Observada galáxia “bebé” distante, mas parecida com a “madura” e próxima Via Láctea

Galáxia em formação, mas com estruturas distintas como as observáveis na Via Láctea, “contradiz as teorias que apontam para que todas as galáxias no Universo primordial sejam turbulentas e instáveis”.

Foto
Para obterem a verdadeira forma da galáxia, os astrónomos tiveram de trabalhar os dados registados pelo radiotelescópio ALMA com uma nova técnica de modulação computacional ALMA (NRAO/ESO/NAOJ)/Martin Kornmesser (ESO)

Astrónomos observaram uma galáxia “bebé” distante, em formação, mas parecida com a “madura” e próxima Via Láctea, o que pode indiciar que os primórdios do Universo não eram tão caóticos como se pensava anteriormente, foi esta quarta-feira divulgado.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Astrónomos observaram uma galáxia “bebé” distante, em formação, mas parecida com a “madura” e próxima Via Láctea, o que pode indiciar que os primórdios do Universo não eram tão caóticos como se pensava anteriormente, foi esta quarta-feira divulgado.

A galáxia SPT0418-47, cuja luz demora mais de 12 mil milhões de anos a chegar à Terra, apesar de não ter a forma de uma espiral como a Via Láctea, tem duas características que são comuns a ambas: um disco em rotação e um bojo (grupo de estrelas compactadas na região central da maioria das galáxias espirais).

Em comunicado, o Observatório Europeu do Sul (OES) refere que se trata da primeira vez que um bojo galáctico “é visto tão cedo na história do Universo”, fazendo da SPT0418-47 “a galáxia semelhante à Via Láctea mais distante observada até à data”.

As observações foram feitas com o auxílio do radiotelescópio ALMA, no Chile, do qual o OES é parceiro. A galáxia surgiu quando o Universo tinha 1,4 mil milhões de anos (a teoria do Big Bang estima que o Universo terá 13,8 mil milhões de anos).

“A grande surpresa foi descobrir que esta galáxia é, de facto, muito semelhante a galáxias próximas, contrariamente a todas as expectativas baseadas em modelos e observações anteriores menos detalhados”, afirma, citado pelo OES, um dos co-autores do trabalho, Fillippo Fraternali, do Instituto Astronómico Kapteyn, da Universidade de Groningen, na Holanda.

Um Universo primordial menos turbulento?

No Universo primordial, as galáxias jovens estão em formação, pelo que os astrónomos esperavam que a SPT0418-47 fosse caótica e “sem estruturas distintas, típicas de galáxias mais maduras como a Via Láctea”, assinala o comunicado do OES, acrescentando que a galáxia SPT0418-47 é “pouco caótica”, o que “contradiz as teorias que apontam para que todas as galáxias no Universo primordial sejam turbulentas e instáveis”.

“Esta descoberta inesperada sugere que o Universo primordial pode não ser tão caótico como se pensava, levantando muitas questões sobre como é que uma galáxia tão bem ordenada se pode ter formado tão cedo após o Big Bang”, realça o OES, organização astronómica da qual Portugal faz parte.

Para observar em detalhe uma galáxia longínqua como a SPT0418-47, os astrónomos socorreram-se do efeito de lente gravitacional gerado por uma galáxia próxima, que distorce e curva a luz da SPT0418-47, fazendo com que esta galáxia surja deformada, mas bastante ampliada e, portanto, mais visível.

A SPT0418-47 aparece ao observador sob a forma de “um anel de luz quase perfeito situado em torno da galáxia próxima, o que ocorre devido ao alinhamento quase exacto” entre as duas galáxias.

Para obterem a verdadeira forma da galáxia e o movimento do seu gás, os astrónomos tiveram, no entanto, de trabalhar os dados registados pelo radiotelescópio ALMA com uma nova técnica de modulação computacional.

Apesar das semelhanças com as galáxias espirais como a Via Láctea, a SPT0418-47 evoluirá muito provavelmente para uma galáxia elíptica, defendem os autores da investigação, publicada na revista científica Nature, sem esclarecer os motivos.

Os astrónomos esperam que estudos futuros possam clarificar quão típicas são estas galáxias “bebés”, e se são todas menos instáveis do que o previsto, e, assim, compreender melhor como as galáxias evoluíram.