“Traição à causa palestiniana.” Turquia e Irão denunciam acordo entre Emirados e Israel
Erdogan admite retirar embaixador turco de Abu Dhabi depois dos Emirados Árabes Unidos terem normalizado as relações diplomáticas com Israel - “um comportamento hipócrita”, segundo Ancara, e um “punhal nas costas do povo palestinano e de todos os muçulmanos”, acrescenta Teerão.
A Turquia e o Irão juntaram-se esta sexta-feira à Autoridade Palestiniana e ao Hamas para denunciar o acordo para a normalização das relações diplomáticas entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, patrocinado pela Administração Trump, considerando-o uma traição à causa palestiniana. O Presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, admitiu mesmo suspender as relações diplomáticas com Abu Dhabi e retirar o seu embaixador daquele país do Golfo Pérsico.
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A Turquia e o Irão juntaram-se esta sexta-feira à Autoridade Palestiniana e ao Hamas para denunciar o acordo para a normalização das relações diplomáticas entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, patrocinado pela Administração Trump, considerando-o uma traição à causa palestiniana. O Presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, admitiu mesmo suspender as relações diplomáticas com Abu Dhabi e retirar o seu embaixador daquele país do Golfo Pérsico.
Enquanto palestinianos queimaram bandeiras dos Emirados Árabes Unidos (EAU)e pisaram imagens de Donald Trump, Benjamin Netanyahu e do príncipe Mohammed bin Zayed, dos EAU, Erdogan liderou a ofensiva diplomática contra a assinatura do “Acordo de Abraão”, como foi designado pelos Estados Unidos.
Os Emirados tornaram-se no primeiro país do Golfo e no terceiro país árabe, depois de Jordânia e Egipto, a normalizar relações com Telavive. Em troca, Israel comprometeu-se a não anexar a parte da Cisjordânia que tinha previsto, apesar de, poucas horas depois, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, ter afirmado que “não existia qualquer mudança” no seu plano, falando antes em “adiamento” da anexação.
“A história e a consciência dos povos da região não esquecerão e nunca perdoarão o comportamento hipócrita dos Emirados Árabes Unidos que traíram a causa palestiniana em detrimento dos seus próprios interesses”, afirmou, em comunicado citado pela Reuters, o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco. No final das orações de sexta-feira, Erdogan anunciou que deu indicações ao seu ministro sobre a possibilidade de Turquia agir “no sentido de suspender os laços diplomáticos com a liderança de Abu Dhabi ou retirar o embaixador”.
O Irão, que vê na aproximação de dois dos seus rivais na região uma ameaça, denunciou um acordo “perigoso e ilegítimo” e “um punhal cravado injustamente nas costas do povo palestiniano e de todo os muçulmanos”. “O povo oprimido da Palestina e todas as nações livres jamais perdoarão a normalização das relações [dos Emirados] com o criminoso regime de ocupação israelita e a cumplicidade dos seus crimes”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano em comunicado.
O ministro Mohammad Javad Zarif falou num “teatro” orquestrado pelos Estados Unidos, respondendo ao secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, que se congratulou com um “importante passo em frente na estabilidade do Médio Oriente”.
Na Cisjordânia, o anúncio da aproximação entre Telavive e Abu Dhabi não gerou qualquer entusiasmo e foi de imediato denunciado pela Autoridade Palestiniana. “A liderança palestiniana rejeita e denuncia o anúncio surpreendente de um acordo trilateral entre Emirados Árabes Unidos, Israel e Estados Unidos”, disse Nabil Abu Rudeneineh, conselheiro do Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas. A normalização de relações entre os dois países é uma “traição a Jerusalém, a Al-Aqsa e à causa palestiniana”, declarou.
Já o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, disse que o acordo “serve a narrativa sionista”. “Este acordo encoraja a ocupação e a continuação da negação [por parte de Israel] dos direitos do povo palestiniano”, afirmou Hazem Qassem, porta-voz do Hamas.
Alguns elogios
A normalização das relações entre Telavive e Abu Dhabi está a ser encarada como uma vitória para os Estados Unidos, patrocinadores do acordo, mas também para Netanyahu, a enfrentar uma crescente contestação em Israel.
À excepção da Autoridade Palestiniana, Turquia e Irão, de onde vieram as condenações mais veementes ao acordo, a aproximação entre Israel e Emirados foi bem recebida, sobretudo devido ao anúncio da suspensão da anexação de mais territórios ocupados na Cisjordânia. Jordânia e Egipto, países árabes têm relações com Telavive, consideram que o acordo pode trazer a paz à região.
Já o Reino Unido considerou o anúncio uma “excelente notícia”. “Tinha uma esperança profunda que a anexação não ocorresse na Cisjordânia, e este acordo para suspender esses planos é um passo bem-vindo rumo a um Médio Oriente mais pacífico”, afirmou Boris Johnson. A França, pela voz do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, referiu num “passo positivo” e reforçou que o diálogo “é a única opção” para alcançar a paz na região.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que “qualquer iniciativa que possa promover a paz e segurança na região do Médio Oriente” é bem-vinda e reforçou que a anexação e “fecharia a porta às negociações e destruiria a perspectiva de um Estado palestiniano viável e a solução de dois Estados”.
Em resposta à Administração Trump, que glorificou o seu papel nas negociações entre Telavive e Abu Dhabi, o candidato do Partido Democrata às eleições presidenciais, Joe Biden, falou num “acto corajoso” dos Emirados e manifestou-se contrário a uma futura anexação de mais territórios palestinianos. Uma futura administração Biden-Harris vai estar comprometida com o “progresso” na região, garantiu. “A anexação seria um duro golpe para a causa da paz, e é por isso que me oponho agora e me vou opor enquanto presidente”, afirmou Biden.