Escultura de rosto de Miguel Torga em raiz gera polémica e atrai curiosos

A peça está a gerar muitas reacções, principalmente nas redes sociais. Enquanto uns elogiam a intervenção, outros criticam, defendendo que a raiz deveria ter ficado inalterada. Câmara Municipal de Sabrosa e o Espaço Miguel Torga demarcaram-se da iniciativa.

Foto
LUSA/PEDRO SARMENTO COSTA

A escultura do rosto de Miguel Torga na raiz de um negrilho está a gerar polémica e durante o dia de hoje foram muitos os curiosos que foram ver a peça a São Martinho de Anta, em Sabrosa.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A escultura do rosto de Miguel Torga na raiz de um negrilho está a gerar polémica e durante o dia de hoje foram muitos os curiosos que foram ver a peça a São Martinho de Anta, em Sabrosa.

A iniciativa é da responsabilidade da Junta de Freguesia de São Martinho de Anta e Paradela de Guiães, a escultura foi feita por Óscar Rodrigues, um artista que trabalha com uma motosserra, e o objectivo foi homenagear Miguel Torga na data do seu aniversário, que se assinala na quarta-feira.

José Gonçalves, presidente desta junta de freguesia, disse à agência Lusa que durante esta terça-feira foram muitas as pessoas que se deslocaram à localidade para verem a peça, que vai ficar instalada no largo do Eirô, local original onde estava o negrilho de grande porte, que secou há uns anos e ficou imortalizado na obra do escritor e médico. A raiz tem aproximadamente três toneladas. De um lado, pode ver-se o rosto de Torga, onde se percebem traços característicos do autor como o nariz longo e os lábios finos, e do outro mantiveram-se as enormes ramificações que se entrelaçam e se fundem.

A peça está a gerar muitas reacções, principalmente nas redes sociais, entre os que elogiam a intervenção e os que criticam, os quais, em muitos casos, defendem que a raiz deveria ter ficado inalterada. Entretanto, a Câmara Municipal de Sabrosa e o Espaço Miguel Torga demarcaram-se e esclareceram que são “totalmente alheios” à intervenção na raiz do negrilho.

Questionado pela Lusa, João Luís Sequeira, director do Espaço Miguel Torga, apenas disse que poderia “ter havido mais diálogo” entre as várias entidades sobre a forma como poderia ser usada a raiz e que poderiam ter sido “consideradas outras opções”.

Na sua opinião, por um lado o “negrilho valia por si, era uma árvore sumptuosa” e, por outro lado, “havia uma memória colectiva do negrilho” e a “memória que o Torga deixou com o poema”. O autor escreveu o poema Negrilho inspirado naquela árvore de grande porte.

O presidente da Câmara de Sabrosa, Domingos Carvas, esclareceu que a raiz e a intervenção são “inteiramente da responsabilidade da junta”, referiu que ainda não viu a peça e adiantou que, provavelmente, irá a São Martinho de Anta na quarta-feira, dia de aniversário de Torga.

Por sua vez, José Gonçalves afirmou que a raiz estava a entrar em podridão e que, por isso, “foi preciso agir o mais rápido possível”, tendo-se optado pela escultura do rosto daquele que é um dos autores mais conhecidos do Douro e Trás-os-Montes. “Tem muito mais sentido fazer esta intervenção no negrilho, árvore que ele imortalizou através da sua escrita. A alma, a essência, está nisso”, afirmou o escultor Óscar Rodrigues.

Depois de terminada a escultura, a madeira foi tratada com vista à sua preservação e protecção. O autarca de freguesia acredita que a peça que foi chamada Torga e as suas raízes vai “atrair muita gente” a esta localidade do distrito de Vila Real e salientou que não quer “alimentar mais polémicas”.

Torga, cujo nome de baptismo era Adolfo Correia da Rocha, nasceu a 12 de Agosto de 1907 em São Martinho de Anta e morreu, em Coimbra, em 1995. Muitos visitantes chegam já à sua terra natal de Miguel Torga guiados pela sua obra e ali é possível ver a casa onde residiu e que está a ser alvo de uma intervenção por parte da Direcção-Regional de Cultura do Norte (DRCN) ou subir à capela da Senhora da Azinheira.