Quase duas dezenas de organizações anti-racistas demarcam-se da Frente Unitária Antifascista

As 19 organizações acusam a Frente Unitária Antifascista de ter agido de “forma desleal, oportunista e sectária” ao não as ter envolvido na organização das duas concentrações deste domingo em Lisboa e Porto num momento em que as “ameaças da extrema-direita são reais”. Também acusam dirigentes da organização de terem proferido insultos e “comentários racistas e machistas”

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A Frente Unitária Antifascista organizou este domingo duas concentrações, uma em Lisboa e outra no Porto LUSA/MANUEL FERNANDO ARAÚJO

Quase duas dezenas de organizações anti-racistas acusaram este domingo a Frente Unitária Antifascista de ter agido de “forma desleal, oportunista e sectária” na organização das duas concentrações em Lisboa e no Porto quando as “ameaças da extrema-direita são reais”, lê-se numa dura nota enviada ao PÚBLICO. Também acusam dirigentes da FUA de “insultos e comentários racistas e machistas”.

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Quase duas dezenas de organizações anti-racistas acusaram este domingo a Frente Unitária Antifascista de ter agido de “forma desleal, oportunista e sectária” na organização das duas concentrações em Lisboa e no Porto quando as “ameaças da extrema-direita são reais”, lê-se numa dura nota enviada ao PÚBLICO. Também acusam dirigentes da FUA de “insultos e comentários racistas e machistas”.

“A manifestação marcada para hoje ‘Unides contra o fascismo’ pela FUA foi organizada de forma desleal, oportunista e sectária. Sem consultar, nem envolvimento prévio, dos colectivos anti-racistas, nem mesmo das pessoas que sofreram ameaças na última semana”, lê-se no documento enviado pelo Movimento Negro e subscrito por 19 organizações anti-racistas, entre as quais o SOS Racismo. “São já vários os episódios lamentáveis nos últimos dois anos”. 

As organizações são bastante duras nas palavras e chegam inclusive a acusar dirigentes da FUA de terem expresso"insultos”, quando “não mesmo comentários racistas e machistas”, contra activistas racializados. “As ameaças da extrema-direita são reais e devem ser combatidas de forma séria”, diz a nota. 

Os subscritores entendem que a “violência e consequências do racismo da extrema-direita recaem em primeiro lugar e de forma mais brutal sobre pessoas racializadas, nomeadamente negros, ciganos e imigrantes, pelo que a sua luta não deve nem pode ser instrumentalizada para alimentar a ansiedade de protagonismo de algumas organizações e seus dirigentes”. 

O documento foi subscrito pela AFROLIS - Associação Cultural, A Gralha - Centro Social Auto-gerido, Aurora Negra, Brigada Estudantil, CABE - Comissão de Apoio às Brasileiras no Exterior, Colectivo Resistimos, Consciência Negra, Em Luta, Grupo EducAr, INMUNE - Instituto da Mulher Negra em Portugal, Khapaz - Associação Cultural de Afrodescendentes, MN.E - Mulheres Negras Escurecidas, Núcleos Antirracistas de Porto e Coimbra, PADEMA - Plataforma para o Desenvolvimento da Mulher Africana, Peles Negras, Máscaras Negras - Teatro do Escurecimento, RedelIPMCLO e Semear o Futuro. 

A Frente Unitária Antifascista organizou este domingo duas concentrações em Lisboa e Porto contra o fascismo. A Praça Luís de Camões, em Lisboa, encheu-se de gente e, no Porto, estiveram centenas de pessoas. Houve alguns colectivos que subscreveram a convocatória das concentrações. O partido LIVRE e o MAS estiveram presentes na concentração em Lisboa, bem como o vereador do Bloco de Esquerda na Câmara de Lisboa, Manuel Grilo, e a deputada não inscrita Joacine Katar Moreira. 

As concentrações foram convocadas depois de o SOS Racismo e a Frente Unitária Antifascista terem recebido na terça-feira um email, assinado pela Nova Ordem de Avis e Resistência Nacional, com uma lista de dez pessoas, três deputadas e sete activistas antiracistas e antifascistas, a dares-lhe um prazo de 48 horas para abandonarem o “território nacional”, caso contrário “medidas serão tomadas contra estes dirigentes e seus familiares”. 

Dias antes, houve uma parada com tochas e máscaras brancas em frente à sede do SOS Racismo, em Lisboa, organizada por um novo grupo de extrema-direita, a Resistência Nacional. E, na quinta-feira, um membro da Resistência Nacional ameaçou o dirigente antifascista Jonathan da Costa Ferreira

O centro comunitário antiautoritário Disgraça, na Penha de França, em Lisboa, foi atacado por três homens com cabeças rapadas, tatuagens, roupas escuras e máscaras no dia 6 de Agosto, horas depois do primeiro email da Nova Ordem de Avis que apontou os antifascistas como alvo.

A Polícia Judiciária já está a investigar as ameaças de extrema-direita, o Ministério Público abriu um inquérito-crime e o Governo ofereceu protecção especial às três deputadas visadas, Joacine Katar Moreira (não inscrita), Mariana Mortágua e Beatriz Gomes Dias (ambas do Bloco de Esquerda). Alguns activistas visados também já pediram protecção policial.