Azeméis cria trilhos de caminhada, corrida, BTT e trail em quinta com ruínas de mansão
Na Quinta do Comandante, Parque do Cercal, os novos trilhos de Oliveira de Azeméis “focam-se na saúde física e na valorização da natureza”.
A Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis inaugura hoje três trilhos circulares para caminhada ou corrida, BTT e trail running na Quinta do Comandante, numa envolvente que inclui desde mata densa a ruínas de uma mansão.
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A Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis inaugura hoje três trilhos circulares para caminhada ou corrida, BTT e trail running na Quinta do Comandante, numa envolvente que inclui desde mata densa a ruínas de uma mansão.
Envolvendo um extenso território dominado por floresta, a propriedade acolhe há vários anos o campus da Escola Superior Aveiro Norte, gerida pela Universidade de Aveiro, e passa agora a incluir também três rotas específicas para adeptos do desporto e da natureza.
Com a definição dos percursos, o objectivo da autarquia, liderada pelo PS, é oferecer aos residentes do concelho e aos seus visitantes “alternativas de actividade física num espaço diferente daqueles a que estão habituados” – o cenário integra as ruínas da mansão que ficou, em meados do século XX, na posse do aviador naval João Paes Baptista de Carvalho, natural de Ponte de Sor e comandante da Marinha Portuguesa.
Agora, os denominados Trilhos do Comandante focam-se na saúde física e na valorização da natureza, apelando à preservação da fauna e da flora locais com recurso a três circuitos circulares identificados numa brochura própria: um de 16 quilómetros e dificuldade reduzida para marcha e corrida, outro de 2,1 quilómetros específico para bicicletas todo-o-terreno e complexidade média, e um terceiro de 3,2 quilómetros no formato mais exigente do trail running.
Dada a paisagem essencialmente florestal desses trajectos, a autarquia aconselha a que sejam percorridos apenas durante o dia e por maiores de 16 anos (excepto quando acompanhados por adultos), e nota que está proibido o acesso às ruínas da mansão.
É esse edifício, afinal, que há décadas vem alimentando o imaginário de cidadãos locais e forasteiros, motivando referências em vários meios ligados à valorização de espaços abandonados e com reputação de habitados por fantasmas.
Na sinopse do livro Lugares abandonados de Portugal, por exemplo, a autora Vanessa Fidalgo destaca a história da Quinta do Comandante, referindo que “poucos lugares esquecidos no país têm uma história tão tragicamente romântica” quanto esta propriedade, que inspira um leque de narrativas em que umas são “certamente romanceadas pela paixão popular, outras mais próximas da realidade”.
Pelo meio, há ainda “rumores de que uns certos fantasmas habitam o local”, mas, de acordo com o testemunho de antigos serviçais da família do comandante, uma das versões mais correntes é a que apresenta “contornos shakesperianos”.
A autora do livro explica: “Ainda há quem jure lembrar-se de D. Eugénia, a bondosa e lindíssima mulher do comandante, que terá sofrido um fatal acidente ao cair na escadaria principal da casa, acabando por morrer. Baptista de Carvalho nunca se recompôs da morte da sua eterna amada. Com o passar dos anos, o luto não acalmou a dor e foi fazendo danos na sanidade mental do comandante. [...] Certa noite, convidou todos os seus melhores amigos e familiares para um lauto jantar. A meio do banquete, porém, levantou-se da mesa e dirigiu-se ao seu quarto, onde pegou num revólver e se suicidou, para espanto e terror de todos os presentes que, sem o saberem, tinham sido convidados não para uma festa, mas sim para o derradeiro adeus do comandante”.
O suicídio ter-se-á verificado no Porto, mas isso não impede a aura de mistério atribuída à antiga residência de Oliveira de Azeméis, que, ainda segundo a obra editada pela Esfera dos Livros, era reputada como uma das casas mais luxuosas da região e, nos seus tempos áureos, constituía “quase uma casa-museu”.
“Tinha uma variedade de peixes marinhos que o comandante trazia [das suas viagens]”, bem como “animais embalsamados por todo o lado”, refere a descrição de Vanessa Fidalgo, mencionando ainda “colecções muito bonitas” de quadros, paredes e tectos exibindo “flores e animais aquáticos” pintados pelo pai do comandante, uma série de originais da Fábrica de Loiças das Caldas adquiridos pelo sogro do aviador naval e um rol de material bélico, como espingardas, pistolas, revólveres e outras armas e munições antigas.
Desafios de Azeméis
De 5 Setembro a 10 de Outubro, o município vai promover três desafios: Um Rio muitos Moinhos, 75 Km OAZ e o Trilhos do Comandante. Os três em autonomia, sendo os primeiros dois com percursos fitados e disponibilização de Track GPS, o terceiro a correr ou de bicicleta em percursos sinalizados. Os desafios realizam-se “no dia e hora à escolha de cada participante de acordo com especificidades a anunciar brevemente”, informa-se. A participação gratuita e com inscrição obrigatória. Mais informações no Centro Municipal Marcha & Corrida de Oliveira de Azeméis (Facebook).