eu venho para o Wake Villa [espaço de alojamento] há dez anos com a família e estes amigos. Os miúdos usufruem do lago, passeamos de barco, fazemos mergulho, temos actividades como o ski, wakeboard e wakesurf, temos os barcos e os equipamentos à disposição, estamos longe de tudo e de todos e tudo isto apenas a uma hora de Lisboa”, destacou Gonçalo Veiga, tendo dado conta de que, “este ano, ainda fazia mais sentido”, atendendo à pandemia.

“Estar aqui é um paraíso, longe de toda a gente e com este mar infinito para usufruir, acordar e tomar o pequeno-almoço num jardim virado para a albufeira, assistir ao pôr do Sol, jantar e ver o céu estrelado. Isto é impagável, é um sossego incrível”, afirmou.

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António Cotrim/Lusa

Nuno Eça, ex-gestor de eventos em Lisboa, investiu naquele espaço familiar de alojamento rural há cerca de dez anos, para “fugir à azáfama diária das grandes cidades”, para onde diz não querer voltar.

“Aqui estou feliz, em contacto com a natureza, com as pessoas, tenho turistas ao longo de todo o ano e que acabam por se tornar amigos, e este é o meu projecto de vida, em que me sinto realizado profissionalmente”, conta o empresário, dando conta de reservas para todo o período do Verão por parte de portugueses e com o espaço a ser mais procurado no Outono e Inverno por turistas de outros países.

A oferta turística na envolvente da albufeira, apesar de limitada, é diversificada, com espaços de alojamento destinados a um público de classe média e alta, mas também com um parque de campismo em Castelo do Bode, em Martinchel, no concelho de Abrantes, além dos hotéis e alojamentos nas cidades e vilas circundantes, como Abrantes, Tomar, Ferreira do Zêzere, Sardoal, Sertã, Vila de Rei, e outras localidades.

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Os membros da Associação dos Empresários de Turismo de Castelo do Bode (AETCB): da direita para a esquerda, Ernesto Damião, Jorge Rodrigues, Nuno Eça ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Para Ernesto Damião, concessionário há 12 anos da praia fluvial de Aldeia do Mato, em Abrantes, um equipamento que ostenta há vários anos os galardões Bandeira Azul, de Praia Acessível e de Águas Qualidade de Ouro, a zona envolvente à albufeira permite “desenhar percursos e percorrer a região à descoberta de um mundo onde tudo é mais calmo e em contacto com a natureza", desfrutando de praias fluviais mas também de uma região onde “o tempo corre mais devagar” e onde “é possível sentir e apreciar um pôr do Sol, a gastronomia, a história, a cultura e o património” edificado.

“Esta é a praia fluvial de entrada para partir à descoberta de Castelo do Bode e este ano tivemos um acréscimo na ordem dos 40% de turistas relativamente a 2019”, notou, dando conta que as pessoas “vêm por referência ou à descoberta e depois sentem o espírito e acabam por se apaixonar e por voltar”.

O empresário, que gere ainda um bar-restaurante em Aldeia do Mato e tem vários bungalows de madeira com vista sobre a barragem de Castelo do Bode e a praia fluvial, não tem dúvidas em afirmar que “a calamidade que se vive levou as pessoas a descobrir o simples, o despretensioso, a natureza e o pôr do Sol”, numa região que “ainda é muito desconhecida”.