Quanta Asneira!: um jogo-protesto sobre as “frases infelizes” de Bolsonaro

O Quanta Asneira! “é um jogo de cartas satírico e extremamente actual”, diz o autor Luiz André Alzer. “Eu queria chamar a atenção para essas frases infelizes do Bolsonaro.”

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lusa

Um jogo de cartas que reúne 240 “frases infelizes” do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, faz da ironia uma forma de protesto contra o Governo e, mesmo sem publicidade, tem sido um sucesso de vendas, despertando interesse até em Portugal.

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Um jogo de cartas que reúne 240 “frases infelizes” do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, faz da ironia uma forma de protesto contra o Governo e, mesmo sem publicidade, tem sido um sucesso de vendas, despertando interesse até em Portugal.

O Quanta Asneira! “é um jogo de cartas satírico e extremamente actual”, disse à Lusa o autor do jogo, o carioca Luiz André Alzer (49 anos), um jornalista com 25 anos de profissão que passou por algumas das principais redacções dos jornais do Rio de Janeiro e co-fundador da editora Máquina de Livros.

“Quando pensei no jogo, no início da quarentena, além de imaginar um jogo político e crítico, era a minha forma de protestar, só que de forma lúdica. Eu queria chamar a atenção para essas frases infelizes do Bolsonaro. Poderia ser através de um livro com depoimentos esdrúxulos, mas achei que o melhor formato seria através de um jogo com ironia e deboche. Por isso, trato as personagens de forma jocosa”, explicou.

No jogo, Bolsonaro é “Bozo”, alcunha crítica baseada no famoso palhaço que fez sucesso nos anos 1980. Os filhos são “01, 02 e 03”, típica designação militar de números nos soldados. O mentor de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, é o “Guru filósofo”. E os ministros e secretários tornaram-se “equipa de bolsominions”, como os seus seguidores são ironicamente chamados no Brasil.

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O jogo consiste em dois baralhos. No primeiro, aparecem as cinco personagens: Bozo deputado, Bozo Presidente, os filhos (01, 02 e 03), Guru Filósofo e Equipa de Bolsominions. No outro, 240 frases, 48 para cada personagem. Para cada carta em mãos, o jogador deve responder uma pergunta relacionada com uma dessas declarações. Ganha quem conseguir livrar-se das personagens, fintando as cartas que baralham a dinâmica do jogo: “Fritou o ministro”, “Panelaço”, “Apagou o tuíte” e “Cadê o Queiróz?”.

O jogo tem ainda uma função documental, provocando um exercício de memória para que as polémicas não sejam minimizadas nem esquecidas. “É um jogo documental que faz você perceber a enorme quantidade de bobagens que o Bolsonaro fala. Ao jogarem, as pessoas relembram de barbaridades que já se tinham esquecido”, apontou Alzer, considerando que esse formato permite mais eficácia do que um livro. “Ao contrário de um livro, um jogo é jogado várias vezes e, quando se usa uma forma lúdica, é muito mais fácil a assimilação”, comparou.

No jogo, aparecem frases de projecção internacional que envolvem episódios que motivaram críticas em todo o mundo, como os incêndios na Amazónia, os ataques pessoais ao Presidente francês, Emmanuel Macron, e até atritos diplomáticos com Argentina e China, por exemplo.

A ideia do Quanta Asneira! nasceu em Março, no começo da quarentena no Rio de Janeiro, quando o confinamento impunha que o passatempo fosse em família. “Eu queria que fosse um jogo para as pessoas se divertirem em casa. Imaginava que ficaríamos um mês ou dois em quarentena. Não imaginava tanto tempo com uma série de restrições”, afirmou Luiz André Alzer.

O trabalho de pesquisa duraria 20 dias, até meados de Abril, mas ainda deu tempo de incluir a última frase do jogo pronunciada ema 28 de Abril. Na altura em que o Brasil tinha passado a China no número de mortos causados pela covid-19, Bolsonaro disparou: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”.

No dia 6 de Maio, sem nenhuma publicidade, 500 exemplares do jogo foram postos à venda através da Internet. Em três meses, foram vendidos 400 jogos apenas através do boca-a-boca. Uma segunda edição, ampliada com novas frases, já está no horizonte. “Se eu fizesse publicidade, o jogo já estaria esgotado. Mas eu não queria atrair os ‘bolsominions' radicais que perturbam a vida nas redes sociais. Muitas pessoas compram os jogos para enviarem de presente para algum bolsonarista fanático na intenção de abrir-lhes os olhos”, revelou Alzer.

Alguns desses pedidos vêm do exterior, inclusive de Portugal, mas que encontram a limitação do custo do envio que pode quadruplicar os 39 reais (6,10 euros) que custa o jogo. “Entregamos em qualquer ponto do Brasil, mas, para o exterior, é inviável. Para uma quarentena, um jogo de cartas foi a opção mais rápida e mais barata do que um de tabuleiro. A vantagem desse formato é que, a partir de um pedido de Portugal, fizemos a primeira experiência de enviar os ficheiros com as cartas para a pessoa imprimir em casa. Deu certo. Agora estamos a pensar em habilitar essa alternativa para quem vive fora do Brasil. Não terá a qualidade do papel encerado que usamos, mas cumpre a sua função”, indica o autor.

Este não é o primeiro jogo de Luiz André Alzer, que acumula dois outros êxitos: Desafio Carioca (2014), um jogo de tabuleiro, e O Jogo da Lava Jato (2017), que vinha encartado no Jornal Extra, onde trabalhou durante 16 anos. Como escritor, lançou cinco livros entre os quais o best seller Almanaque dos Anos 80 (2004) que ficou durante 56 semanas como o segundo livro de não-ficção mais vendido do Brasil.