Cientistas encontram sinais de imunidade duradoura à covid-19, mesmo em casos menos graves da doença

Alguns estudos reunidos pelo The New York Times e publicados nas últimas semanas parecem mostrar que o sistema imunitário está a guardar informação sobre o vírus para o poder combater num segundo encontro. Um dado animador que significa que a resposta do corpo ao vírus pode ser duradoura.

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Juan Ignacio Roncoroni/EPA

O nosso contacto com o coronavírus SARS-CoV-2, mesmo que não saibamos que ele aconteceu, deixa marcas no sistema imunitário, que reage produzindo anticorpos específicos contra a doença. Ainda que existam muitas questões por responder quando falamos deste tema, a comunidade científica que tem estado a monitorizar as respostas imunológicas ao vírus está agora a começar a ver sinais encorajadores de uma imunidade forte e duradoura, mesmo em pessoas que desenvolveram apenas sintomas leves da covid-19, sugere uma mão cheia de novos estudos citados pelo The New York Times.

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O nosso contacto com o coronavírus SARS-CoV-2, mesmo que não saibamos que ele aconteceu, deixa marcas no sistema imunitário, que reage produzindo anticorpos específicos contra a doença. Ainda que existam muitas questões por responder quando falamos deste tema, a comunidade científica que tem estado a monitorizar as respostas imunológicas ao vírus está agora a começar a ver sinais encorajadores de uma imunidade forte e duradoura, mesmo em pessoas que desenvolveram apenas sintomas leves da covid-19, sugere uma mão cheia de novos estudos citados pelo The New York Times.

Os anticorpos que combatem a doença, bem como as células imunológicas (células B e células T), que são capazes de reconhecer o vírus, parecem ainda estar presentes no nosso sistema meses depois de a infecção estar “resolvida” – um dado animador que significa que a resposta do corpo ao vírus pode ser duradoura.

Embora os investigadores não consigam prever quanto tempo estas respostas imunológicas vão durar — uma das grandes questões ainda sem resposta — muitos especialistas consideram estes dados uma indicação de que as células “mais dedicadas" do corpo estão a estudar o vírus e a fazer o seu trabalho e terão mais probabilidade de se conseguir defender dele se expostas novamente.

A protecção contra uma segunda infecção não pode ser totalmente confirmada até que existam provas de que o sistema imunitário da maior parte das pessoas que contacta com o vírus depois de já ter estado infectada é capaz de o “controlar”. Ainda assim, segundo Marion Pepper, imunologista da Universidade de Washington e autora de um dos novos estudos que está actualmente em análise para ser publicado na revista científica Nature, estas descobertas podem ajudar a tranquilizar as preocupações sobre a capacidade do vírus de enganar o sistema imunológico e levá-lo à “amnésia”, deixando as pessoas mais vulneráveis a episódios repetidos de doenças.

“[Vemos que] os anticorpos diminuem, mas também que se estabelecem no que parece ser uma quantidade mais baixa e estável, algo o que é observável cerca de três meses depois do início dos sintomas”, refere Deepta Bhattacharya, professor da Universidade do Arizona e autor de outro estudo que ainda não foi revisto por pares. “A resposta parece ser duradoura”.

Ainda segundo os especialistas ouvidos pelo jornal norte-americano, encontrar anticorpos tanto tempo depois de uma infecção é um sinal de que as células B ainda se estão a espalhar na medula óssea. A equipa de Marion Pepper, por exemplo, conseguiu colher células B que reconhecem o coronavírus do sangue das pessoas que já se recuperaram de manifestações menos graves da covid-19 e cultivá-las em laboratório.

Vários estudos, incluindo um publicado na sexta-feira na revista Cell, também conseguiram isolar células T que atacam o coronavírus do sangue de doentes recuperados, isto já várias semanas depois de os sintomas terem desaparecido. Quando “provocadas” com vestígios do vírus em laboratório, as células T mostraram-se prontas para combater um inimigo que já lhes era familiar. Estas boas notícias podem dar aos investigadores pistas sobre a resposta imunológica ao coronavírus, mas também ajudar na produção de uma vacina para o combater.

As diversas incertezas em torno da imunidade à covid-19 reflectem também a postura cautelosa da Organização Mundial da Saúde (OMS) ao longo do processo. Em Abril, a OMS aconselhou prudência aos países no uso de testes serológicos para retirar conclusões sobre imunidade, não só por algum défice de sensibilidade dos testes nessa fase, mas também por o mero contacto com o vírus não permitir uma avaliação rigorosa do nível e da durabilidade da protecção adquirida.

Além disso, o grau de imunidade é influenciado pela gravidade que a infecção teve no doente. De acordo com um estudo do Instituto Pasteur, em França, anunciado publicamente em Maio, uma grande maioria de pessoas doentes com covid-19 e com sintomas ligeiros cria anticorpos que as pode imunizar durante várias semanas contra a doença, o que, em teoria, protege os doentes curados de uma nova infecção no curto prazo.