Dia 91: Os avós amam os netos como amam os filhos
Uma mãe/avó e uma filha/mãe falam de educação. De birras e mal-entendidos, de raivas e perplexidades, mas também dos momentos bons. Para avós e mães, e não só.
Querida Ana,
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Querida Ana,
Dá-me os parabéns, acabo de celebrar dez anos de avó. Sou avó há dez anos, vou dar uma festa. Sim, é claro, que isto só aconteceu porque foste mãe, e logo de gémeas, mas isso agora não interessa nada, embora também possas vir à minha festa se te apetecer!
Lembro-me tão bem daquele dia, lembro-me tão bem da primeira vez que as vi, de gorros às risquinhas, tão pequeninas e perfeitas, e desatei a chorar, apaixonada. Para os avós é fácil, porque é apenas reconhecer um sentimento que já conhecem de cor e salteado, amam os netos como amam os filhos, é uma entrega que não tem nada que saber, com a vantagem de que desta vez não estão a recuperar da violência do parto ou da anestesia de uma cesariana. O mais difícil vem depois quando, de repente, percebemos que o papel que nos está reservado é o de retaguarda; que aqueles bebés não são nossos, nem voltam para casa connosco.
Volto a um texto que escrevi então, e que descreve a intensidade com que me tornei avó. Deixo-to aqui porque quero que fiques com ele:
Obrigada Ana, por teres feito de mim avó.
Love you, Mummy
Querida Avó, parabéns!!!
Bolas, dez anos já é muito! Tem toda a razão, há dez anos não nasceram só dois bebés, nasceu uma mãe e uma avó (e um pai, avô, tios, tia-avó, etc.) por isso sim, devíamos celebrar todos juntos uma década passada nos nossos novos papéis. E sabe o que me deixa também feliz? Termos conseguido que estes novos “postos” não nos afastassem uma da outra. Conseguimos que as discordâncias ou pequenos conflitos não minassem a nossa relação, e fomos capazes, quase sempre, não sempre, mas quase sempre, de respeitar o espaço de cada uma. Venha a festa, porque não nos limitámos a vê-las crescer, aprendemos a crescer com elas.
Confesso que pensar no meu papel de mãe no dia em que fazem dez anos ainda me faz estremecer um pouco. Porque olho-as e sei que no primeiro dia que passaram no mundo, não estive com elas. Que neste dia tão especial, não as vi. Não as pude tocar ou abraçar. Estava com tantas dores, com tanto medo e em estado de choque pela forma sinistra como correu a cesariana, que nem sequer senti esse dia como o dia em que me tornei mãe.
Mas hoje, tão mais apaziguada com a história do nascimento delas e sabendo no fundo do mais fundo de mim que, por mais importante que seja o momento do parto, e é, não determina nem o vínculo, nem a relação que depois se cria, estou disposta a falar de tudo isto. Por mim, e por todas as mães que passam pelo mesmo, porque o pior de tudo é uma mãe sentir-se absolutamente sozinha nestas emoções, imaginar-se a pior mãe do mundo porque não abraçou imediatamente o seu bebé perfeito e perfumado, sentindo num relâmpago as emoções maravilhosas que lhe disseram que ia viver. Às vezes demora tempo, mesmo quando tudo corre bem, às vezes demora um bocadinho a entrar neste papel “gigantósmico” que é ser mãe. E não faz mal.
Lembro-me de estranhar tanto quando comecei a ouvi-las a chamar-me mãe. Mãe para mim era a minha Mãe! É uma transformação tão, tão grande na nossa vida que é impossível que se faça num só dia, nunca pode ser num único “momento cinematográfico”. Decididamente dou a mim mesma os parabéns por ter sobrevivido naquele dia, porque se há coisa que aprendemos com a maternidade é que há dias em que apenas sobreviver já é espetacular!
Obrigada por me ajudar há dez anos a ser mãe!
No Birras de Mãe, uma avó/ mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, vão diariamente escrever-se, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram