Exercício físico, o aliado para um sistema imunitário reforçado

A actual pandemia da covid-19 levantou muitas questões sobre como o exercício pode ser benéfico contra infecções, contribuindo para uma maior imunidade.

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"A prática de actividade física é especialmente benéfica para séniores que são os mais susceptíveis a infecções em geral" Ekta Agarwal/Unsplash

O nosso sistema imunitário é uma rede altamente complexa de células e moléculas designadas para nos proteger de infecções e doenças. Está comprovado que o exercício físico tem um impacto importante e bastante positivo no funcionamento normal deste sistema.

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O nosso sistema imunitário é uma rede altamente complexa de células e moléculas designadas para nos proteger de infecções e doenças. Está comprovado que o exercício físico tem um impacto importante e bastante positivo no funcionamento normal deste sistema.

A prática regular de exercício físico, de intensidade moderada a avançada, demonstrou melhorias acentuadas nas respostas imunitárias à vacinação, diminuição de inflamações crónicas de baixo grau e melhorias de diferentes marcadores em indivíduos com diabetes, doenças cardiovasculares, obesidade, cancro, HIV, entre outras. (1)

A actual pandemia da covid-19 levantou muitas questões sobre como o exercício pode ser benéfico contra infecções, contribuindo para uma maior imunidade. Esta discussão tornou-se mais pertinente com as limitações no dia-a-dia das pessoas, entre elas, por exemplo, o acesso restrito aos ginásios e jardins públicos, onde normalmente praticamos actividade física.

Para agravar esta situação, juntam-se os efeitos negativos conhecidos do isolamento social e confinamento na imunidade. Glicocorticóides (hormonas directamente envolvidas na resposta ao stress), como o cortisol, são elevadas durante estes períodos e podem inibir muitas funções críticas ao nosso sistema imunitário. (2) As células T (células do sistema imunitário que também pertencem ao grupo de glóbulos brancos) têm uma resposta viral para regular o sistema imunitário. (3) Quando estamos sob os efeitos do stress, estas células são reduzidas, portanto a capacidade para combater infecções ou doenças também é reduzida.

Outro dos factores de extrema importância prende-se com o facto de as células manterem a sua capacidade de se reorganizar para que possam “vigiar” as áreas vulneráveis no nosso corpo (por exemplo, o aparelho respiratório superior e os pulmões) para proteger o organismo contra vírus e outros patogénicos. Este processo é também importante para minimizar o impacto do vírus e agilizar a solução viral, caso sejamos infectados.

Cada ida ao ginásio para fazer, particularmente, exercícios que estimulam o sistema cardiorrespiratório, movimenta instantaneamente biliões de células do sistema imunitário, especialmente aquelas capazes de reconhecer outras células infectadas e eliminar as mesmas. As células do sistema imunitário que são mobilizadas com o exercício físico aumentam assim a vigilância imunitária, o que, em teoria, torna-nos mais resistentes a infecções. O exercício também liberta várias proteínas que podem ajudar a manter a imunidade, principalmente citocinas derivadas de músculos, como IL-6, IL-7 e IL-15. (4) 

A curto prazo, o exercício físico pode ajudar a lidar com agentes patogénicos e, a longo prazo, a regular e a retardar as alterações que ocorram no sistema imunitário com o envelhecimento, reduzindo assim o risco de infecções. (5)

A prática de actividade física é especialmente benéfica para séniores que são os mais susceptíveis a infecções em geral, mas também identificados como a população particularmente vulnerável de contrair a covid-19.

Resumindo, é imprescindível termos e mantermos níveis de uma actividade constante, dentro das recomendações. O exercício físico, além de ter um efeito positivo directo nas células e moléculas do sistema imunitário, também é conhecido por contrariar os efeitos negativos do stress relativamente à imunidade.

Em tempos de coronavírus e nas condições em que nos encontramos hoje, a conclusão mais importante é reduzir a exposição face a outras pessoas que podem ser portadoras do vírus. Contudo, não devemos ignorar a relevância de nos permanecermos activos e saudáveis agora, em contexto de pandemia, e ao longo da nossa vida. Por isso, é fundamental que encontremos maneiras de continuar praticar exercício físico, mantendo o distanciamento social e as medidas de higienização adequadas.


(1) Duggal NA et al. Can physical activity ameliorate immunosenescence and thereby reduce age-related multi-morbidity? Nat Rev Immunol 2019 Sep;19(9):563-572.

(2) Tan T et al. Association between high serum total cortisol concentrations and mortality from COVID-19 The Lancet Diabetes & Endocrinology, Published Online June 18, 2020 (20)30216-3

(3) Kumar BV et al. Human T Cell Development, Localization, and Function throughout Life. Immunity. 2018 Feb 20; 48(2): 202–213.

(4) Benatti FB, Pedersen BK. Exercise as an anti-inflammatory therapy for rheumatic diseases—myokine regulation. Nat Rev Rheumatol 2015 Feb;11(2):86-97.

(5) Campbell JP, Turner JE. Debunking the Myth of Exercise-Induced Immune Suppression: Redefining the Impact of Exercise on Immunological Health Across the Lifespan. Front Immunol. 2018 Apr 16;9:648.