Há portugueses a modificar armas em casa, a transaccionar online e a receber por correio
O director do Departamento de Armas e Explosivos da PSP explicou ao JN que as armas chegam a Portugal através de “uma empresa de correio expresso/transportador internacional de mercadorias”.
O cenário relatado no Estudo Global de Tráfico de Armas do gabinete das Nações Unidas Contra a Droga e o Crime, de 2020, indica que Portugal é um dos países da Europa em que mais se modificam armas, que os portugueses terão conhecimentos e equipamento para o fazer em casa e que foram registadas, no país, transacções ilegais com origem na União Europeia conduzidas pela Internet aberta ou pela dark web. E ainda aponta um lugar de liderança, no contexto europeu, na apreensão de armas em contexto de tráfico de droga.
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O cenário relatado no Estudo Global de Tráfico de Armas do gabinete das Nações Unidas Contra a Droga e o Crime, de 2020, indica que Portugal é um dos países da Europa em que mais se modificam armas, que os portugueses terão conhecimentos e equipamento para o fazer em casa e que foram registadas, no país, transacções ilegais com origem na União Europeia conduzidas pela Internet aberta ou pela dark web. E ainda aponta um lugar de liderança, no contexto europeu, na apreensão de armas em contexto de tráfico de droga.
“Os traficantes também usam métodos nos quais o seu envolvimento físico é reduzido e que são vistos como menos arriscados. O email foi reportado como estando a ser usado por traficantes de armas na Albânia, Eslováquia e Lituânia. Em alguns países, os traficantes usaram a Internet aberta ou a dark web para o tráfico de armas. Tal inclui Eslováquia, Espanha, Líbia e, em particular, Portugal, onde foram detectadas transacções ilegais com origem na União Europeia conduzidas pela Internet ou pela dark web”, lê-se no estudo, consultado pelo PÚBLICO.
O relatório aponta ainda a existência de situações relativas a modificações de armas e alterações na marcação, também significativas em Portugal: “As alterações na marcação das armas também foram significativas na Europa: Espanha e Portugal estão entre as regiões em que tal é mais elevado, registando respectivamente 2322 e 1275 armas com alterações.”
Mas não só. O documento destaca também, em Portugal, “a conversão de armas de calibre 6.35 mm em armas de fogo, bem como a modificação de espingardas de caça cujos canos foram cortados”, apontando ainda indícios da existência de “cidadãos portugueses com conhecimento e equipamento suficientes para modificar” ou “adaptar armas em casa”. Mais: Portugal registou também “algumas apreensões de armas Flobert que entraram ilegalmente em Portugal pela Eslováquia.”
O relatório indica também que, em Portugal, foram apreendidas quantidades significativas de armas no contexto de tráfico de droga: “Na Europa, quantidades dignas de nota foram apreendidas no contexto de tráfico de droga em Portugal (668 em 2016-2017), Espanha (538) e, em termos relativos, na Albânia (146 em 963). A Dinamarca e a Suécia estão entre os países na Europa com as percentagens maiores de armas apreendidas ligadas a crimes violentos (13% na Dinamarca e 8% na Suécia).”
O tema faz manchete do Jornal de Notícias, nesta sexta-feira, noticiando que “criminosos portugueses recebem armamento pelo correio”. Ao JN, o superintendente Pedro Moura, director do Departamento de Armas e Explosivos da PSP, explicou que “as armas [chegam a Portugal] por uma empresa de correio expresso/transportador internacional de mercadorias, que as trazem em encomendas postais ou encomenda normal, expedida pelo armeiro na Eslováquia, após ter sido adquirida e paga na Internet”. O responsável diz, no entanto, que subsistem casos em que “os próprios compradores se deslocam à Eslováquia, fazem a sua aquisição e trazem as armas consigo ou nas suas viaturas”. E acrescenta que, de qualquer forma, as armas acabam por ser transformadas e “vendidas a grupos criminosos, nacionais e estrangeiros”.
Pedro Moura refere ainda ao jornal que o Banco de Provas português, que começou a ser construído em Julho, em Viana do Castelo, avaliado em 2,4 milhões de euros e previsto para o próximo Verão, contribuirá para combater o tráfico de armas, uma vez que aumentará a informação nas bases de dados, ajudando no rastreio das armas.