Odebrecht também terá financiado campanha de ex-Presidente do México
Antigo director da petrolífera estatal declarou ao Ministério Público que Peña Nieto e um ex-ministro aceitaram milhões da construtora brasileira para financiar a campanha eleitoral de 2012 e subornar congressistas.
O antigo presidente do México Enrique Peña Nieto terá recebido subornos da construtora brasileira Odebrecht, implicada a fundo na Lava-Jato, para financiar a sua campanha presidencial de 2012 e para comprar votos de congressistas durante a sua presidência, tendo em vista a angariação de apoios para a aprovação das suas principais reformas.
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O antigo presidente do México Enrique Peña Nieto terá recebido subornos da construtora brasileira Odebrecht, implicada a fundo na Lava-Jato, para financiar a sua campanha presidencial de 2012 e para comprar votos de congressistas durante a sua presidência, tendo em vista a angariação de apoios para a aprovação das suas principais reformas.
A acusação foi apresentada à Procuradoria-Geral da República do México por Emilio Lozoya, ex-assessor de campanha de Peña Nieto e ex-director da petrolífera estatal Petróleos Mexicanos (Pemex), também ele implicado num escândalo de enormes dimensões, que está a ser conhecido neste país latino-americano, há muito afogado em corrupção, pobreza, narcotráfico e violência.
Segundo a denúncia de Lozoya, revelada na terça-feira pelo procurador-geral Alejandro Gertz Manero, em vídeo, o antecessor do actual Presidente, Andrés Manuel López Obrador, e o seu antigo ministro das Finanças e dos Negócios Estrangeiros, Luis Videgaray, terão aceitado perto de 500 milhões de pesos mexicanos (cerca de 19 milhões de euros) da Odebrecht.
A construtora brasileira foi já implicada em escândalos de corrupção e de lavagem de dinheiro em 12 países, muitos da América Latina, cujos tentáculos, depois de revelados e investigados judicialmente, já fizeram cair políticos de topo no Brasil, na Colômbia e no Peru.
Desses 500 milhões de pesos, 100 milhões terão sido canalizados para a campanha eleitoral de 2012 do Partido Revolucionário Institucional (PRI) – que venceu a eleição e regressou à presidência do México, depois de um interregno de 12 anos, antecedido, por sua vez, de mais de 70 anos de domínio absoluto da política mexicana.
Sem precedentes
Os outros 400 milhões terão sido utilizados ao longo dos seis anos da presidência de Peña Nieto (2012-2018), para corromper, comprar votos e angariar apoios de deputados e senadores de diferentes partidos.
A aprovação das reformas económicas e eleitorais de 2013 e 2014 – bandeiras de campanha do PRI, que prometeu modernizar a economia e a administração pública mexicanas – dependeu, em grande medida, desta distribuição do dinheiro da Odebrecht pelas diferentes alas do Congresso da União, informa o jornal mexicano El Universal.
Assim, tendo em conta o conteúdo e os implicados na acusação, e os recibos, vídeos e nomes de testemunhas facultados por Lozoya, o Ministério Público mexicano “abriu uma investigação e vai iniciar todos os procedimentos jurídicos”, anunciou o procurador-geral. É muito provável que o ex-Presidente seja agora chamado a testemunhar.
“Acredito que este é um dos eventos mais importantes dos últimos anos no México”, admitiu o cientista político Jesús Silva-Herzog Márquez, citado pelo diário norte-americano Washington Post.
“Não há precedentes de um caso em que um antigo detentor de um cargo público de topo implica um ex-Presidente e apresenta uma acusação formal contra ele”, sublinhou.
Cooperação judicial
A denúncia contra Peña Nieto e Videgaray surgiu na sequência da detenção de Emilio Lozoya em Espanha e subsequente extradição para o México.
Lozoya foi responsável pela estratégia internacional da campanha eleitoral de Peña Nieto e, uma vez conseguida a eleição do seu chefe, foi nomeado para a direcção da Pemex, cargo que ocupou entre 2012 e 2016. No exercício das suas funções, foi acusado de ter aceitado mais de dez milhões de dólares em subornos da Odebrecht.
Lozoya declarou-se inocente e, segundo a AFP, disse ao Ministério Público que foi “intimidado, pressionado, influenciado e instrumentalizado” pelos seus superiores, incluindo o Presidente e o ministro. O ex-director da Pemex pôs-se à disposição de Alejandro Gertz Manero, para colaborar com a Justiça, e está em prisão domiciliária, com pulseira electrónica.
Eleito em 2018 com um forte discurso anticorrupção e anti-sistema, o presidente Obrador mostrou-se satisfeito com a cooperação de Lozoya e espera que a mesma traga resultados.
“Como actor principal em todo este assalto, Lozoya [pode revelar] como foi distribuído o bolo”, reagiu “AMLO”, como é habitualmente referido o chefe de Estado no México. “É muito importante que possamos recuperar tudo o que nos foi roubado.”