Mais um alerta: espécies que podem provocar doenças como a covid-19 prosperam com a destruição de habitats

A destruição dos ecossistemas naturais provocada pelo ser humano favorece espécies de vertebrados mais prováveis de causar doenças como a covid-19, mostra estudo publicado na Nature. O número de roedores e morcegos aumentou em locais largamente dominados pelo ser humano.

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Bruno Kelly/Reuters

Sabemos que a destruição de habitats naturais é uma das principais causas da extinção de espécies. Mas uma equipa de investigadores quis perceber se, ao avançar sobre florestas, prados e desertos para construir cidades e preencher os desejos de uma população cada vez maior, o ser humano estaria também a criar as condições perfeitas para que populações de outras espécies se desenvolvessem — animais que transportam agentes capazes de criar doenças como a covid-19 em humanos. 

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Sabemos que a destruição de habitats naturais é uma das principais causas da extinção de espécies. Mas uma equipa de investigadores quis perceber se, ao avançar sobre florestas, prados e desertos para construir cidades e preencher os desejos de uma população cada vez maior, o ser humano estaria também a criar as condições perfeitas para que populações de outras espécies se desenvolvessem — animais que transportam agentes capazes de criar doenças como a covid-19 em humanos. 

A equipa concluiu que a destruição de ecossistemas selvagens aumenta o número de vertebrados como morcegos e ratos, ao mesmo tempo que diminui o número de animais não-hospedeiros. Os danos beneficiam as populações de animais hospedeiros de zoonoses, que aumentaram mais de duas vezes e meia quando comparadas com habitats intactos. Além de aumentarem em número de indivíduos, estes animais também são mais prováveis de hospedarem um número maior de agentes patogénicos, incluindo patógenos que podem infectar humanos. O estudo foi publicado na Nature, a 5 de Agosto. É liderado por Rory Gibb e co-escrito por outros investigadores do Departamento de Genética, Evolução e Ambiente da University College London.

Depois de analisarem quase sete mil comunidades ecológicas e 376 espécies de hospedeiros em seis continentes, os investigadores dividiram as espécies entre “perdedores”, quase sempre animais de grande dimensão que requerem uma alimentação e um habitat altamente específico, como rinocerontes, e “vencedores”, animais comparativamente adaptáveis, pequenos e abundantes, que têm vidas curtas e muitas crias em pouco tempo. Globalmente, “os vencedores são muito mais prováveis de albergarem patógenos (agentes causadores de doença) dos que os perdedores”.

Ou seja, ao destruir o mundo natural, “o ser humano está inadvertidamente a aumentar a probabilidade de transmissão de zoonoses, doenças infecciosas provocadas por agentes patogénicos que ‘saltam’ de animais selvagens para o ser humano”, concluem os cientistas que analisam o estudo no blogue da Nature. Além da covid-19, provocada pelo vírus Sars-CoV-2, são exemplos outros vírus Sars e o HIV, Zika e Nipah.

O estudo é o mais recente alerta para a verdadeira causa de pandemias como a da covid-19: a destruição crescente do mundo natural. Os seres humanos já alteraram mais de metade da terra habitável no planeta e é esperado que esta área continue a aumentar com o crescimento da população humana. Outros estudos, especialistas, as Nações Unidas e a Organização Mundial da Saúde já tinham alertado para a importância de proteger e investir na natureza para prevenir pandemias mais letais que a que agora vivemos. “Há apenas uma espécie responsável pela pandemia de covid-19 – nós”, concordam especialistas em biodiversidade. Um relatório recente estimou que seriam apenas necessários 2% dos custos da crise provocada pela covid-19 para prevenir novas pandemias na próxima década.

Vigiar potenciais agentes patogénicos pode ser mais importante em zonas dominadas pelo ser humano, sugere o estudo. No blogue da Nature, os cientistas salientam outra virtude do artigo agora divulgado: corrigir a ideia de que a natureza selvagem é a principal causa de zoonoses. “As maiores ameaças surgiram em áreas naturais convertidas em áreas urbanas, terras de cultivo e pastos”, alertam.