Beirute revolta-se, Macron alerta: “O futuro do Líbano está em jogo”
Líderes mundiais comprometem-se a ajudar financeiramente o país, mas exigem reformas. Dois ministros libaneses demitiram-se e há mais confrontos entre manifestantes e polícias nas ruas da capital.
Pelo segundo dia consecutivo, as ruas próximas da Praça dos Mártires e da Praça do Parlamento, em Beirute, encheram-se de milhares de pessoas a exigirem a demissão imediata do Governo do Líbano, a quem atribuem as culpas pela enorme explosão de terça-feira e pela corrupção generalizada no país. Os protestos tornaram-se violentos ao início da noite, com confrontos entre manifestantes e as forças de segurança, que usaram gás lacrimogéneo para dispersar os revoltosos que tentavam invadir o Parlamento e vários ministérios.
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Pelo segundo dia consecutivo, as ruas próximas da Praça dos Mártires e da Praça do Parlamento, em Beirute, encheram-se de milhares de pessoas a exigirem a demissão imediata do Governo do Líbano, a quem atribuem as culpas pela enorme explosão de terça-feira e pela corrupção generalizada no país. Os protestos tornaram-se violentos ao início da noite, com confrontos entre manifestantes e as forças de segurança, que usaram gás lacrimogéneo para dispersar os revoltosos que tentavam invadir o Parlamento e vários ministérios.
Face aos tumultos da véspera, que fizeram um morto e mais de 100 feridos, o primeiro-ministro Hassan Diab anunciou que vai formalizar na segunda-feira, junto dos restantes ministros, um pedido eleições antecipadas, a realizarem-se daqui a dois meses.
Este domingo, a ministra da Informação, Manal Abdel Samad, e o ministro do Ambiente, Damianos Kattar, apresentaram a demissão. Abdel Samad pediu “desculpa aos libaneses” e justificou a decisão com a incapacidade do Governo para fazer as reformas necessárias para ultrapassar a crise e com a explosão que transtornou a capital. “Não correspondemos às vossas expectativas”, assumiu.
Horas antes, Emmanuel Macron dava o pontapé de saída numa conferência virtual, com líderes políticos de todo o planeta e representantes das principais organizações mundiais, e pedia à comunidade internacional uma resposta “rápida e eficiente” na coordenação das ajudas ao Líbano, abalado pela forte explosão no porto de Beirute, que matou mais de 150 pessoas, feriu perto de seis mil e deixou quase 300 mil sem tecto.
No final do evento foi divulgado um comunicado conjunto, no qual se garantia esse apoio urgente, mas onde se exigiam “reformas”, “eficiência” e “transparência” à classe política libanesa. “A ajuda será pontuada, suficiente e consistente com as necessidades da população libanesa”, refere o comunicado, que não estabelece, no entanto, qualquer montante financeiro e prefere a expressão “recursos importantes”.
Ainda assim, o Presidente francês revelou que, juntando todas as contribuições prometidas pelos vários países e organizações, será possível doar 252,7 milhões de euros ao Líbano, para as necessidades humanitárias mais urgentes.
Organizada por Macron, em conjunto com as Nações Unidas, a videoconferência contou com representantes do Líbano, Espanha, Itália, Dinamarca, Grécia, Suécia, Alemanha, Reino Unido, Qatar, Jordânia, Egipto, Arábia Saudita, China, Japão e Brasil, entre chefes de Estado, primeiros-ministros ou ministros. Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, foi um dos participantes.
Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Cruz Vermelha e Banco Europeu de Investimento foram algumas das organizações internacionais representadas.
Na sua intervenção, o Presidente Macron – que foi o primeiro líder estrangeiro a visitar Beirute depois da explosão e que tem liderado os esforços internacionais de apoio ao antigo território francês no Médio Oriente – exigiu responsabilidades aos representantes políticos libaneses, que foram alvo da fúria dos milhares de manifestantes que exigem “a queda do regime”.
“Cabe às autoridades do país agirem para que [o Líbano] não se afunde e responderem aos anseios que a população libanesa está a expressar, legitimamente, nas ruas de Beirute”, disse Macron. “Temos de trabalhar em conjunto para garantir que nem a violência, nem o caos, prevalecem. É o futuro do Líbano que está em jogo”.
Corrupção preocupa
A grande curiosidade sobre a conferência virtual era perceber qual o estado de compromisso dos países representados com a causa e como se conjuga a sua vontade de ajudar o Líbano, com equipamento, pessoal médico e de segurança e, principalmente, assistência financeira, com a crise de confiança da própria população libanesa em relação à sua classe governante, que teria a responsabilidade de gerir esses apoios.
Na sua visita à capital libanesa, dois dias depois da explosão, o próprio Macron prometeu a um grupo de cidadãos que o abordaram na rua, que a ajuda francesa não iria “parar a mãos corruptas”.
Segundo as estimativas da ONU, referidas pela France 24, o Líbano precisa de 66,3 milhões de dólares (cerca de 56 milhões de euros) no imediato, para responder às necessidades humanitárias decorrentes da catástrofe – serviços de saúde, abrigo para os desalojados, alimentação e programas de “contenção da propagação da covid-19”.
Num segunda fase, prevê a organização mundial, serão necessários mais 50,6 milhões de dólares, para ajudar à reconstrução ou recuperação das principais infra-estruturas danificadas pela explosão, bem como das habitações privadas.
Este domingo a Comissão Europeia decidiu somar mais 30 milhões de euros aos outros 33 milhões que já tinha prometido na sexta-feira ao Líbano. França (50 milhões de euros), Alemanha (20 milhões de dólares), Kuwait (41 milhões de dólares) e Qatar (50 milhões de dólares) também prometeram assistência financeira.
Estes milhões destinam-se apenas às necessidades urgentes, já que as estimativas oficiais do Governo libanês falam em 15 mil milhões de dólares de prejuízos e um rombo calculado de 25% do PIB, escreve a Reuters.
O Presidente francês disse ainda que a oferta de assistência ao Líbano também inclui uma investigação independente às causas do desastre, que terá tido origem na explosão de 2750 toneladas de nitrato de amónio, que estavam armazenadas há seis anos no porto de Beirute, sem supervisão, depois de o navio que as transportava ter sido arrestado.
Na véspera, o Presidente do Líbano, Michel Aoun, afastou essa possibilidade, dizendo que uma investigação internacional iria “diluir a verdade”.