O mundo arde. E o Ocidente não vê

Notre monde brûle/Our world is burning, exposição no Palais de Tokyo, em Paris, em colaboração com o Arab Museum of Modern Art (Doha), aborda a nossa relação com a Terra, a crise ecológica, a crise socio-política e a crise ética e humanitária. Mas, simultaneamente, levantou a suspeita de subalternização de um espaço público da arte contemporânea aos interesses políticos do Qatar, que não é uma democracia. Vinda do Oriente, esta exposição revela o que o Ocidente não quer ver.

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O mapa político do mundo encontra-se num processo de transformações imprevisíveis onde as catástrofes naturais, as alterações climáticas e as migrações maciças participam como detonadores de novas dinâmicas associadas ao governo da Terra. A razão moderna no Ocidente parece ter perdido a capacidade agregadora em torno do valor do progresso. E a impotência política traduz-se, não raras vezes, em formas de violência internacional. Assistimos a um manifesto problema de imaginação no Ocidente, imaginação que o guie na descoberta do seu real lugar — mais igualitário na proporção do empobrecimento — no concerto das nações e o fundamento das suas instituições. São dias em que o chão da Europa se fende entre as hostes de eufóricos e as fileiras de nostálgicos, os movimentos progressistas e as ordens nacionalistas, onde o que é tradicional aspira a triunfar sobre o desalinho do novo e as formas ditas de vanguarda tropeçam em si próprias ou pedem socorro às fórmulas do espectáculo.