Covid-19: Irão encerra jornal que contestou número de casos oficiais
O epidemiologista Mohammad Reza Mahboobfar denunciou que o número real de casos de covid-19 pode ser 20 vezes superior aos oficiais e que o primeiro caso foi detectado um mês antes do anúncio do primeiro registo oficial. Acusa o Governo de “desenhar estatísticas”.
As autoridades iranianas encerraram esta segunda-feira o jornal Jahane Sanat depois de este ter publicado um artigo em que um epidemiologista contestava o número oficial de casos de covid-19 no país. O especialista garantia que o número real de infectados pode ser 20 vezes superior ao oficial e que o primeiro caso foi detectado um mês antes do anúncio do primeiro registo oficial.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As autoridades iranianas encerraram esta segunda-feira o jornal Jahane Sanat depois de este ter publicado um artigo em que um epidemiologista contestava o número oficial de casos de covid-19 no país. O especialista garantia que o número real de infectados pode ser 20 vezes superior ao oficial e que o primeiro caso foi detectado um mês antes do anúncio do primeiro registo oficial.
As autoridades iranianas não gostaram da notícia, que citava o epidemiologista Mohammad Reza Mahboobfar, e resolveram suspender o jornal fundado em 2004 e dedicado a assuntos económicos.
“Acredito que os números anunciados pelo Ministério da Saúde sejam um vigésimo da realidade”, disse o epidemiologista que fez parte equipa do Governo para a crise de coronavírus. “As autoridades recorreram ao secretismo por razões políticas e de segurança”, continuou, referindo que “desenharam estatísticas” e atrasaram o anúncio do primeiro caso por causa das celebrações do aniversário da Revolução Islâmica de 1979 e das eleições legislativas de Fevereiro.
A reacção às declarações de Mahboobfar não se fizeram esperar e a porta-voz do Ministério da Saúde iraniano, Sima Sadat Lari, rejeitou as acusações. “O Ministério da Saúde não é um órgão político e a saúde do povo é a sua principal prioridade”, disse, citada pela Associated Press.
O Irão tem até esta segunda-feira mais de 326 mil casos confirmados e mais de 18 mil mortes, das quais 189 nas últimas 24 horas, de acordo com a contagem da Universidade Johns Hopkins. O Irão é o país do Médio Oriente com mais casos.
Nos primeiros meses da pandemia, entre Março e Maio, o Irão viveu uma situação descontrolada de novos casos e as autoridades foram duramente criticadas pela falta de capacidade em evitar a propagação do coronavírus, bem como em socorrer todos os pacientes. O Governo foi acusado de desvalorizar a ameaça e de ser incapaz de impor comportamentos restritivos à população.
Há meses que circulam rumores de que os números reais da pandemia serem bem maiores que os oficiais, entre cinco a 20 vezes superiores, e o ministro da Saúde iraniano chegou a admitir o descontrolo da situação no país ao dizer em Março que a covid-19 estava a matar um iraniano a cada dez minutos e a infectar outros 50 a cada hora.
O Governo, que já se confrontava com uma dura crise económica, estendeu a mão aos Estados Unidos para que estes levantassem as sanções económicas, impostas depois da saída unilateral de Washington do acordo nuclear de 2015. O pedido foi recusado e a Administração americana reafirmou a vontade de continuar a seguir a estratégia de “pressão máxima”, mesmo em tempos de pandemia.