EUA sofrem derrota diplomática humilhante na ONU

Washington queria prolongar o embargo de armas ao Irão, mas só conseguiu o apoio da República Dominicana no Conselho de Segurança. Rússia propõe cimeira de líderes.

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Mike Pompeo considerou a posição do Conselho de Segurança da ONU como "indesculpável" MARTIN DIVISEK/EPA

Os Estados Unidos tiveram um dia humilhante para a sua diplomacia na sexta-feira, quando conseguiram apenas convencer um dos outros 14 países do Conselho de Segurança das Nações Unidas a apoiá-los na sua proposta de prolongar indefinidamente o embargo de venda de armas ao Irão, que vigora há 13 anos e termina em Outubro. Washington precisava de nove votos para uma eventual aprovação, mas só a República Dominicana disse sim à Administração Trump.

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Os Estados Unidos tiveram um dia humilhante para a sua diplomacia na sexta-feira, quando conseguiram apenas convencer um dos outros 14 países do Conselho de Segurança das Nações Unidas a apoiá-los na sua proposta de prolongar indefinidamente o embargo de venda de armas ao Irão, que vigora há 13 anos e termina em Outubro. Washington precisava de nove votos para uma eventual aprovação, mas só a República Dominicana disse sim à Administração Trump.

Mike Pompeo, o chefe da diplomacia norte-americana, mostrou-se desalentado com o fracasso, acusando o Conselho de Segurança de falhar no seu objectivo de manter a paz e a segurança. “O Conselho de Segurança das Nações Unidas tem responsabilidade de manter a paz e a segurança internacional. Hoje falhou no cumprimento da sua missão fundamental”, disse o secretário de Estado.

Considerando a proposta dos Estados Unidos como “razoável”, Pompeo acusou o Conselho de Segurança ao chumbá-la de “abrir caminho para que o Estado que é o principal patrocinador do terrorismo possa comprar e vender armas convencionais sem restrições específicas da ONU pela primeira vez numa década”.

Num comunicado a que o PÚBLICO teve acesso, Pompeo considerou a decisão “indesculpável” e lembrou que o Conselho de Segurança “rejeitou os apelos directos de inúmeros países do Médio Oriente ameaçados pela violência do Irão para prologar o embargo de armas”.

A proposta dos EUA não conseguiu convencer a maioria dos membros do Conselho de Segurança, optando quase todos os Estados (11) pela abstenção, enquanto Rússia e China, que se opõem fortemente à continuação do embargo, votavam contra a proposta de Washington.

Se até lá nada acontecer, o embargo da venda de armas ao Irão acabará a 18 de Outubro, quando expirar o acordo nuclear assinado, em 2015, pelo Irão e por outras seis potências mundiais, e que o Presidente dos EUA, Donald Trump, denunciou há dois anos, voltando a impor sanções económicas ao Governo iraniano.

O embaixador da China na ONU, Zhang Jun, afirmou em comunicado que o resultado da votação no Conselho de Segurança “mostra que o unilateralismo não tem apoio e que a intimidação falhará”.

Mas Washington não desistiu ainda de conseguir manter o embargo de armas ao Irão, podendo até recorrer a uma cláusula constante do acordo nuclear que prevê a reinstituição das condições pré-existentes ao documento. Isto mesmo tendo abandonado unilateralmente o cumprimento do mesmo há mais de dois anos.

Na quinta-feira, os EUA puseram a circular entre os membros do Conselho de Segurança um memorando de seis páginas em que explicavam que continuavam a ser participantes do acordo e tinham direito de accionar a cláusula.

Logo a seguir à votação, a embaixadora dos EUA na ONU reiterou esse direito: “Nos próximos dias, os Estados Unidos vão cumprir essa promessa porque não deixarão que nada os impeça de prolongar o embargo de armas”.

“A imposição de quaisquer sanções ou restrições ao Irão pelo Conselho de Segurança será recebido de forma dura e as nossas opções não são limitadas”, disse por seu lado o representante da diplomacia iraniana na ONU, Majid Takht Ravanchi, citado pela Al-jazeera. “E os EUA e quaisquer entidades que apoiem ou concordem com o seu comportamento ilegal serão responsabilizados”, acrescentou.

Cimeira mundial

O Presidente russo, Vladimir Putin, em contraste, aproveitou a oportunidade para adoptar uma posição diplomática em relação ao assunto iraniano, mostrando-se disponível para participar numa cimeira de líderes sobre o tema, de modo a evitar que os EUA accionem a cláusula do acordo e o ponham definitivamente no caixote do lixo da diplomacia internacional.

Num comunicado, Putin afirmou que “o assunto é urgente”, pois “a escalada da tensão” só “aumenta o risco de conflito”. Um cenário que o Presidente russo diz querer evitar.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, referiu-se à possibilidade de haver uma cimeira virtual, mas Putin disse aos jornalistas, segundo a Reuters, saber da sua existência, mas que ainda não tinha sido convidado.

O chefe de Estado russo reiterou o seu compromisso com o acordo nuclear assinado em 2015, mas também afirmou que quer negociar um novo acordo que impeça o Irão de desenvolver armas nucleares e controlar as suas actividades externas no Médio Oriente e fora da região.